O cancelamento repentino da primeira edição oficial da Festa do Orgulho Gay em Ouro Branco, na região Central de Minas Gerais, gerou repercussão negativa e cobrança direta ao prefeito Sávio Fonte por parte dos vereadores do município. O evento, que seria realizado com recursos deliberados pelo Fundo Municipal de Cultura, no valor de R$ 50 mil, no dia 28 de junho, chegou a ser divulgado de forma oficial nas redes sociais da própria Prefeitura de Ouro Branco, como uma iniciativa inédita em prol da inclusão, respeito e valorização da diversidade de gênero. No entanto, dias depois, a festa foi cancelada de forma abrupta e unilateral, sem qualquer justificativa pública, o que causou frustração e indignação em setores da sociedade.
A comunidade LGBTQIAPN+ local, que esperava com entusiasmo a realização do evento, considerou o cancelamento como um retrocesso e um sinal de desprestígio às pautas de diversidade. Grupos ativistas e moradores fizeram publicações nas redes sociais cobrando posicionamento e respeito às decisões já aprovadas por meio de editais culturais e com recursos garantidos. Na semana passada, representantes do movimento usaram a tribuna da Câmara para protestar contra a medida da prefeitura, classificando a decisão como “homofóbica” e cobraram informações e mais transparência.
Diante da polêmica, vereadores cobraram explicações formais do prefeito Sávio Fonte durante sessão na Câmara Municipal. Segundo os parlamentares, é inadmissível que uma decisão como essa seja tomada sem diálogo com os organizadores e sem qualquer esclarecimento à população.
Os vereadores também destacaram que o evento havia sido aprovado em caráter oficial, com recursos já destinados via edital público, e que a decisão do cancelamento pode configurar quebra de compromisso institucional com as políticas culturais da cidade.
A expectativa agora é que a Prefeitura se manifeste oficialmente sobre o caso e esclareça os motivos reais que levaram ao cancelamento do evento, considerado histórico para o município e importante para o reconhecimento e a luta por direitos da população LGBTQIAPN+. Até o fechamento desta matéria, a Prefeitura de Ouro Branco ainda não havia se pronunciado oficialmente sobre o cancelamento nem sobre a possibilidade de remarcação do evento em nova data.
Protestos
O Vereadora Bruna D’Ângela criticou o cancelamento do evento e cobrou informações a prefeitura. Ela citou que a medida do prefeito ganhou mídia nacional no site Mída Ninja. “Infelizmente nossa cidade é vista como mau exemplo”.
“Um clima de frustração e indignação toma conta do movimento social LGBTQIAPN+ e da cena cultural de Ouro Branco. A Prefeitura Municipal cancelou abruptamente o evento oficial em comemoração ao Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, marcado para o próximo dia 28 de junho, alegando falta de recursos. A decisão, tomada na semana passada, surpreendeu os organizadores João Faioli e Fabrício Fernandes, também artistas locais, pois o evento estava com data, local e horário definidos, com recursos garantidos pela Secretaria de Cultura, por meio do Fundo de Cultura, que é assegurado pela Lei 1.883, de 28 de novembro de 2011, e já se encontrava na fase de chamamento público para seleção de artistas.
De acordo com representantes do movimento social local, o evento foi minuciosamente planejado em conjunto com o Conselho de Cultura no dia 20 de maio de 2025, em reunião que estabeleceu o compromisso de apoiar e financiar a celebração. A data simbólica do dia 28 de junho foi escolhida, o local já havia sido combinado, o recurso destinado e o evento estava em fase de chamamento público, quando, simplesmente, o edital foi retirado do ar pela Prefeitura. O movimento social não foi informado oficialmente sobre o cancelamento. O motivo apresentado foi direto: a cidade estaria “sem recursos” e, por motivos políticos, não realizaria mais o evento.
A falta de uma comunicação clara e transparente da Prefeitura sobre as reais razões do cancelamento e sobre eventuais planos alternativos para marcar a data, conforme exige a lei municipal, tem ampliado a desconfiança e o mal-estar.
Até o fechamento desta matéria, aguardava-se um parecer oficial da Prefeitura, uma vez que o Conselho Municipal mantém sua decisão de direcionar o recurso e apoiar o evento.
O que resta
O cancelamento do evento do Dia do Orgulho em Ouro Branco deixa um vazio na agenda de celebração da diversidade da cidade e levanta sérias questões sobre o compromisso da gestão atual com os direitos LGBTQIA+, com o cumprimento de suas próprias leis e com a transparência nos acordos estabelecidos com a sociedade civil. Enquanto a Prefeitura se mantém em silêncio, a revolta e a busca por explicações concretas continuam a crescer entre os movimentos sociais e a população que esperava celebrar a data.
- Val Andrade