Estamos passando por uma grande extinção em massa

Em cerca de 4,5 bilhões de anos de existência, o planeta Terra passou por pelo menos cinco grandes extinções em massa — e é bem provável que estejamos no sexto fenômeno do tipo justamente no período em que vivemos.

O paleontólogo Mario Cozzuol, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cita outra característica fundamental desses acontecimentos: eles aconteceram de forma homogênea em todas as partes do mundo.

“Falamos de eventos em escala global, com uma grande extensão, num tempo geólogo relativamente próximo”, acrescenta.

As extições em massa são:

A primeira: Ordoviciano-Siluriano, 440 milhões de anos atrás, com o desaparecimento de 85% das espécies, especialmente de pequenos seres marinhos invertebrados. Entre as possíveis causas para a crise, os cientistas apontam a movimentação dos continentes em direção ao pólo sul, as quedas na temperatura, a formação de glaciares e a redução do nível dos mares (dos quais boa parte da vida dependia).

Segunda: Devoniano, 370-360 milhões de anos atrás. que varreu do mapa entre 70 e 80% de todas as espécies.Ainda não há consenso sobre os motivos por trás dessa extinção em massa. As evidências apontam para diversas alterações no ambiente, como aumento e redução intercalados da temperatura, elevação e baixa do nível dos oceanos e uma queda na concentração de oxigênio na atmosfera.

O terceiro foi o Permiano, 250 milhões de anos atrás. É possível que a movimentação dos continentes, as erupções vulcânicas, o aquecimento do clima e o aumento da acidez dos oceanos tenham representado o fim da linha para muitas espécies que habitavam o planeta.

“Alguns cientistas apontam que a Terra foi atingida por um grande asteroide, que encheu o ar de partículas de poeira, bloqueou a luz solar e provocou chuvas ácidas. Outros pensam que uma grande explosão vulcânica aumentou a quantidade de dióxido de carbono (CO2) e tornou os oceanos tóxicos”, detalha o Museu de História Natural de Londres.

O quarto é conhecido como Triássico, 200 milhões de anos atrás. A principal explicação para o fenômeno é a separação da Pangeia, o supercontinente que reunia praticamente toda a superfície terrestre do globo. Essa atividade geológica colossal elevou a quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, deixou os oceanos mais ácidos e engatilhou a erupção de vários vulcões.

Já o quinto é o Cretáceo, 65 milhões de anos atrás, o mais famoso, que acabou com os dinossauros. Acredita-se que o asteroide tenha sido o gatilho para uma série de mudanças no ambiente — poeira, diminuição da luz solar, morte das plantas, redução de oxigênio, chuvas ácidas, atividade vulcânica — que acabou com esses répteis aos poucos, ao longo de um milhão de anos.

O sexto fenômeno, e que cientistas acreditam que estejamos passando é o ‘Antropoceno’, 2022. As pesquisas apontam que a atividade humana está por trás disso e tudo só tem piorado nos últimos séculos.

“Desde a Revolução Industrial, nós estamos aumentando a pressão sobre a natureza ao usar os recursos, sem pensar em como recuperá-los”, aponta o Museu de História Natural de Londres.

FONTE REVISTA RCP

Estamos passando por uma grande extinção em massa

Em cerca de 4,5 bilhões de anos de existência, o planeta Terra passou por pelo menos cinco grandes extinções em massa — e é bem provável que estejamos no sexto fenômeno do tipo justamente no período em que vivemos.

O paleontólogo Mario Cozzuol, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cita outra característica fundamental desses acontecimentos: eles aconteceram de forma homogênea em todas as partes do mundo.

“Falamos de eventos em escala global, com uma grande extensão, num tempo geólogo relativamente próximo”, acrescenta.

As extições em massa são:

A primeira: Ordoviciano-Siluriano, 440 milhões de anos atrás, com o desaparecimento de 85% das espécies, especialmente de pequenos seres marinhos invertebrados. Entre as possíveis causas para a crise, os cientistas apontam a movimentação dos continentes em direção ao pólo sul, as quedas na temperatura, a formação de glaciares e a redução do nível dos mares (dos quais boa parte da vida dependia).

