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Suspeita de abuso infantil em Lafaiete: advogado rompe o silêncio, denuncia ataques e pede Justiça; defesa diz que não há provas e contesta denúncia

O caso de uma criança de seis anos, morador de Conselheiro Lafaiete, que teria sido vítima de abuso sexual durante uma consulta médica, há cerca de 40 dias, mobilizou a cidade e provocou indignação em toda a região. O episódio, que ocorreu em um centro de saúde particular, resultou na prisão em flagrante — posteriormente liberado por decisão judicial. Na segunda-feira (4), o suspeito foi preso, por ordem judicial, em Juiz de Fora, após ação articulada entre as equipes policiais responsáveis pelo caso. O médico foi detido no Ceresp de Juiz de Fora. A Justiça já aceitou a denúncia e o processo corre na vara criminal do Fórum de Lafaiete e médico foi indiciado.

Nesta quarta-feira (7), o advogado da família da criança decidiu romper o silêncio e se manifestar oficialmente, através de Felipe Rodrigues Pires (foto). Em entrevista ao CORREIO DE MINAS, a defesa rebateu especulações, respondeu a questionamentos e fez um apelo pela proteção da infância e pelo fim do silêncio que ainda cerca crimes de violência sexual contra crianças.

Segundo o advogado, a família levou o caso adiante movida pelo desejo de justiça e pelo compromisso com a verdade. “Mesmo diante de ataques, julgamentos apressados e tentativas de desacreditar a vítima, a família se manteve firme, consciente de que silenciar seria compactuar com a violência”, afirmou Felipe Rodrigues Pires. Segundo ele, existe o desejo pela justiça e pelo compromisso com a verdade.

A denúncia, conforme relata a defesa da família, foi acolhida com seriedade desde o início. A Polícia Militar foi acionada no mesmo dia dos fatos, e, em sequência, o caso foi acompanhado por profissionais do Conselho Tutelar, equipe multidisciplinar de acolhimento, Polícia Civil e Ministério Público. “Não houve omissão. Houve prontidão, sensibilidade e respeito por parte das instituições envolvidas”, reforçou o advogado.

Apesar do amparo institucional, os impactos emocionais foram devastadores. De acordo com Felipe Rodrigues Pires, os familiares enfrentaram momentos de extrema dor e vulnerabilidade, agravados pela exposição pública e por discursos que tentaram relativizar ou banalizar o sofrimento da criança. Para lidar com as consequências do trauma, a família buscou acompanhamento psicológico especializado. Desde os primeiros dias, profissionais capacitados têm trabalhado para oferecer suporte à criança, com foco na reconstrução emocional e na preservação da dignidade da vítima.

“A violência sexual não se encerra no ato em si. Ela projeta sombras sobre o desenvolvimento emocional, psicológico e social de uma criança. É preciso compreender isso com seriedade. O que está em jogo é a infância, é o direito de crescer sem medo”, declarou o advogado.

A defesa também alertou para a necessidade de transformar a maneira como a sociedade encara denúncias dessa natureza. “É urgente abandonar o discurso da dúvida automática que recai sobre quem denuncia. As vítimas precisam ser ouvidas com empatia e acolhimento — não colocadas no banco dos réus”, enfatizou Felipe Rodrigues Pires.

Sobre o sistema de proteção à infância, o advogado reconheceu o preparo e a atuação técnica dos profissionais diretamente envolvidos no caso, mas apontou que a mudança mais urgente é cultural: “A proteção da infância exige uma postura ativa de toda a sociedade. Não basta esperar que as instituições façam sua parte — é preciso romper o ciclo da omissão”.

A nota ainda deixou uma mensagem direta a mães, pais e responsáveis que enfrentam situações semelhantes: “Denunciar é um ato de coragem, de amor e de justiça. O medo é legítimo, mas não pode paralisar. Nenhuma criança deve carregar sozinha o peso de uma violência. E nenhuma família precisa enfrentar isso isoladamente. As redes de apoio existem, e funcionam.”

Quanto ao desfecho do processo, a expectativa da família é clara: que a verdade prevaleça e que a justiça seja feita com responsabilidade e sensibilidade. “Mais do que buscar punição, a família deseja o reconhecimento da dor vivida e medidas concretas para evitar que novas vítimas sejam silenciadas. A justiça precisa ser acessível a todos, independentemente da posição social de quem está sendo investigado”, disse o advogado.

Por fim, a manifestação da família reforçou que o caso não deve ser visto como episódio isolado, mas como um alerta coletivo. “Quando uma criança sofre, toda a sociedade tem o dever de reagir. Negar ou minimizar essa dor é perpetuar o abuso. Que esse caso sirva como um divisor de águas”, concluiu Felipe Rodrigues Pires. “Que este caso inspire mudanças, provoque reflexões e fortaleça os caminhos da escuta, da empatia e da justiça. Porque nenhuma dor deve ser invisível, e nenhuma voz deve ser silenciada. Sabemos que há um caminho longo até o fechamento do caso e uma eventual condenação, mas estamos certos da verdade e confiamos plenamente na competência dos profissionais e autoridades envolvidos. Que a condição social ou econômica jamais seja usada como escudo para a escalada de violências e atos indignos. A dignidade humana precisa ser respeitada em todos os contextos”, encerrou a entrevista.

Defesa de pediatra preso contesta acusações e diz que não há provas de abuso

A defesa do pediatra investigado por suspeita de abuso sexual contra uma criança de 6 anos, durante consulta em Lafaiete, contestou a legalidade da prisão preventiva e afirmou que não há provas materiais que sustentem as acusações. O médico, de 34 anos, foi detido no início da semana em Juiz de Fora, cidade onde reside, por ordem da Justiça mineira. O advogado Roney Alexandre de Almeida Neto (foto) afirma que a prisão foi decretada com base em fundamentos legais como a garantia da ordem pública, mas sem qualquer juízo de culpa ou evidência conclusiva.

“A prisão preventiva tem caráter cautelar, não condenatório. A defesa reafirma que não há qualquer indício de violência, nem materialidade do suposto crime. Trata-se de uma medida extrema, adotada sem que existam provas concretas”, afirmou o criminalista.

Ainda segundo a defesa, o médico tem mais de uma década de atuação na pediatria sem registros de infração ética ou judicial. A equipe jurídica também contesta a narrativa da denúncia, alegando que os procedimentos adotados durante o atendimento seguiram padrões técnicos da medicina.

O processo já tramita na primeira vara criminal e está sob segredo de Justiça. A Polícia Civil ainda trabalha na coleta de depoimentos, exames periciais e outras diligências. O inquérito foi aberto após denúncia feita pela mãe da criança, que relatou alteração no comportamento do filho logo após a consulta médica realizada em uma unidade da Unimed, no dia 24 de junho.

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