O grupo Carrefour, maior varejista do Brasil, anunciou o desligamento de 2.200 funcionários em meio ao período que tradicionalmente apresenta maior demanda no varejo.
Segundo a empresa, os cortes envolvem tanto colaboradores diretos quanto indiretos, representando 1,5% do total de seus empregados, estimado em 130 mil pessoas. Apesar do impacto significativo, o grupo afirma que essas demissões fazem parte de ajustes estruturais no setor.
Por que as demissões chamam atenção
Demissões no varejo não são incomuns, mas realizá-las em um período de alta sazonalidade como o Natal é atípico. Segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), projeta-se um crescimento de 12% no consumo durante as festas de fim de ano, em comparação ao mesmo período de 2023.
Esse aumento geralmente resulta na contratação de funcionários temporários para atender à demanda. Contudo, o Carrefour, que já havia iniciado 6.000 novas contratações em outubro, seguiu na contramão do mercado. A empresa justificou os desligamentos como “um movimento natural no setor varejista”, afirmando que não prejudicará o atendimento aos clientes.
Impacto na operação e nas perspectivas do mercado
De acordo com especialistas, os cortes podem estar relacionados a mudanças estruturais no Carrefour. Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, destaca que o grupo fechou 174 lojas entre janeiro e setembro, mantendo 1.041 pontos de venda ativos. O maior impacto foi nos supermercados, que tiveram 119 encerramentos no mesmo período.
Além disso, o principal carro-chefe do Carrefour, o Atacadão, que responde por 70% das vendas do grupo, vem perdendo participação de mercado.
Dados da Varejo 360 apontam que, em São Paulo, sua representatividade caiu de 28,5% em 2023 para 28% em 2024, mesmo com a abertura de novas unidades. Enquanto isso, concorrentes como o Max Atacadista, do Grupo Muffato, expandiram sua presença, crescendo de 3% para 5% no estado.
Outro aspecto importante é o fechamento de postos de gasolina e drogarias da bandeira Carrefour em algumas regiões. Especialistas indicam que esses ajustes fazem parte de uma estratégia para readequar o portfólio de negócios do grupo no Brasil e otimizar a rentabilidade das operações.
Contratações seguem ativas
Apesar das demissões, o Carrefour assegura que segue contratando para diversas posições em 20 estados brasileiros e no Distrito Federal.
Entre os cargos ofertados estão operador de caixa, repositor, técnico de manutenção e frentista. A iniciativa visa manter a eficiência operacional e não comprometer o atendimento ao consumidor durante o período de festas.
A empresa também informou que está investindo em programas de treinamento e qualificação para os novos contratados, buscando melhorar a experiência do cliente e a produtividade das equipes em loja.
O peso da crise diplomática
Outro fator que pode ter influenciado os ajustes internos foi a recente crise diplomática envolvendo o Carrefour e o Brasil. Em novembro, o presidente global do grupo, Alexandre Bompard, anunciou que a empresa suspenderia a compra de carne do Mercosul, alegando que os produtos não atendiam às normas francesas.
O posicionamento gerou um boicote por parte de frigoríficos brasileiros, levando Bompard a se retratar publicamente e enviar uma carta de desculpas ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro.
Esse episódio repercutiu negativamente nas relações comerciais do grupo, mas a empresa afirmou que o impacto não comprometeu suas operações locais de forma significativa.
O que dizem os especialistas
Para Alberto Serrentino, consultor da Varese Retail, o momento das demissões é incomum. “Se os cortes forem em áreas administrativas ou gerenciais, poderiam ser interpretados como ajustes estruturais. No entanto, considerando pessoal de loja, é estranho, dado que o varejo alimentar vive seu pico de vendas no Natal.”
Eugênio Foganholo acrescenta que a dinâmica dos supermercados exige uma gestão cuidadosa, especialmente em seções como frutas, legumes e verduras, que demandam reposição constante para evitar rupturas.
Ele também destacou que a redução na quantidade de lojas pode levar a uma reestruturação nos processos de logística e distribuição, o que poderia ter impactado os cortes de pessoal.
Considerações finais
Enquanto o Carrefour atribui as demissões a ajustes naturais, o contexto econômico e as recentes mudanças estruturais no grupo levantam questionamentos sobre possíveis dificuldades operacionais.
O impacto dessas medidas será observado nas próximas semanas, especialmente com a aproximação do Natal, um período crucial para o setor varejista.
O episódio reflete os desafios enfrentados pelo maior varejista do país em equilibrar crescimento, rentabilidade e competitividade em um mercado dinâmico e altamente competitivo.
FONTE: SEU CREDITO DIGITAL