Segunda: Devoniano, 370-360 milhões de anos atrás. que varreu do mapa entre 70 e 80% de todas as espécies.Ainda não há consenso sobre os motivos por trás dessa extinção em massa. As evidências apontam para diversas alterações no ambiente, como aumento e redução intercalados da temperatura, elevação e baixa do nível dos oceanos e uma queda na concentração de oxigênio na atmosfera.

O terceiro foi o Permiano, 250 milhões de anos atrás. É possível que a movimentação dos continentes, as erupções vulcânicas, o aquecimento do clima e o aumento da acidez dos oceanos tenham representado o fim da linha para muitas espécies que habitavam o planeta.

“Alguns cientistas apontam que a Terra foi atingida por um grande asteroide, que encheu o ar de partículas de poeira, bloqueou a luz solar e provocou chuvas ácidas. Outros pensam que uma grande explosão vulcânica aumentou a quantidade de dióxido de carbono (CO2) e tornou os oceanos tóxicos”, detalha o Museu de História Natural de Londres.

O quarto é conhecido como Triássico, 200 milhões de anos atrás. A principal explicação para o fenômeno é a separação da Pangeia, o supercontinente que reunia praticamente toda a superfície terrestre do globo. Essa atividade geológica colossal elevou a quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, deixou os oceanos mais ácidos e engatilhou a erupção de vários vulcões.

Já o quinto é o Cretáceo, 65 milhões de anos atrás, o mais famoso, que acabou com os dinossauros. Acredita-se que o asteroide tenha sido o gatilho para uma série de mudanças no ambiente — poeira, diminuição da luz solar, morte das plantas, redução de oxigênio, chuvas ácidas, atividade vulcânica — que acabou com esses répteis aos poucos, ao longo de um milhão de anos.

O sexto fenômeno, e que cientistas acreditam que estejamos passando é o ‘Antropoceno’, 2022. As pesquisas apontam que a atividade humana está por trás disso e tudo só tem piorado nos últimos séculos.

“Desde a Revolução Industrial, nós estamos aumentando a pressão sobre a natureza ao usar os recursos, sem pensar em como recuperá-los”, aponta o Museu de História Natural de Londres.

FONTE REVISTA RCP

5 casos bizarros (e engraçados) que só poderiam acontecer em Minas Gerais

Ladrão que rouba pote de doce de leite, mas não consegue carregá-lo e boi aterrorizando cidade são alguns dos exemplos

Um policial militar aposentado foi preso nesta segunda-feira (15) após tentar pagar um programa sexual com queijo. Em Minas Gerais, acontecimentos inusitados como esse acontecem com certa frequência sendo alguns deles mais bizarros; outros, mais engraçados.

Veja abaixo cinco casos intrigantes que aconteceram no Estado: 

Ferros é aterrorizada por um boi

Dois bois “colocaram o terror” na cidade de Ferros, no Vale do Aço. Os animais correram atrás de moradores, entraram em uma mercearia e atrapalharam o trânsito. O vídeo, abaixo, mostra a confusão.  

Glicemia em alta I

Suspeito afirmou que havia achado o pote em uma caçamba
Um homem roubou de um caminhão um pote de doce de leite em Poços de Caldas, no Sul de Minas. Ele até tentou, mas não conseguiu carregar 10 kg e correr da polícia ao mesmo tempo. Por fim, o suspeito foi preso pela polícia. 

Glicemia em alta II

Dupla confessou o crime e afirmou aos policiais que parte dos produtos estava nas mochilas que carregavam
Um homem e uma mulher foram presos em Delta, no Triângulo Mineiro, por roubo a um estabelecimento comercial. O material escolhido pelos ladrões não era nada usual. Entre os itens levados, estavam Nutella, leite condensado, jujubas e pirulitos. A imagem não nos deixa mentir! 

