Museu Céu Aberto em Lafaiete

Por João Vicente

Museu Céu Aberto é um projeto cultural que tem como objetivo transformar a paisagem urbana de uma cidade em um museu de arte ao ar livre. A ideia é que muros, paredes e prédios abandonados sejam revitalizados por artistas locais ou mesmo internacionais, com obras de arte que transformem a cidade em um espaço mais bonito, criativo e diverso.

O Museu Céu Aberto pode funcionar de diversas formas e ser implementado em diferentes locais, como viadutos, muros de escolas e hospitais, praças públicas, estacionamentos, entre outros. A escolha dos artistas e das obras deve ser realizada de forma democrática e aberta à participação da comunidade local.

Além de embelezar a cidade, o Museu Céu Aberto também tem como objetivo promover a educação e a cultura, tornando acessível para toda a população o contato com obras de arte. Para isso, podem ser realizadas visitas guiadas, atividades educativas e oficinas artísticas.

O Museu Céu Aberto é uma iniciativa que une arte, cultura e cidadania em um projeto transformador, que pode contribuir para a revitalização de espaços públicos e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem na área urbana.

Praça Barão de Queluz

Foto: Fabio Maia/Circuito vilas e Fazendas

 Praça Barão de Queluz é um dos principais pontos turísticos de Conselheiro Lafaiete, localizada no centro histórico da cidade. A praça recebeu este nome em homenagem ao Barão de Queluz, Joaquim Lourenço Baeta Neves, Tenente-Coronel da Guarda Nacional.

A Praça Barão de Queluz abriga monumentos e placas alusivas à história do povoamento, de acontecimentos históricos e pessoas ilustres com destaque para o Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira.

Conhecido no passado como Largo da Matriz, Jardim de Areia, a Praça Barão de Queluz foi palco da Batalha de Queluz vencido pelas tropas dos rebeldes liberais no movimento político e armado conhecido na histografia brasileira de “Revolução Liberal de 1842”, episódio que teve lugar nas Províncias de Minas Gerais e São Paulo.

 Um dos destaques da praça é o Chafariz, construído em 1881 e o monumento dedicado ao Lafayette Rodrigues Pereira, o Conselheiro do Imperador D.Pedro II. O local foi palco da Batalha de Queluz, conflito armado entre as tropas legalistas e os revoltosos liberais, ocorrida em 26 de julho de 1842.

Museu Ceu Aberto: Praça Barão de Queluz, palco da Batalha de Queluz

Monumento do  Conselheiro Lafaytte e o Chafariz na Pça Barão de Queluz

Palco da Batalha de Queluz, a Praça Barão de Queluz é um espaço publico que pode abrigar o primeiro museu céu aberto do Brasil sobre o Movimento Revolucionário de 1842, episódio que ocorreu no século XIX e que abalou a Província de Minas Gerais. O projeto de transformar a praça no museu céu aberto surgiu em 2011 com o projeto cultural “Memória Viva de Queluz”- que na época comemorou os 169 anos da Batalha de Queluz com atividades culturais no evento intitulado de “1ª Mostra do Movimento Revolucionário de 1842 – Batalha de Queluz”, quando os seus organizadores apresentaram a proposta a comunidade lafaietense.

Foto: Participação do IHGMG no evento alusivo a presença de Queluz no Movimento Revolucionário de 1842. Destacamos a presença do Desembargado Juiz Dr. Marco Brant e da historiadora e pesquisadora da história de Queluz, a educadora D.Avelina Noronha.

Na verdade a proposta recebeu apoio de muita gente que lida com cultura, inclusive de autoridades do judiciário estadual, do poder legislativo e executivo lafaietense. Só que até hoje a ideia não foi para frente. Falta vontade política dos gestores públicos em implementar um projeto cultural de baixo custo e de valor histórico imprescindível para a memória cultural da nossa cidade. Enfim, continuo acreditando  que um dia a Praça Barão de Queluz é um dos principais pontos turísticos de Conselheiro Lafaiete, localizada no centro histórico da cidade, realmente se transforme no primeiro –“ Museu Céu Aberto do Movimento Revolucionário de 1842.”

Museu Céu Aberto “ Batalha de Queluz” – Projeto resgata a história política de Queluz no Movimento Armado de 1842

Por João Vicente

O ano de 1842 no Brasil prometia ser duro para o então jovem imperador. Motivo, o Partido Liberal, desde 1º de janeiro, começou a reunir secretamente na Sociedade Patriarcas Invisíveis, de cunho maçônico, preparando para um levante armado contra as medidas chamadas regressivas do Gabinete formado pelo Partido Conservador e pela dissolução da Câmara dos Deputados pelo Imperador D. Pedro II em maio de 1842, principal estopim da revolta.

