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Produtores do Campo das Vertentes (MG) apostam no cultivo de uvas finas

Produção é possibilitada pelo emprego da Tecnologia de Dupla Poda da Videira, validada e difundida pela Epamig

A produção de vinhos finos está em expansão na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. A atividade, viabilizada pela adoção da técnica de dupla poda da videira, validada e difundida pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), tem possibilitado a colheita de uvas finas de qualidade em diferentes regiões do país. E vem mudando, rapidamente, o cenário vitícola do Estado que já conta com mais de uma centena de vitivinicultores e uma área plantada de cerca de 1000 hectares.

“Temos observado um aumento da produção em diversos municípios do Campo das Vertentes, com alguns produtores já vinificando em Tiradentes e Ritapólis, por exemplo”, afirma o pesquisador Paulo Márcio Norberto, que atua no Campo Experimental Risoleta Neves da Epamig, em São João del-Rei.

Foto: Fernando Antônio Carvalho

Na Unidade, onde antes havia apenas experimentos com uvas de mesa, há uma coleção de seis variedades de uvas finas tintas e brancas. “A Syrah é o carro-chefe, a mais vigorosa, a que melhor se adaptou às áreas de dupla poda e a que atrai o maior número de interessados”, conta o pesquisador, que acrescenta: “Temos recebido visitantes em busca de orientação para começar na atividade. É um momento crucial, quando falamos sobre investimento e tratos culturais. Vale ressaltar que a videira requer diferentes cuidados e aplicações ao longo do ciclo, e que, ainda que possa haver presença de cachos já no primeiro ano, o tempo médio de formação da planta é de três a quatro anos”.

O administrador de empresas Fernando Antônio Carvalho foi um dos que buscaram a Epamig antes de implantar o vinhedo. Morador de Belo Horizonte, ele conheceu os vinhos finos mineiros como consumidores. “Em 2019, fui com minha esposa a um restaurante português próximo da nossa casa. Pedi um vinho chileno para acompanhar o prato e o dono me sugeriu trocar por um exemplar mineiro. Fiquei surpreso: ‘vinho produzido em Minas Gerais? – ‘Sim e de excelente qualidade’. Provei e aprovei. Procurei me informar mais e fiquei conhecendo o trabalho da Epamig e a dupla poda”.

Com a pandemia veio o novo projeto. “Em 2020, com o isolamento social optamos por comprar uma área de dois hectares em Entre Rios de Minas, já com o intuito de plantar uvas finas. Em 2021, procurei a Unidade da Epamig na região, que fica em São João del-Rei, e conheci o Paulo Norberto, que me orientou na estruturação da área e na aquisição de mudas, além de me apresentar à equipe da Epamig em Caldas”.

Foto: Daniel José Rodrigues
Foto: Daniel José Rodrigues

“Plantamos 600 mudas de uvas Syrah adquiridas na Epamig. Apesar de toda a preparação, tivemos dificuldades e precisamos replantar algumas mudas no primeiro ano. Em 2023, colhemos os primeiros 80 kg de uva e produzimos, minha esposa e eu, 50 garrafas de vinho. A bebida, que oferecemos para alguns amigos, ficou bastante agradável. Faremos o mesmo processo com as uvas colhidas neste ano”, acrescenta Fernando.

A partir de 2025, a vinificação será feita na Epamig em Caldas. “Ser acolhido pela Epamig vai nos ajudar a evoluir tanto na estrutura, quanto nos processos”, afirma. O produtor planeja a expansão do vinhedo e a chegada dos vinhos da Quinta Dois Carvalhos ao mercado. “Para o próximo ano, pretendemos aumentar a área plantada e incluir novas variedades. Nosso vinhedo ocupa apenas 1500 metros da propriedade, temos margem para crescer. Também vamos investir na apresentação do nosso produto”.

Fernando integra a recém criada Associação dos Produtores de Uva e Vinho de Minas Gerais (Uva-MG). “O objetivo da Associação é oferecer possibilidades para produtores de diferentes portes. Unir esforços e fomentar a cadeia vitícola para que todos cresçam”.

Enoturismo

O Governo de Minas anunciou, no início desta semana, a intenção de estruturar a Rota dos Vinhos para fomentar o enoturismo em oito regiões produtoras no Estado. A região Campo das Vertentes é um tradicional polo turístico, que reúne atrações históricas, naturais e culturais. A produção de vinhos finos tende a ser mais um diferencial. “Não precisamos chamar turistas para a nossa região, mas podemos agregar algo mais”, aposta Dênis Gualberto de Paula, proprietário da Vinícola Gervásio Pereira, em Resende Costa.

O produtor, que é médico neurologista, conta que o interesse pela atividade começou ainda na adolescência quando o avô deu a ele uma coleção de cartas de um antepassado da família. “Descobri que meu tataravô Gervásio Pereira, filho de portugueses, produzia e comercializava vinhos aqui no município. Não tenho informações sobre o tipo e a qualidade desses vinhos, mas fiquei fascinado pelo assunto”, recorda.

Quando estava estudando em São Paulo, Dênis Gualberto conheceu a dupla poda. “Queria voltar para a minha cidade e vi ali uma oportunidade de unir um hobby a algo que poderia ser rentável. Comecei a procura pelas mudas em 2019, mas só em 2022 adquiri os primeiros exemplares das variedades Syrah e Sauvignon Blanc. Plantei metade da área de 1 (um) hectare e em setembro plantarei a outra metade”, informa.

Dênis Gualberto projeta a primeira colheita e processamento das uvas para 2025. “Espero vinificar a primeira safra, na vinícola que vou implantar aqui na minha propriedade. Busquei o apoio da Epamig para saber mais sobre a metodologia de dupla poda e sobre vinificação, e obtive o suporte arquitetônico da Emater-MG aqui do município para a elaboração da planta da edificação”, conta ele, que é sommelier, formado pela Associação Brasileira de Sommeliers do Rio Grande do Sul, e estuda enologia.

FONTE REVISTA CULTIVAR

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