Lula inaugurou a linha do Chevrolet Spark elétrico no Ceará, cobrou montadoras, pediu carro acessível para quem produz SUVs, defendeu renda melhor e aposta no programa Carro Sustentável para destravar vendas e baixar preço médio no Brasil e aproximar novamente o carro do trabalhador
De acordo com o portal Estadão, postado na sexta-feira, 5 de dezembro de 2025, Lula transformou a inauguração da linha de montagem do elétrico Chevrolet Spark na fábrica da Pace em um palco para pressionar a indústria a entregar carro que caiba no bolso de quem trabalha. Diante de operários e executivos, o presidente assinou o modelo montado no Brasil e repetiu que quem fabrica SUV precisa conseguir comprar o próprio carro. O discurso ocorreu em um momento em que o sonho do carro próprio virou luxo para boa parte dos brasileiros. Desde 2016, o valor médio do carro saltou de R$ 70.900 para R$ 159.684 em 2025, alta de 125%, bem acima dos 63,9% da inflação. Ao mesmo tempo, o governo lançou o programa Carro Sustentável em julho deste ano e viu, em 2025, a primeira desaceleração relevante: o preço público dos veículos subiu 2,4%, abaixo do IPCA de 3,64%, enquanto os carros enquadrados no programa tiveram vendas 74% maiores que os demais em outubro.
Lula cobra que quem produz SUV consiga comprar carro
No evento de 5 de dezembro de 2025, Lula subiu o tom sobre o acesso ao carro zero quilômetro. Ao apontar para o Chevrolet Spark na linha recém-inaugurada, afirmou que “quem faz esses SUVs bonitos precisa conseguir comprá-los”, ligando diretamente a vitrine da fábrica ao bolso de quem está no chão de produção.
Ele reforçou que o primeiro foco da indústria automotiva precisa ser o brasileiro, não apenas a exportação. O país é hoje o oitavo maior mercado de veículos do mundo e deve chegar a 2,76 milhões de unidades em 2025, somando automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, segundo a Anfavea. Para o governo, produzir carro bonito não basta se ele não chega à garagem do trabalhador. O presidente também relacionou o debate sobre carro acessível à distribuição de renda.
Ao dizer que “a gente trabalha para ter acesso às coisas que a gente produz”, Lula indicou que, sem melhoria de salário e sem queda de preço, o carro tende a seguir como símbolo de exclusão, e não de mobilidade social.
Preço do carro dobrou e virou luxo em menos de dez anos
A fala de Lula se apoia em um cenário duro para quem sonha com o carro próprio.Levantamento da Bright Consulting mostra que o preço médio do carro mais do que dobrou desde 2016, saindo de R$ 70.900 para R$ 159.684 em 2025.Em termos percentuais, o salto de 125% supera com folga a inflação de 63,9% no período.O movimento não foi linear. Até 2019, os reajustes do carro eram moderados.A partir de 2020, porém, a alta se acelerou com o choque de oferta da pandemia, a desvalorização cambial, o aumento dos custos industriais e a demanda aquecida em um cenário de oferta restrita.
O carro ficou mais caro justamente quando o brasileiro tinha menos margem no orçamento, empurrando muitas famílias para o atraso ou para a desistência do sonho.Apesar disso, 2025 marca um pequeno ponto de virada. Pela primeira vez em cinco anos, o valor público dos veículos subiu menos do que a inflação. Os carros avançaram 2,4%, enquanto o IPCA foi a 3,64%.Ainda é um patamar alto e distante do bolso médio, mas o freio na escalada abre espaço para discutir se o carro pode voltar a ser projeto de vida, e não apenas vitrine de concessionária.
Carro Sustentável como vitrine da política industrial verde
Para tentar reconectar carro e poder de compra, o governo lançou, em julho deste ano, o programa Carro Sustentável, dentro da política industrial Mover, de Mobilidade Verde e Inovação.A estratégia é usar tributos como alavanca: há redução de IPI para carro nacional de entrada, com baixa emissão de CO2 e alto índice de reciclabilidade.
O objetivo declarado é tornar esse tipo de carro mais barato, puxar a produção local e acelerar a transição energética do setor automotivo. Segundo a Anfavea, o efeito apareceu rápido: em outubro, as vendas dos carros enquadrados no programa foram 74% maiores do que as dos demais veículos, um sinal de que, quando o preço ajuda, o consumidor reage.
Na visão do Planalto, o Carro Sustentável deve funcionar como laboratório para um novo ciclo de carro acessível, especialmente entre elétricos compactos como o Chevrolet Spark. A pressão de Lula sobre montadoras é para que o ganho de benefício fiscal vire redução real de preço de carro na ponta, e não apenas alívio de margem das empresas.
Ceará em rota de elétricos, SUVs e promessa de carro mais barato
A escolha do Ceará para o evento de 5 de dezembro de 2025 não é casual. O estado vem se posicionando como polo de investimentos em elétricos e SUVs, atraindo montadoras interessadas em novos projetos.
A linha do Chevrolet Spark montado no Brasil reforça a imagem de um Nordeste inserido na transição para o carro elétrico.Para o governo, concentrar investimentos em regiões que ainda têm forte demanda reprimida por carro é uma forma de atacar dois problemas ao mesmo tempo: ampliar emprego industrial e aproximar o trabalhador de um carro novo. Se a produção de carros elétricos e SUVs crescer com apoio do Carro Sustentável e do Mover, a aposta é que o aumento de escala ajude a diluir custos e empurre o preço final do carro para baixo.
Sonho do carro próprio continua em disputa
Mesmo com os primeiros sinais de desaceleração de preço e o impulso do Carro Sustentável, o carro segue distante da realidade de boa parte das famílias. O valor médio perto de R$ 160 mil ainda coloca o carro zero em um patamar de luxo, enquanto salários e crédito avançam em ritmos bem mais lentos. Ao pressionar montadoras em 5 de dezembro de 2025 e repetir que quem produz SUV precisa conseguir comprar carro, Lula tenta transformar o tema em ponto central da agenda econômica e industrial.Se a combinação entre incentivo tributário, elétricos compactos e aumento de renda será suficiente para trazer o carro de volta ao orçamento do trabalhador ainda é uma dúvida em aberto.