O Brasil e a China estão unindo forças em um dos projetos logísticos mais ambiciosos da história recente da América do Sul: a ferrovia bioceânica Brasil–Peru, um corredor que conectará o Oceano Atlântico ao Pacífico e deve entrar em operação em 2026, segundo o governo federal. A iniciativa pretende integrar a infraestrutura regional, reduzir custos […]
O Brasil e a China estão unindo forças em um dos projetos logísticos mais ambiciosos da história recente da América do Sul: a ferrovia bioceânica Brasil–Peru, um corredor que conectará o Oceano Atlântico ao Pacífico e deve entrar em operação em 2026, segundo o governo federal. A iniciativa pretende integrar a infraestrutura regional, reduzir custos de exportação e fortalecer o comércio com a Ásia, especialmente com o mercado chinês.
O projeto é considerado estratégico tanto do ponto de vista econômico e ambiental quanto geopolítico, já que ampliará a presença da China na região e consolidará o Brasil como eixo central da integração logística sul-americana.
Acordo Brasil–China marca nova fase da cooperação logística
O ponto de partida da nova etapa foi a assinatura de um memorando de entendimentos, em junho, durante evento em Brasília, entre a Infra S.A., empresa vinculada ao Ministério dos Transportes, e o China Railway Economic and Planning Research Institute.
O documento prevê estudos técnicos conjuntos sobre a malha ferroviária brasileira com foco multimodal, incluindo rodovias, ferrovias, portos, hidrovias e aeroportos. O objetivo é alinhar os projetos já em execução e definir rotas complementares para acelerar a criação do corredor bioceânico.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, destacou a importância da parceria:
“O Brasil não é rasgado com ferrovias. Isso começará a mudar com esta nova parceria.”
O memorando integra o eixo Rotas de Integração Sul-Americana, articulado com o Novo PAC, o programa Nova Indústria Brasil e o Plano de Transformação Ecológica — políticas tratadas diretamente entre Lula e Xi Jinping desde 2024.
Traçado e estrutura da ferrovia bioceânica
O traçado da ferrovia bioceânica Brasil–Peru foi planejado para aproveitar trechos já existentes e interligar grandes eixos ferroviários nacionais até a fronteira oeste, seguindo em direção ao Porto de Chancay, no Peru — terminal recém-inaugurado e construído com investimentos chineses.
Os principais segmentos previstos são:
FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste): do Porto Sul, em Ilhéus (BA), até Mara Rosa (GO).
FICO (Ferrovia de Integração Centro-Oeste): de Mara Rosa (GO) até Lucas do Rio Verde (MT).
Ferrovia Norte–Sul (FNS): cruzamento estratégico em Mara Rosa, que conecta o centro do país à malha nacional.
Extensão internacional: a partir de Lucas do Rio Verde, o traçado avançará por Mato Grosso, Rondônia e o sul do Acre, alcançando o Porto de Chancay, a 70 km de Lima.
O corredor também aproveita infraestrutura já existente, como a BR-364 e a BR-317, no Brasil, e a rodovia IRSA Sur, no Peru, que hoje formam a base do trajeto terrestre entre os dois oceanos.
Objetivos econômicos e estratégicos
O governo brasileiro apresenta o projeto como um vetor logístico de integração continental, com potencial para reduzir prazos e custos de exportação ao mercado asiático, além de fortalecer cadeias produtivas regionais.
O novo corredor deve:
Reduzir o tempo de transporte de cargas agrícolas e minerais do Centro-Oeste até os portos do Pacífico;
Diminuir a dependência de rotas marítimas longas que passam pelo Canal do Panamá;
Aumentar a competitividade das exportações brasileiras de soja, milho, carne e minério;
Fomentar o turismo e o intercâmbio econômico regional;
Gerar empregos diretos e indiretos em obras de infraestrutura e logística.
O Ministério do Planejamento afirma que o projeto está sendo desenhado com critérios ambientais e de eficiência energética, integrando-se à matriz logística nacional e aos objetivos de neutralidade de carbono previstos no Plano de Transformação Ecológica.
Estudos e cronograma
Com o memorando assinado, o projeto entra agora em fase de estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental, sob coordenação conjunta da Infra S.A. e do instituto chinês.
Os trabalhos incluirão análises sobre:
Traçados alternativos e topografia da região;
Demanda e capacidade de transporte de cargas;
Condições de engenharia e infraestrutura existente;
Modelos de financiamento público e privado;
Licenciamento ambiental;
Integração legislativa e diplomática com o Peru.
As pastas do Planejamento, Transportes e Casa Civil atuarão em conjunto na coordenação política e técnica. Segundo o governo, a fase de estudos deve ser concluída em 2025, com início das obras e operação piloto prevista para 2026.
O papel da China no corredor bioceânico
A China é parceira estratégica e principal financiadora do projeto, com interesse direto na redução de custos logísticos para o escoamento de produtos chineses e na ampliação da influência econômica na América do Sul.
O Porto de Chancay, financiado pela China Harbour Engineering Company (CHEC), é considerado o principal hub marítimo chinês no Pacífico Sul. Com capacidade para receber navios de grande porte, o terminal será o ponto final da ferrovia bioceânica, ligando o agronegócio brasileiro e a indústria sul-americana às rotas marítimas do Oceano Pacífico e do Sudeste Asiático.
O projeto reforça a estratégia de integração logística continental promovida por Pequim dentro da Iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), ampliando a interconexão entre infraestrutura, energia e comércio.
Integração regional e impacto ambiental
A ferrovia bioceânica também se insere na agenda de integração física da América do Sul, complementando corredores existentes entre Brasil, Bolívia, Chile e Peru.
Do ponto de vista ambiental, os estudos deverão avaliar impactos sobre ecossistemas amazônicos e andinos, definindo modelos de mitigação e compensação. A proposta é priorizar traçados com menor interferência ambiental, reduzindo emissões e promovendo o uso de energia limpa no transporte ferroviário.
O que vem a seguir
Após a conclusão dos estudos de viabilidade, o Brasil e a China definirão modelos de financiamento e governança binacional. A expectativa é que parte dos recursos venha do BNDES e do Banco de Desenvolvimento da China (CDB).
O cronograma prevê:
Conclusão dos estudos técnicos – até o segundo semestre de 2025;
Licenciamento e início das obras prioritárias – início de 2026;
Operação piloto – até o final de 2026, com transporte de cargas em trecho parcial.
Com isso, o projeto poderá reposicionar o Brasil como elo estratégico entre o Atlântico e o Pacífico, fortalecendo sua posição nas cadeias logísticas globais e consolidando a presença chinesa em infraestrutura no continente.
📊 Resumo do projeto Brasil–China:
Nome: Ferrovia Bioceânica Brasil–Peru
Extensão estimada: mais de 5 mil km
Conexão: Atlântico (Ilhéus-BA) ao Pacífico (Chancay, Peru)
Instituições envolvidas: Infra S.A. e China Railway Economic and Planning Research Institute
Início da operação: previsto para 2026
Objetivo: integração logística, redução de custos e emissão de carbono
Programas vinculados: Novo PAC, Nova Indústria Brasil e Plano de Transformação Ecológica
FONTE: O CAFEZINHO



