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De patrimônio histórico a epicentro de escândalos e operações: Congonhas enfrenta tempestade política sem precedentes e briga vira caso de polícia; “cidade precisa de paz”, cita vereador

Nas duas últimas semana, Congonhas vive um turbilhão político com escândalos, operações, confusão, briga e uma clima de instabilidade política ainda não vivenciada nos últimos 30 anos. Algumas polêmicas foram parar na Delegacia alimentando uma disputa nociva à cidade.

Não é apenas a poeira da mineração que sufoca Congonhas. A cidade, que carrega um patrimônio histórico de valor mundial e uma das maiores arrecadações de Minas Gerais, vive uma espécie de transe político e social.

Na última terça-feira (26), o clima político de Congonhas foi marcado por uma forte discussão envolvendo o secretário municipal de Obras, Thales Gonçalves Costa, e o vereador Igor Souza Costa (PL). Segundo Thales, ele teria sido ameaçado pelo parlamentar dentro da própria Secretaria de Obras, na presença de servidores, fato registrado em boletim de ocorrência.

Em resposta ao episódio, o prefeito Anderson Cabido (PSB) publicou um vídeo repudiando qualquer tipo de agressão, enquanto o vereador Igor alegou em suas redes sociais que se trataria de uma perseguição política, relacionada à sua postura fiscalizatória e de oposição à gestão municipal. Já na quinta-feira (28) uma operação da PCMG e MPMG varreu os bastidores políticos.

Sessão tensa: Câmara de joelhos

Na sessão da Câmara da manhã desta terça-feira (2), o clima permaneceu tenso, com troca de acusações e farpas entre os parlamentares. Os desdobramentos políticos intensificaram os debates ainda mais acalourados.

Igor negou veementemente as ameaças descritas no boletim, afirmando que jamais teria feito qualquer menção a “sangrar” Thales ou sua família. Em suas declarações, o vereador ressaltou que trechos de conversas foram retirados de contexto para montar a narrativa que deu origem à denúncia.

“Sou cristão e nunca falaria o que está no boletim. Jamais isso foi dito. Desafio qualquer testemunha a provar o contrário”, afirmou Igor, acrescentando que pretende resistir e lutar pela verdade. Ele também criticou o silêncio do Legislativo diante do episódio, considerando-o um momento dramático para a cidade. “É triste ver o Legislativo silenciar e ficar de joelhos neste momento por que passa a nossa cidade. Não é possível o Legislativo não veja como está tudo sendo orquestrado. Eu vou resistir a esta covardia pois estou com a verdade”, desabafou.

O presidente da Câmara, Averaldo Pica Pau, comentou que ambos os lados já registraram boletins de ocorrência e que o Legislativo aguarda a apuração dos fatos. “Não existe ataque à instituição. Conversei com vários vereadores e os advogados da Câmara. Em nenhum momento, a Casa foi citada. Vamos ter cautela e, no momento oportuno, a Câmara se posicionará. Não aceitarei qualquer pressão. Não aceitarei nenhum ataque ao vereador Igor até o julgamento final no caso vindo de parte do corpo interno da prefeitura”, disse, citando que é momentos de reconstrução de um diálogo.

Durante a sessão, outros vereadores destacaram a necessidade de manter a paz e o diálogo dentro da Câmara. Koelhinho, por exemplo, afirmou que se trata de um momento delicado para história de Congonhas e que a verdade será revelada. “Não podemos trazer esta briga para dentro do Legislativo. Esta foi pior semana que Congonhas já viveu nos últimos tempos inclusive com apreensão de dinheiro e repercussão nacional. Esperamos que a justiça seja feita. Quem errou deve ser punido”, analisou.

Operação sangria

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Polícia Civil deflagraram, nesta quinta-feira (28), a Operação Sangria, que busca desarticular um suposto esquema de peculato e fraude em licitação envolvendo projetos para a construção de um complexo hospitalar em Congonhas, no Campo das Vertentes.

Segundo apurou O Fator, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em seis endereços em Congonhas e Belo Horizonte. Foram alvos da operação o ex-prefeito de Congonhas, Cláudio Dinho, a esposa dele, Libertad Lamarc, o ex-secretário de Saúde do município, Allan Falci, e o presidente da Associação Pró-Vida Congonhas, Arthur Padovani. Os agentes encontraram, na casa de Dinho, cerca de R$ 587 mil em espécie. Também foram apreendidos celulares e computadores.

“O foco da operação foi 100% voltado à entidade Pró-Vida. Trata-se de uma associação ligada ao ex-prefeito, que foi alvo de CPI entre 2023 e 2024. Isso mostra que, na época, estávamos no caminho certo ao investigar diversas irregularidades em repasses, que somavam cerca de R$ 17 milhões. Tudo indica que existem irregularidades envolvendo a Pró-Vida. Apesar de não termos obtido resultados totalmente satisfatórios na CPI, acredito que a Justiça não tardará. Esta não é a única investigação, e muito ainda está por vir. Pessoas que se aproveitaram dos cofres públicos terão que responder pelos seus atos. Fico satisfeito em afirmar que todo o trabalho desenvolvido na Câmara estava correto e dentro da lei. Errou, vai pagar a conta. Tenho convicção de que atuamos de forma correta, sem qualquer motivação política”, exortou Averaldo Pica Pau.

Em tom mais conciliador, o Vereador Eduardo Matosinhos elogiou seu ex-assessor, Igor Souza. “Ele foi 3 vezes assessor no meu gabinete. Exaltou, sim. Perdeu a compostura, sim. Mas, a Justiça vai apurar tudo. Ele é uma criança. Não vamos antecipar nada. O delegado vai analisar”, analisou. “Citam que fui puxa-saco. Me orgulho, de ter sido líder e ex-secretário da gestão do Dr. Cláudio Dinho. Quem sou eu para julgar. Que a verdade seja esclarecida. Eu sou exemplo de resistência na vida pública. A verdade me absolveu. Fui cassado e ganhei na 3ª instância monocraticamente e no Pleno. Congonhas precisa de paz. O Anderson tem meu apoio e respeito todos os vereadores. E a verdade vai aparecer para os envolvidos”, encerrou.

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