Uma cobra no caminho 

Foi a própria moradora da casa que recolheu o brinquedo, na presença dos militares. De acordo com ela, a cobra de borracha pertence aos filhos
Foi encontrada uma cobra entrelaçada em um portão de uma residência em Araxá, no Alto Paranaíba. O Corpo de Bombeiros foi acionado e, ao chegar no local, atestaram que se tratava apenas de um brinquedo. Ninguém ficou ferido

Acharam um ‘feto’, mas era mentira, confirmou o IML

Dados do boletim de ocorrência sobre o caso dão conta de que o “feto” foi “identificado” por um morador do bairro na última quinta-feira (1)
Um cidadão de Santo Antônio do Monte ficou chocado ao encontrar um feto, chamou a Polícia e o recém-nascido foi encaminhado para o IML. Na instituição, foi descoberto que se tratava de um boneco de borracha.

FONTE O TEMPO

Meninas de 10 a 14 anos de idade são maioria das vítimas de estupros

Maioria dos casos aconteceu na casa das vítimas

No Brasil, a maioria (67%) dos 69.418 estupros cometidos entre 2015 e 2019 tiveram como vítimas meninas com idade entre 10 e 14 anos. É o que destaca o estudo Sem deixar ninguém para trás – gravidez, maternidade e violência sexual na adolescência, do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz Bahia (Fiocruz). Também assinam a pesquisa o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

O que subsidiou o levantamento foram dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-Datasus), do Ministério da Saúde. No período de análise, adolescentes com idade entre 15 e 19 anos representam 33% do total de vítimas de estupro.

Ainda sobre o perfil das vítimas, o que se constata é que prevalecem as meninas pardas (54,75%). Logo depois, aparecem garotas brancas (34,3%), pretas (9,43%) e, por fim, indígenas (1,2%).

Outro dado que se consolida mais uma vez, como em outros estudos, é o que diz respeito à relação entre as vítimas e os agressores. De acordo com a pesquisa, 62,41% dos autores do crime eram conhecidos das vítimas, contra apenas 17,22% de desconhecidos.

Por meio das notificações reunidas pelo governo federal, observam-se, ainda, três dados de relevância. O primeiro é o fato de que o estupro costuma acontecer na casa das vítimas. No total, 63,16% dos episódios se deram nesse contexto. Em 24,8% das vezes, o local era público e, em 1,39% dos casos, o estupro ocorreu em uma escola.

“Evidencia-se que adolescentes nem sempre encontram na família um lugar de proteção”, mostra o estudo.

Para a gestora do Projeto Bem Me Quer, do Hospital da Mulher, psicóloga Daniela Pedroso, é preciso ter em vista que, assim como em relacionamentos entre mulher e companheiro, em que ele a agride, as emoções das vítimas menores de idade se misturam, quando o agressor é alguém de seu círculo. Em muitos casos, o agressor causa confusão de sentimentos na vítima, inclusive por propor que ela guarde para si o ocorrido, como se se tratasse de um acordo de confiança que não pode ser rompido, já que a consequência seria perder o afeto do agressor.

“Estamos falando de agressores conhecidos, pessoas que muitas vezes também provêm coisas boas, positivas para essas crianças. Por isso é que é tão importante cuidar disso, porque a gente está falando de algo que é tratado pelo agressor sexual como um segredo, algo que não pode ser contado”, alerta.

“O abuso sexual da criança é crônico e recorrente. A gente está falando da pessoa que devia protegê-la. Esse é um dado que sempre surge e que ainda choca muito, porque é a ambivalência não só do sentimento da criança, mas também da ambivalência do comportamento do agressor”, complementa Daniela, que hoje coordena o Ambulatório de Violência Sexual na unidade e que trabalha no local há 26 anos.

Na avaliação da psicóloga, a qualidade no atendimento é um fator capaz de definir a permanência das vítimas no hospital, conforme as recomendações. Segundo ela, além de oferecer o tratamento de profilaxia, que as protege contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e tem maior efeito em uma janela de 72 horas após o estupro, o Hospital da Mulher também oferece cuidados em outras áreas importantes. São eles o encaminhamento a assistentes sociais, que orientam e acolhem, e as consultas com pediatras ou ginecologistas da equipe do ambulatório e com psicólogos. As vítimas têm direito a ter atendimento mesmo sem apresentar boletim de ocorrência, ou seja, basta que se dirijam à unidade.

