Preservação do patrimônio cultural e turismo estão entre os temas dos Encontros Regionais, promovidos a partir de maio
Em muitas cidades, é comum ouvir, na voz da insensibilidade e do desrespeito pela história, esse absurdo após uma demolição: “…mas era só uma casa velha, não valia nada”. Aí, quando você vai ver, a “casa velha”, com paredes marcadas pelo tempo, tinha vida centenária, harmonizava o espaço urbano. Sai do mapa o aconchego de momentos familiares, a testemunha de décadas de acontecimentos, o abrigo de usos, costumes, cultura local. Fica o vazio, às vezes entra no lugar uma construção que destoa de tudo.
Em outro cenário, autoridades arrancam pedras antigas para dar lugar ao asfalto, alterando clima e paisagem, sonham com iluminação feérica para igrejas coloniais, “porque viram e acharam bonito em outras cidades”, quando não fecham os olhos para a degradação de bens públicos, cavernas e grutas. Como alterar essa triste e muitas vezes irreversível realidade? Sem dúvida, o começo vem da informação para os gestores municipais – prefeitos, secretários, diretores e, na sequência, a conscientização da comunidade.
Para mudar mentalidades e posterior comportamento, a Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais, com 35 municípios filiados, vai promover os Encontros Regionais. O primeiro será em São João del-Rei, em 22 e 23 de maio, com palestras sobre desafios na gestão cultural e como desenvolver o turismo. O leque variado de palestras e debates vai contemplar desenvolvimento estratégico do turismo, preservação do patrimônio natural e cultural, turismo e cultura, gestão administrativa e legal, cooperação regional e outros temas permeados pela sustentabilidade.
Novos horizontes
O foco dos Encontros Regionais, conforme divulgou a associação, está na formação dos gestores municipais, buscando aproximá-los das novas perspectivas mundiais voltadas ao desenvolvimento do turismo local e regional. Com isso, se abrem os horizontes para aprimoramento, troca de experiências e inovação administrativa no âmbito cultural, histórico, turístico e patrimonial. Nesse universo rico e amplo, estão sítios históricos, tesouros naturais, conjuntos arquitetônicos, acervos religiosos, joias artísticas.
Por meio de programação diversificada, os encontros trimestrais, com duração de dois dias, vão oferecer oficinas, palestras e debates que contribuam para a qualificação profissional dos gestores, incentivando a adoção de práticas administrativas eficientes. A iniciativa pretende favorecer compartilhamento de projetos bem-sucedidos, discussão de desafios comuns às cidades históricas e busca coletiva de soluções criativas, fortalecendo a cooperação intermunicipal.

Ação colaborativa entre arquivos…
Criada no ano passado com a participação de leigos e religiosos de sete arquidioceses e 21 dioceses mineiras, a Comissão para os Bens Culturais da Igreja do Regional Leste 2 (MG), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apresenta resultados e amplia frente de trabalho. Dom Geovane Luís da Silva (foto), bispo de Divinópolis e presidente da comissão já constituída, informa sobre a formação de uma rede entre os arquivos eclesiásticos, para ações colaborativas, com a presença de especialistas.
…e formação de novos líderes
Em julho, haverá um seminário, nos moldes do realizado em outubro em BH (foto), com o foco na preservação, e desta vez destinado aos jovens seminaristas que concluem o curso de teologia. Iniciativa, sem dúvida, da maior importância para que os futuros padres conheçam sobre o vasto e valioso patrimônio da Igreja e saibam cuidar dele adequadamente. Se a comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio, o padre, como líder religioso e gestor, é o mais indicado para guiar pelos caminhos levam à preservação.

Parede da memória
Este cantinho da coluna é para divulgar perdas do patrimônio mineiro, mostrar fotos de bens desaparecidos, enfim, lembrar do que nossos olhos estão privados de contemplar. Mas, hoje, vai como nota de repúdio ao ato de vandalismo no histórico Chafariz do Kaquende, bem precioso de Sabará. Realmente ultrajante, ainda mais para quem tem a maior simpatia pelo monumento tombado pelo Iphan, visitado pelos turistas, fornecedor de água para a população desde o século 18. O prefeito Rodolfo Tadeu da Silva chamou os responsáveis de “criminosos”, postou vídeo com imagens do momento da destruição e disse que não vai permitir que isso ocorra de novo na cidade. Tomara mesmo que não se repita!
Festa da lapa
O distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto, está na maior alegria. E o motivo é dos mais nobres. Tradição tricentenária local, a Festa de Nossa Senhora da Conceição da Lapa foi registrada como Patrimônio Imaterial, após apreciação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural. Houve unanimidade na decisão, e a inscrição foi homologada pelo prefeito Angelo Oswaldo. Conforme o dossiê de registro, trata-se de uma das festas religiosas mais antigas de Minas ainda em atividade. Na reunião, foram apresentados a justificativa para o reconhecimento, as diretrizes de preservação, o plano de salvaguarda e trecho de um documentário produzido durante a comemoração dos 300 anos da Festa da Lapa. “É uma romaria pioneira no estado, começou em 1722”, disse Angelo Oswaldo.
Saberes ancestrais
A escritora Teresinha de Jesus Ferreira lança o livro “Memórias, Histórias e Saberes de Benzedeiras(os), Rezadeiras(os), Raizeiras(os) e Ialorixás de Viçosa e Ponte Nova – MG”. Fruto de extensa pesquisa, a obra, segundo a autora natural de Viçosa, investiga como os conhecimentos tradicionais são transmitidos entre gerações e destaca o papel dos praticantes das religiões de matriz africana como promotores da saúde popular e guardiões da cultura afro-brasileira. O trabalho mapeou terreiros, roças de candomblé e práticas culturais, a exemplo das comidas de orixás. Informação sobre como adquirir o livro, envie e-mail para [email protected]
Dia do congado
A Câmara dos Deputados aprovou o projeto, de autoria da parlamentar mineira Dandara Tonantzin, que cria o Dia Nacional dos Congadeiros e dos Reinadeiros. A celebração anual será em 7 de outubro, data consagrada a Nossa Senhora do Rosário, padroeira dessas manifestações religiosas, culturais e musicais. A iniciativa, segundo a deputada federal, visa reconhecer e valorizar as tradições afroculturais do congado e do reinado, que expressam “a resistência, a fé e a ancestralidade do povo negro no Brasil”. Com origem principalmente em Minas e forte presença em São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, as tradições do congado e do reinado têm raízes no período da escravidão e no pós-abolição. O projeto foi encaminhado ao Senado.
FONTE: ESTADO DE MINAS