Organizado pela ONG Abrace a Serra da Moeda há 17 anos, protesto visa chamar a atenção de autoridades e população sobre a importância da defesa dos recursos hídricos e nascentes da região; expectativa é receber duas mil pessoas
No próximo domingo, dia 21, feriado nacional em celebração à Inconfidência Mineira, cerca de duas mil pessoas vão subir ao cume de uma das cadeias montanhosas mais famosas de Minas Gerais para um importante protesto ambientalista, o Abrace a Serra da Moeda. O ato simbólico, cuja concentração começa a partir das 10h, na rampa de voo livre, em Brumadinho, conhecida como Topo do Mundo, tem como objetivo chamar a atenção de autoridades e população sobre a importância da defesa dos recursos hídricos e nascentes da região, que são constantemente ameaçados por mineradoras e empreendimentos. Assim como nas edições anteriores, pontualmente às 12h é formado um cordão humano no ponto mais alto da serra, simbolizando um abraço.
Presidente da ONG Abrace a Serra da Moeda, entidade sem fins lucrativos que organiza o protesto desde 2008, o ambientalista Ênio Araújo afirma que o tema da edição deste ano, Águas subterrâneas, invisíveis, mas essenciais, visa colocar luz neste recurso essencial para a flora, fauna e comunidades locais. “Um dos mananciais subterrâneos de água doce mais importantes de Minas e que está localizado na Serra da Moeda, o Cauê, abastece os rios Paraopeba e das Velhas, duas grandes bacias responsáveis por suprir toda a região metropolitana de Belo Horizonte. Várias mineradoras vêm fazendo o rebaixamento deste aquífero, entre elas Vallourec, Vale, CSN, Gerdau e Ferro+”, denuncia.
De forma didática, o ambientalista explica que este rebaixamento ocorre com sucessivas agressões ao lençol freático das nascentes. “Para extrair o minério, as empresas mineradoras retiram água do solo para secar o terreno. Só que ao efetuarem o rebaixamento, se o nível do aquífero estiver abaixo da altura de onde estão as nascentes, a tendência é que elas sequem, o que já aconteceu com as comunidades de Suzano e Campinho, em Brumadinho. Os moradores desta última, inclusive, recebem, desde 2015, 40 mil litros diários de água, via caminhões-pipa da Coca-Cola, para abastecerem suas casas”.
Outra reivindicação dos ambientalistas da Abrace a Serra, que será uma das pautas do ato de 21/04, é a implantação do plano de manejo do respectivo monumento Natural da Mãe D’Água, criado em 2012 e considerado de grande importância ambiental para o município. Segundo Cleverson Vidigal, membro da ONG, este plano, basicamente, vai orientar o melhor uso de toda a área – que compreende dezenas de nascentes – de acordo com sua vocação ambiental.“ A implantação [do plano de manejo] estabelecerá ainda a chamada Zona de Amortecimento (ZA) que, ao contrário do que muitos pensam, não vai impedir ou congelar o desenvolvimento econômico na região, mas sim servirá para organizar esse crescimento, considerando as potencialidades do local, que, no nosso caso, são o turismo e a agricultura familiar.” Ainda conforme Vidigal, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA), órgão ligado à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Brumadinho, é o responsável pela implementação deste plano de manejo. “A informação, segundo nos foi passada pela pasta, é que até o fim do ano ele seja, de fato, colocado em prática. Vamos nos articular e fazer pressão para que isso aconteça”, completa acrescentando, ainda, que os ambientalistas também pedem a criação do monumento Natural da Mãe D’Água em âmbito estadual.
Cleverson também pontua que durante o Abrace a Serra da Moeda, os ambientalistas pretendem chamar atenção para que o Poder Público impeça a reativação da Mina da Serrinha. Localizada dentro do complexo natural da famosa cadeia montanhosa que dá nome à ONG, a mina teve suas atividades de lavra suspensas há mais de 15 anos, porém, em dezembro de 2018, a Vale adquiriu os direitos minerários do complexo e, desde então, vem fazendo uma série de ações, como adequação de estrada e das pilhas de estéril do local, além do descomissionamento da barragem de rejeito. “Atualmente ela está transportando o minério sinter feed do empreendimento, que ganhou valor econômico com o passar dos anos”, revela.
Segundo Ronald Fleischer, geólogo da ONG Abrace a Serra da Moeda, o lugar onde a Serrinha está possui relevância hídrica, espeleológica e ambiental reconhecida por diversos instrumentos de proteção, entre eles o já citado Monumento Natural Municipal da Mãe D’água. “Essa mina provocaria o rebaixamento do lençol freático e consequentemente o esgotamento da Mãe D’água e de outras nascentes da região. Isso iria afetar diretamente 10 mil famílias das comunidades Córrego Ferreira, Palhano, Recanto da Serra, Águas Claras, Jardins e Retiro do Chalé”, destaca.
Estudos técnicos demonstram ainda que a volta da mineração nesta região traria a degradação da paisagem, instabilidade da encosta da Serra, poluição sonora, crescimento urbano desordenado, emissão de poeira e colocaria em risco a sobrevivência de espécies de flora endêmicas e de fauna, atualmente ameaçadas de extinção.
Serviço
Abrace a Serra da Moeda
Quando: 21 de abril, domingo, a partir das 10h*
O abraço simbólico acontece, pontualmente, ao meio dia
Onde: rampa de voo livre no Topo do Mundo, em Brumadinho
Durante o ato haverá apresentações culturais regionais, entre elas a do Grupo Negro por Negro, que congrega artistas de quatro quilombos de Brumadinho, conhecidos por trazerem o canto e a dança de seus ancestrais afrodescendentes como forma de expressão.
*A organização do evento disponibilizará nove ônibus gratuitos para levar moradores de comunidades locais de Brumadinho e região até o Topo do Mundo, local onde acontece o abraço simbólico
Locais e horários de saída dos veículos:
21/04, às 8h10: Brumado, em frente à Igreja
21/04, às 8h10: Casinhas
21/04, às 8h10: Córrego do Feijão (Praça)
21/04, às 8h10: Moeda, em frente à estação
21/04, às 8h10: Sapé
21/04, às 8h20: Córrego de Almas (Posto de saúde)
21/04, às 8h20: Melo Franco, em frente à Igreja
21/04, às 8h20: Tejuco
21/04, às 8h20: Toca