“A maneira como elas são recebidas pelo serviço vai impactar não só na adesão ao tratamento como também em todo o processo que passam com a gente”, ressalta Daniela.

Sobre a contribuição dos psicólogos, a gestora avalia que se encontra em atenuar o sofrimento psíquico, a partir da transformação da memória em torno do estupro que se vivenciou. “As pessoas perguntam, a minha filha vai esquecer? A gente não consegue fazer com que se apague isso da memória dessa criança, dessa adolescente, mas a gente precisa trabalhar da melhor forma possível para que isso não se torne uma lembrança recorrente, cotidiana. Acho que isso é bem importante. E também que ela possa ressignificar esse trauma”.

Edição: Fernando Fraga

FONTE AGENCIA BRASIL EBC

Revisitando o histórico ano de 1842

No ano em que Movimento de 1842 completa 180 anos de seu acontecimento, alguns fatos, talvez desconhecidos, devem ser (re)contados, rememorados, trazidos ao momento presente e submetê-los às interpretações e às descobertas neles tão intrínsecas .

O texto aqui trazido por mim, é  tão grande e  valorozo seu contexto que não me atrevo a dele retirar uma só um só excerto, uma só palavra. Transcrevo-o na íntrega. Sua riqueza de detalhes equipara-se, talvez, à  sua importância histórica. Quem nos presenteia com essa descrição encantadora revelarei, ao final do texto.

Eis o que transcrevo:

“A casa em que morei em Queluz é a que fica defronte da matriz e que ocupa toda a frente do largo entre a rua Direita e a outra que passa pelo lado oposto. Quase toda de pedra, a madeira que nela se empregou é tão grossa e de tal qualidade, que faz gosto vê-la  que ao mesmo tempo admira. Entretanto, esta casa foi comprada algum tempo depois da revolução pela insigni-ficante quantia de dois ou três contos de réis.

Quando nela morei, ainda se viam em diversos lugares os sinais das balas que a haviam ferido no combate de 26 de julho de 1842; combate este de que a suma é a seguinte: Tendo na véspera à noite sido a vila flanqueada pelas forças do capitão Marciano Pereira Brandão, que se emboscaram nas estradas de Congonhas, Suassui e Ouro Preto, no dia 26 foi atacada do lado do Lavapés pela coluna do Coronel Antônio Nunes Galvão e do lado das Bananeiras pela do Coronel Francisco José de Alvarenga. O exército da legalidade que defendia Queluz, tinha estado ao mando do comandante das armas José Manuel Carlos de Gusmão; tendo, porém, este, poucos dias antes, se retirado para Ouro Preto, no dia do combate era o exército comandado pelo brigadeiro Manuel  Alves de  Toledo Ribas.

Como em quase todos os combates a que assistiu o presidente rebelde, neste combate de Queluz o papel proeminente ou o mais brilhante ainda veio a caber ao bravo e infatigável Coronel Galvão. Galvão, entretanto, já era velho e de mais a mais um velho achacoso, Tão adoentado se achava no combate de Santa Luzia, que mesmo no momento mais crítico daquela ação, foi atacado de uma forte síncope que o impedia de continuar a combater; mas tal era a sua força de ânimo e de vontade, que apesar do estado enfermo em que se achava, desde que asi tornou e que pôde dar ordens, desde logo as deu e tão sábias e acertadas, mais como umexército que voluntariamente se retira do que mesmo como um exército vencido. Tendo logo depois daquele combate deposto as armas em Matozinhos, ele ali mesmo se ocultou e muito pouco depois  ali mesmo faleceu.

Os rebeldes, porém, tinham feito grande medo ao governo; e se, como se diz, o medo é mau conselheiro; eu não duvido acrescentar que o medo foi sempre muito pouco cavalheiro. E disto foi uma das provas, naquela ocasião, o modo como foram tratados os prisioneiros de Santa Luzia pois que embora constituíssem eles o que havia de melhor na província e embora tivessem voluntariamente se entregado, além de outras picardias que sofreram nem sequer lhes dispensaram os ferros na sua condução para a capital. Grande foi, portanto, o terror que de todos se apoderou logo depois da vitória; e tão grande foi esse terror; que dar asilo a um rebelde pareceu ser um crime igual ao da própria rebelião. A pessoa, pois, que havia asilado a Galvão em Matozinhos parece que receiou de ser acusada de haver cometido esse tão grande crime, e o que é certo, é que por esse ou que por outro qualquer motivo, não só foi Galvão enterrado sem acompanhamento e sem honras; mas embrulhado ou cosido apenas em um simples lençol, como era o costume de enterrarem-se os escravos; mas até mesmo no próprio assento de óbitos, o seu nome ali foi dado como o de um escravo da fazenda, em que ele havia falecido.

