A trágica morte de Fernanda Dutra, técnica de enfermagem, de apenas 37 anos, reacende o debate sobre as condições de trabalho e a humanização no setor da saúde. Segundo informações extraoficiais, Fernanda faleceu em sua residência, e a causa da morte ainda não foi esclarecida. O episódio ganha contornos ainda mais graves quando se constata que, mesmo passadas mais de 24 horas do ocorrido, o Hospital e Maternidade São José (HMSJ)– onde a profissional atuava – não se pronunciou publicamente sobre o caso.
Durante seu último plantão, Fernanda trabalhou sentindo intensas dores, mas, devido a uma política administrativa severa e inflexível, não recebeu o atendimento médico necessário no ambiente de trabalho, sendo encaminhada da UPA de Lafaiete. Essa situação evidencia um descompasso entre o discurso de humanização que deveria permear as instituições de saúde e a realidade enfrentada pelos seus profissionais. Ela foi sepultada na tarde de ontem (17) no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, em meio a dor e comoção de amigos e familiares.

Câmara reage
Em resposta à trágica morte de Fernanda Dutra, ainda ontem a tarde (17) a Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Lafaiete, Gina Costa e Samuel Carlos, se reuniu com representantes do Sindicato de Profissionais da Área da Saúde, representado pela Presidenta Marcimone Sabará, para debater as condições de trabalho na área da saúde. O encontro teve como pauta a análise crítica das políticas administrativas que, segundo os profissionais, podem ter contribuído para o cenário que culminou na perda de Fernanda Dutra.
O sindicato ressaltou que o encontro foi fundamental para evidenciar as fragilidades enfrentadas diariamente pelos profissionais da saúde, que, muitas vezes, se veem obrigados a cumprir jornadas extenuantes sem o suporte necessário.

Recusa de acordo coletivo
O Sindicato já encaminhou um pedido de reunião com a direção do HMSJ de apura o caso. A morte de Fernanda ocorre em meio a discussão de um novo acordo coletivo em que a pauta dos trabalhadores é a humanização da saúde entre outros direitos, entre os quais que os funcionários possam ser atendidos dentro da instituição, uma reivindicação antiga da categoria. Na primeira assembleia a direção, o HMSJ negou a proposta dos trabalhadores e uma nova rodada de negociações ocorre nos próximos dias.
Sem resposta
A ausência de uma resposta oficial por parte do hospital levanta sérias questões sobre o comprometimento da instituição com a saúde e o bem-estar de seus colaboradores. Muitos se perguntam: seria descaso? A falta de esclarecimento e de um posicionamento imediato diante de uma tragédia tão impactante contribui para o sentimento de indignação e desamparo entre os trabalhadores e a comunidade.
O caso de Fernanda Dutra não pode ser visto como um episódio isolado, mas sim como um alerta para a necessidade urgente de revisão das políticas internas de atendimento aos funcionários. Em um ambiente onde a principal missão é cuidar da vida, é inadmissível que medidas administrativas rigorosas impeçam que os profissionais tenham acesso rápido e efetivo a cuidados médicos em momentos críticos.
A situação vivida por Fernanda reflete uma falha estrutural que coloca em risco não apenas a vida dos trabalhadores, mas também a qualidade do atendimento prestado à população. Enquanto familiares, colegas de trabalho e a comunidade aguardam respostas, a tragédia de Fernanda Dutra destaca a urgência de se promover mudanças significativas na gestão de recursos humanos em instituições de saúde. A transparência e o compromisso com a vida devem prevalecer, e a falta de um posicionamento público pelo Hospital e Maternidade São José, após um período tão longo do ocorrido, torna ainda mais dolorosa a perda de uma profissional dedicada.
A pergunta que permanece no ar, diante do silêncio da instituição, é clara: seria descaso a omissão de esclarecimentos que poderiam, ao menos, demonstrar compromisso com a verdade e com a valorização dos profissionais que diariamente se dedicam a salvar vidas?