A Cemig é uma espécie de saúva da sociedade mineira. Por que tanta queda de energia?
Envolvi-me em uma experiência sobrenatural, embora muito natural, na terça-feira passada (18), por volta das 8h da madrugada. Estava trabalhando na produção de um texto na redação da DeFato. De repente, “o inesperado fez uma surpresa”. Aconteceu a rotineira queda de energia. E tome transtorno. Essa ocorrência é pedra no sapato de qualquer redator.
Mas, nada de novo no front. A interrupção de eletricidade faz parte da rotina da “Companhia Energética de Minas Gerais” (Cemig). Aqui se fala de uma fatalidade extremamente vulgar e irritante. E, neste instante, em plenas trevas, até deu vontade sugerir a troca de nome da concessionária. Que tal Companhia Energética da “casa do carajo”? A expressão também seria uma singela homenagem ao milongueiro Milei, o astro do cryptogate.
A Cemig, pelo menos, teve a serventia de inspirar o título desta coluna. Explico o motivo. O naturalista Auguste de Saint-Hilaire perambulou pelo sertão brasileiro no início do século XIX. Bateu pernas nos grotões de Pindorama de 1816 a 1822. Nesses seis anos, visitou Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para variar, o francês se encantou com as montanhas mineiras e retornou três vezes às alterosas. Em certa ocasião, viajou de Ouro Preto a Itabira passando pela região do Caraça. Grande novidade! Fiz o mesmo percurso 155 anos depois. Em suas anotações, Saint-Hilaire registrou marcante cenário da diversidade socioeconômica da “pedra que brilha”. E como brilhava a especularita daqui.
E acaba, neste momento, o romantismo deste enredo. Começa o naturalismo chocante. O pesquisador do Velho Mundo se espantou com a voracidade de um inseto tropical: a formiga saúva. O bicho era o cão. Devorava tudo. Não havia lavoura que resistisse à infinita gula da cortadeira. O europeu se desesperou diante do que viu e desabafou: “ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”.
Entenderam-me agora? A Cemig é uma espécie de saúva da sociedade mineira. Por que tanta queda de energia? A empresa coleciona pretextos para engambelar otários consumidores. Vive com esfarrapadas desculpas na ponta da língua. Veja “algumas causas” de misteriosos apagões: convescotes de passarinhos nas fiações, explosões de invisíveis transformadores, ameaças de chuvas (ou mesmo garoas) e espirros de transeuntes (que palavra mais fora de moda). Até mijadas de cachorros ao pé dos postes provocam interrupções no fornecimento de luz. Todas essas estripulias justificam a minha acidez. Conclusão: ou Minas Gerais acaba com a Cemig, ou a Cemig acaba com Minas Gerais. Romeu Zema deveria comprar essa ideia. Afinal, o governador é um expert na arte de descascar bananas.
PS1: só para iluminar. A Cemig deu à luz novamente por volta das 10 horas. Um aborto na manutenção resolveu o problema, mas foram 120 minutos de breu mental.
PS2: não se sabe qual instituição mais teme ameaças de chuvas: a Cemig ou a Sky? Você decide.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
FONTE: DE FATO ONLINE