E eis aqui está qual foi o triste e lastimoso fim do mais valente cabo de guerra da revolução mineira; ou como miseranda vítima de uma tão generosa causa escondeu-se seu nome debaixo da terra e morreu como escravo, aquele que tanto havia combatido pela liberdade, e que muito mais do que tantos outros era digno de uma estátua porque prudente e bravo, modesto e firme, Galvão possuía ainda um grande coração e uma alma verdadeiramente heróica. E eis aqui um exemplo apenas para que se possa conhecer o homem. Atacada a vila de Queluz por todos os lados, o exército da legalidade começou a recuar por toda a parte, até que por fim se concentrando no largo da Matriz fez desta uma espécie de fortaleza, donde com a artilharia de que dispunham, os legalistas varriam as ruas que iam ter ao largo.

Na rua Direita e quase que defronte da casa em que morei, havia um sobrado donde se avistava o adro e grande parte do largo: um filho de Galvão, o alferes Fortunato Nunes Galvão, penetrando naquela casa, trata imediatamente de fazer dela um ponto de apoio para atacar o inimigo, e apoderando-se ele mesmo de uma espingarda, e convertendo-se em atirador, logo que havia carregado a espingarda dentro da sala, vinha para uma janela da sacada que tinha a casa, e protegendo-se com o portal da mesma janela fazia com segurança a pontaria e atirava para a igreja. Tão incômodo para os legalistas tornou-se logo aquele tão terrível atirador, que resolveram, custasse o que custasse, pô-lo fora de combate.

Um soldado, portanto, saindo da igreja pelos fundos do adro, passa-se para o lado oposto ao da rua Direita; e cosendo-se com as casas e ocultando-se de todos os modos que pôde até chegar junto da casa em que depois vim a morar, aqui de novo atravessa o largo e sempre escondido pela casa, vai coloear-se na esquina que esta formava com a rua Direita. Ali colocado, o soldado fez exatamente o mesmo jogo que eslava o moço fazendo; e enquanto este amparando-se com o portal da janela apontava para a igreja, o soldado amparado pela esquina da casa apontava para ele; e disparando o tiro, o feriu, porém, em cheio.

Como a distância era muito pequena e pouco mais teria de dez braças, se é que realmente as tinha, o jovem Galvão caiu mortalmente ferido. Avisado que lhe morre o filho, corre o velho pai a vê-lo; e   mal tem tempo para lhe cerrar os  olhos. Terrível foi o golpe e o coração lhe estala. Mas como se tivesse pejo da sua própria dor, ele como o carvalho que se de-senraíza e não se verga, não chora o filho nem a si mesmo se lamenta; e dizendo apenas — é um que perco, mas três ainda me ficam para darem a vida pela liberdade da nossa pátria — silencioso  se retira; e vai de novo  combater. Este combate de Queluz é um daqueles muito poucos em que a verdade aparece em toda a sua nudez; porque havendo a seu respeito nada menos de três partes oficiais, nos pontos capitais são todas perfeitamente concordes. (grifo nosso).

Se, porém, todas são concordes nos pontos capitais e sobretudo na completa derrota que ali sofreu o exército da legalidade; nenhuma delas, entretanto, se ocupa dos pequenos incidentes, nem nos dá a menor notícia de um grande número de episódios mais ou menos interessantes que se deram naquele combate e que a tradição conserva. Em parte ao menos, eu poderia sanar essa lacuna; isso, porém, me levaria muito longe. Eu pois, deixando de parte tudo quanto sei, me contentarei apenas com o citar aqui dois fatos, dos quais o primeiro pode servir de argumento para aqueles que acreditam na fatalidade do nosso destino e o outro é uma das melhores provas de quanto é capaz o medo ou um terror pânico.

