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Santana dos Montes: a caminho de ser o primeiro patrimônio híbrido de Minas

Dos municípios do Circuito Turístico de Villas e Fazendas, na rota da Estrada Real, Santana dos Montes possui o casario mais bem-conservado. A cidade de quase 4.000 habitantes é um charme:  a igreja no centro, a praça arborizada e cerca de 30 casas dos séculos XVII e  XVIII ao redor, entre elas o imponente casarão do casal José e Ana Maria Medina.

A chegada de nosso grupo é dada com um concerto dos músicos da Escola de Violeiros Chico Lobo, que atua desde 2005 e hoje é patrimônio imaterial da cidade. No repertório, músicas famosas como “Menino da Porteira”, de Sérgio Reis, “Calix Bento”, de Milton Nascimento e pagode, ritmo de viola desenvolvido por mestres como Tião Carreiro. Rogério de Castro, violeiro, compositor, pesquisador e professor de viola da escola, conta que o foco são as músicas caipiras regionais, de raiz, de compositores como Rolando Boldrin, Renato Teixeira, Tião Carreiro, Renato Andrade e Almir Satter.

Ele reconhece que a novela “Pantanal” tem ajudado muito na divulgação da viola enquanto expressão artística. A Escola de Violeiros, cuja orquestra representa o Estado em diversos eventos, mostra como é rica e genuína as manifestações culturais na região. Hoje, são 32 alunos, de idade entre 7 aos 70 anos, que perpetuam a tradição, inclusive há famílias inteiras. As próximas apresentações acontecem dias 27/6 em Catas Altas da Noruega e 29/7 em Antônio Carlos.

Resgate cultural

 Dentre as novidades, Santana dos Montes será a primeira cidade mineira a ser protegida por tombamento híbrido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG). Um dossiê que já em elaboração vai agregar as atividades artísticas, como a Escola de Violeiros, as  manifestações populares (folia de reis, congado) e o núcleo histórico. Segundo Adriana Couto, promotora cultural no município, é a hora estruturar o turismo na cidade. Em sua gestão à frente da secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, já foi criada uma marca de destino e um portal em construção. “Santana dos Montes precisa fazer um resgate da cultura e da valorização de nossos bens culturais”, afirma Adriana. Além do belíssimo patrimônio e das manifestações culturais,  Santana dos Montes tem em seu entorno, pelo menos, cinco hotéis-fazenda para se hospedar, entre eles da Chacará, Chales dos Montes, Fonte Limpa, da Paciência e Santa Marina. Se quiser conforto e localização privilegiada, a dica é a Pousada Solar dos Montes, no centrinho histórico. 

Hospedagem

No Solar, o casal Anamaria, 74, e José Medina, 82, oferece muito conforto e um cenário irresistível, uma verdadeira viagem no tempo, com seus móveis de época, em um misto de requinte e simplicidade. A gastronomia é um capítulo à parte: os jantares utilizam produtos locais e são harmonizados com vinhos. de 14 a 16, o solar promove o Festival de Caldos Espanhóis. 

A socióloga e viajante Anamaria também guia nosso grupo à igreja Matriz de Santana, datada de 1749, passeando pelos aspectos construtivos e o acervo imagético. Entre os destaques estão o forro pintado por Francisco Xavier Carneiro, as imagens policromadas em madeira de Sant’Ana, São Joaquim e São Francisco e a Via Sacra pintada em tecido. Ela aproveita nossa visita para revelar uma descoberta: os santos de roca — imagens vestidas com tecidos e sustentadas por armação de madeira — do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora do Triunfo, surpreenderam os restauradores ao se revelarem ocos. Suspeita-se que as imagens foram usadas outrora no contrabando de pedras preciosas. 

Anamaria ainda aconselha passar na Fazenda da Pedra, na saída da cidade. A casa-sede foi construída por escravos, em 1750, sobre uma enorme pedra. A fazenda é propriedade particular e não está aberta à visitação, mas é um resquício da arquitetura bandeirista. Ela foi posto de cobrança do Quinto do Ouro, tributo da Coroa portuguesa sobre a exploração do metal.

  • O Tempo

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