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Feira Mineira do Livro em Lafaiete é palco de entrega histórica de dossiê para título de Patrimônio da Humanidade

A cidade de Conselheiro Lafaiete, berço de relevância histórica inestimável para Minas Gerais, viveu dias de efervescência cultural e protagonismo político nos dias 8 e 9 de novembro de 2025. Durante a realização da Feira Mineira do Livro (FML), evento que já se consolida como um dos principais vetores de fomento literário e artístico da região, ocorreu um ato de profundo simbolismo estratégico para o futuro do município. Em meio à celebração da literatura, a cerimônia de abertura foi marcada pela entrega oficial e pública do Dossiê de Candidatura para a concessão do título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, um documento que promete redefinir a posição de Lafaiete no mapa cultural global.

A solenidade, carregada de emoção e responsabilidade cívica, teve como protagonistas centrais as figuras de Renato Lisboa, CEO da Feira Mineira do Livro e presidente da Academia Hispano-brasileña de Ciencias, Letras y Artes(AHBLA), e Geraldo Vasconcelos, atual Secretário de Cultura do município. Em um gesto que transcende a mera formalidade, Lisboa entregou em mãos ao representante do executivo municipal o complexo estudo técnico. O dossiê não é um simples apanhado de intenções; trata-se de um trabalho elaborado com rigor científico e jurídico, estritamente alinhado às diretrizes da “Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural” de 1972 e suas respectivas “Orientações Operacionais”. A iniciativa visa garantir que a candidatura de Lafaiete possua a robustez necessária para tramitar nas exigentes instâncias de avaliação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

O coração da candidatura reside na excepcionalidade de quatro bens culturais que, segundo a AHBLA, sintetizam a narrativa histórica única da região e possuem valor universal. O primeiro deles é a Fazenda Paraopeba, propriedade histórica ligada ao inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto, um local que respira os ideais de liberdade e as tragédias do ciclo do ouro. O segundo pilar é o imponente Solar do Barão de Suassuí, uma joia arquitetônica que remonta à nobreza e ao poderio econômico do século XIX. Soma-se a eles a Casa de Cultura Gabriela Mendonça, um espaço vital de preservação da memória e identidade local. Por fim, o dossiê abraça o patrimônio imaterial com o Patrimônio das Violas de Queluz, reconhecendo a tradição luthier e musical que ecoa nas raízes profundas de Minas Gerais. De acordo com a AHBLA, este conjunto de bens satisfaz plenamente os critérios de elegibilidade do regulamento da UNESCO, conferindo amparo jurídico sólido ao pleito, que agora aguarda a complementação com os documentos probatórios e administrativos exigidos pela entidade internacional.

Durante o ato de entrega, as falas das autoridades presentes reforçaram a urgência e a magnitude do projeto. Renato Lisboa foi enfático ao declarar que a obtenção da titulação não é apenas um reconhecimento de glórias passadas, mas uma ferramenta fundamental para o reposicionamento estratégico da cidade no cenário turístico e econômico contemporâneo. Para o presidente da AHBLA, a condução deste processo deve ser encarada como uma “prioridade absoluta da municipalidade”, uma vez que o selo da UNESCO atrairia investimentos, turismo qualificado e preservação perene. Testemunhando o momento histórico, Gustavo Mendicino, presidente da Empresa Mineira de Comunicação (EMC), endossou a iniciativa. Em sua intervenção, Mendicino recomendou expressamente que a Prefeitura de Conselheiro Lafaiete busque o apoio técnico e institucional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Segundo ele, essa parceria é crucial para fortalecer a legitimidade do pleito e assegurou que, dada a relevância dos bens apresentados, o projeto encontraria acolhida favorável junto aos órgãos federais de preservação.

O encerramento da Feira Mineira do Livro deixou no ar um sentimento misto de dever cumprido pela sociedade civil e de alta expectativa quanto aos próximos passos do poder público. A AHBLA, a organização da Feira e a comunidade lafaietense, agora mobilizada, aguardam que a Prefeitura Municipal assuma o protagonismo que lhe cabe. O apelo, embora civilizado, é firme: espera-se que o Executivo trate o pleito com a seriedade, a celeridade e a prioridade devidas. A entrega do dossiê foi o primeiro passo de uma longa jornada, mas a bola agora está com a administração municipal para transformar esse estudo técnico em uma realidade que poderá, finalmente, conceder a Conselheiro Lafaiete o reconhecimento internacional que sua rica história, seus monumentos e sua gente indubitavelmente merecem.

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