Em uma casa que havia e que não sei se ainda existe quase que defronte da cadeia, porém um pouco mais para o lado da igreja do Carmo, morava em 1842 uma pobre mulher. Quando começou o ataque da Vila, foi tal o susto que dela se apoderou, que não contente de fechar todas as portas e janelas, ainda procurou um dos quartos que mais recônditos ficavam no interior da casa, e ali foi se esconder metendo-se debaixo da cama. No dia seguinte quando se abriu a casa e que se procurou a sua habitadora, esta ainda se achava debaixo da cama; mas estava morta e banhada no seu sangue. Como se de propósito a procurasse, uma bala de peça ou de espingarda atravessando uma ou talvez mesmo muitas paredes a tinha ido ali alcançar; e ela desta sorte achou a morte no lugar justamente em que mais segura supôs guardar a vida. Quanto ao outro fato que se passou com o Tenente Coronel Luiz Gonzaga de Melo e que foi o próprio que mo contou, foi o seguinte:

Acossado por todos os lados, o exército da legalidade tinha todos, como já disse, se concentrado no largo da Matriz e ali se achava quando chegou a noite. Completamente desmoralizado para que pudesse ainda resistir e estando privado de mantimentos e absolutamente sem água da qual se achava cortado, os rebeldes contavam, que apenas amanhecesse, o inimigo se renderia à dis-creção.

E como supunham que este se achava completamente cercado no largo, descuidaram-se de segurar as saídas da povoação. Próximo, porém, ao fundo do adro, havia um beco muito estreito, escuro e íngreme, que descia para uma rua que levava à estradas de Suassuí; e apenas escureceu, a não serem os feridos e aqueles que preferiram se render e que no dia seguinte foram aprisionados em número de 200, todos os mais enfiaram por aquele beco e procuraram a estrada de Suassuí; onde apenas existia um piquete de quatro ou seis pessoas que ali estavam unicamente para vigiarem  quem entrava ou quem saía.

Os legalistas tinham alcançado o seu intenso e já davam graças a Deus de os haver salvo de um perigo que parecia sem remédio, quando o piquete pelo seu lado ao ver aquele borbotão de gente com o qual de todo não contava, antes de salvar-se, lem-bra-se de aproveitar ao menos os tiros que já estavam prontos e disparou as espingardas contra os primeiros que chegavam. Ouvindo aqueles tiros, os fugitivos acreditam que a estrada estava guardada com forças pelos rebeldes; e seguiu-se então uma das cenas mais indiscritíveis de terror, confusão e desespero; porque além de tudo, entre aqueles fugitivos havia também algumas mulheres.

Fazia parte desta multidão assim posta em tão terrível debandada, aquele Tenente Coronel Gonzaga, que julgando estar a estrada tomada, ficou algum tempo sem saber o que fizesse; até que sendo um perfeito conhecedor de todas aquelas localidades, lembrou-se de meter-se no mato e procurar a fazenda da Pedra que fica nas imediações das Taipas e que, pertencendo a parentes seus, poderia lhe servir de refúgio.

Ele, portanto, sem mais demora, meteu-se no mato; e disse–me, que durante toda a noite caminhou sempre e sem parar um só momento em direção às Taipas. Quando começou a aparecer esse clarear tão duvidoso que precede a aurora, lhe pareceu lobrigar um campo e esse campo lhe pareceu ser exatamente o pasto da Pedra; e sem mais demora para este se dirigiu.

Quando, porém, entra no pasto, e que ali dá os seus primeiros passos, vê diante de si um soldado que lhe apontava uma espingarda ao peito. A surpresa e o susto que este fato lhe causou, foi tal, que lhe faltando a voz para gritar ou ânimo para correr, estacou no mesmo lugar, e imóvel ali ficou até que afinal reconheceu que o soldado era um toco e a espingarda um galho seco que ainda o toco conservava.

É desnecessário dizer, qual não foi o alívio que sentiu a sua alma já tão atribulada, quando ele se viu livre daquele perigo embora cômico, tão terrível para ele. Esse alívio porém, bem pouco durou ou não passou de um simples alívio puramente momentâneo; porque livre daquele perigo e pondo-se, sem mais demora, a correr para a casa que ficava em baixo e que ia se tornar para ele a salvação, de repente reconhece, que em vez da fazenda da Pedra que fica a cinco ou seis léguas distante de Queluz, ele estava descendo, pelo contrário para a chácara das Bananeiras, que apenas dista um quilómetro ou pouco mais daquele lugar; e embora morto de fome, de sede, de sono e de cansaço, teve de novo de meter-se no mato e de ir já não sei onde nem como procurar outro  refúgio.

E já que acabo de falar deste combate de Queluz e da revolução de Minas, quero aqui fazer menção de um dos muitos parentes meus, que fui encontrar no município de Queluz; e que além de ter sido um daqueles com quem tive mais frequentes relações e de ser dotado de um caráter bastante original, ainda alcançou naquela revolução uma notoriedade mais ou menos extensa. Este meu parente era o Tenente Coronel José Antônio de Rezende que era casado com uma parenta (creio que neta) do Ti-radentes, e que tornou-se muito conhecido na revolução debaixo do nome de capitão dos óculos, porque, contra o costume da provín-cia, andava sempre de óculos, e em todos os combates em que entrou nunca deixou de mostrar uma bravura extraordinária. Baleado em uma coxa no ataque de Sabará, não pode o Capitão Rezende entrar em fogo ou antes, pôr-se à frente da sua companhia no combate de Santa Luzia; mas não lhe sofrendo o ânimo de ficar inerte, assentou, já que não podia comandar a sua gente, de se tornar ainda que um pouco de longe, um franco atirador. Tomando, portanto, uma reúna e um grande número de cartuchos, foi colocar-se em uma posição donde pudesse atirar sobre as forças do governo; e segundo dizia ele, quantos tiros deu, foram outros tantos carapuças que lançou por terra.

Carapuças era sempre o nome que ele dava aos soldados de linha, que, naquele tempo, em vez de bonés ou barretinas usavam de uma espécie de capacetes ou de mitras, que não deixavam de ter uma tal ou qual semelhança com as nossas antigas carapuças. Baleado como estava, foi um dos primeiros aprisionados; e dizia ele que foi nessa ocasião muito e muito insultado pelos carapuças; mas acrescentava que nem sequer ouvia o que eles diziam; porque naquela ocasião toda a sua atenção e todo o seu cuidado apenas concentrados no chapéu do Chile que levava e em cujo forro estavam duzentos ou trezentos mil réis que era tudo quanto então possuía e que tanta falta lhe poderiam então fazer; e por isso, enquanto o descompunham, o que ele fazia, era segurar com as duas mãos o chapéu contra o peito, para que não lho tirassem nem lhe pudessem ver o fundo.

Nem era este meu parente excelente atirador, unicamente como soldado ou de espingarda; mais o que muito mais admira pela dificuldade e muito mais talvez ainda pela singularidade, era também um insigne atirador de bodoque; de sorte que achan-do-se em sua casa um francês, e estando um cabrito bastante longe a roer uma planta; sem mais demora, ele toma o bodoque; faz a pontaria; e tão certeira foi esta; que a pelota foi dar no focinho do cabrito; o que produziu no francês um tal entusiasmo ou uma tão grande admiração; que este não sossegou, enquanto o meu parente não lhe deu ou não lhe vendeu o bodoque para levá-lo para a França.

Depois de velho, a sua maior distração era a de fazer palitos; e quando ia visitar-me, já eu sabia que tinha sortimento para muito tempo. Assim como em toda a parte, em Queluz todos os rebeldes foram despronunciados; mas aqui como em outros lugares, se exigia como condição da despronúncia que os rebeldes assinassem um termo em que declaravam que haviam sido iludidos e que não havia quem mais do que eles, amasse as leis e o imperador, etc.”.

Presenteia-nos com o texto, o senhor Francisco de Paula Ferreira de Rezende. Alguém de ainda falarei em outras edições deste Jornal Correio de Minas.

Luiz Otávio da Silva

Pesquisador

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