Em suas reuniões secretas, os Patriarcas Invisíveis traçaram seus planos para combater os conversadores e tentar convencer ao jovem imperador que ele estava apoiando reformas retrógradas e para eles(liberais), era uma afronta a Constituição. Aqui em Minas, representando o Partido Liberal, participa desta organização secreta, Teófilo  Otoni que, juntamente, com os demais participantes, decidem que a única saída era pegar em armas e definem a estratégia de iniciar  a revolta, primeiro em São Paulo e depois em Minas. “Esse movimento ficou conhecido na historiografia brasileira de” Revolução Liberal” de 1842″.

E o que a Villa de Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete, tem haver com isso? Muito!. Já nesta época, existia na grande Queluz uma oligarquia local de dois grupos políticos antagônicos muito forte ligado as famílias Baeta Neves e a Rodrigues Pereira, dentre outras famílias, que foram protagonistas do maior conflito armado da Província de Minas Gerais no século XIX.

O levante em São Paulo fracassou em 7 de junho, quando os rebeldes liberais paulistas foram derrotados pelo exercito de Caxias no Combate de Venda Grande (assista os episódios sobre o tema em capítulos produzido pela EPTV de Campinas-SP, filiada a Rede Globo no  YouTube).

Pintura sobre o Combate de Venda Grande-Campinas-SP

Sem saber da notícia, os liberais mineiros proclamam em 10 de junho de 1842, em  Barbacena, um ato militar com as Guardas Nacionais locais, Jose Feliciano, futuro Barão de Cocais, presidente interino dos insurgentes em Minas, que ficou conhecido como, o Fujão, ao desertar do exército rebelde após a vitória dos liberais em Queluz.

Ao receber noticias da eclosão do Movimento armado em Barbacena, os vereadores liberais de Queluz assinam documento reconhecendo Jose Feliciano, Presidente  Provisório da Província de Minas Gerais e se preparavam para a guerra contra os conservadores. “Queluz às armas”, gritou Jacob e Marciano Brandão em frente  a Câmara dos Vereadores com mais de 500 homens, todos armados.

Queluz foi a segunda cidade a reconhecer o governo provisório em 13 de junho. Minas possuía 42 municípios e 15 aderiram ao Movimento Armado de 1842.

Litografia  da Aclamação de José Feliciano, Presidente Interino dos Insurgentes na Praça de Barbacena
 

Queluz e o palco da Batalha

A frente dos liberais em Queluz,  estava o Cel. Antônio Rodrigues Pereira, pai do Lafayete Rodrigues Pereira (Conselheiro Lafayette) que transformou a Fazenda dos Macacos no quartel geral dos insurgentes.

A Villa que vivia entorno do Largo da Matriz era constantemente dominada ora pelos legalistas, ora pelos insurgentes durante os 72 dias de conflitos. A localização de Queluz  era estratégica  pela sua aproximação da capital Ouro Preto. O primeiro  conflito entre as tropas inimigas de Queluz, aconteceu em 4 de julho e vencido pelos liberais.

Como medida de segurança, o governador Jacinto da Veiga, transferiu a Câmara de Queluz para o distrito de Catas Altas da Noruega. Mas, o grande combate ainda estava por vir. Reunidos em Santa Amaro(Queluzito), o comando militar dos insurgentes planejam a melhor estratégia para retomar Queluz e tomar de assalto a capital de Minas.

Aí, que entra a figura do Capitão Marciano Pereira Brandão, que segundo Cônego Marinho, autor do livro Historia do movimento politico que no ano de 1842 teve lugar na província de Minas Gerais, destacou que o Capitão Marciano o estrategista da Batalha de Queluz. O seu alvitre de tomar Queluz foi aprovado pelo Comando Militar e o resultado foi extremamente positivo para os insurgentes levando os liberais a vitória. Aliás, a Batalha de Queluz foi o único lugar que as tropas legalistas  formadas pela Guarda Nacional e com alguns experientes militares foram vencidas. 

Ao amanhecer do dia 27 de julho, as tropas legalista de lenços brancos na ponta das baionetas, renderam-se.

Pintura da artista plástica Cidinha Dutra e o livro do Cônego Marinho sobre o Movimento de 1842

Prisão, Retaliações ,Julgamentos, Assassinatos  e Anistia

No dia 20 de agosto, a Batalha de Santa Luzia põem fim ao Movimento Armado liderado pelo Partido Liberal. Os insurgentes liberais são derrotados pelo exercito Imperial comandado por Caxias em Santa  Luzia e os principais líderes foram  presos e levados a pé a capital, Ouro Preto. O governador da época, o legalista Bernardo Jacinto da Veiga, que não mediu esforços para apressar e condenar todos os envolvidos presos. A radicalização se deu em varias partes de Minas. Os políticos caciques locais do Partido  Conservador não perdoaram os rivais. Em Queluz a família do estrategista Capitão Marciano Brandão fora expulsa de Queluz, propriedades foram tomadas, algumas terras salgadas, queimadas, julgamentos até emboscadas com morte foi realizadas pelos vencedores. Olha o que diz, Conego Marinho: “Mandaram, pois prender centenas de indivíduos, fizeram deportações, ordenaram degredos, mandaram dar buscas por toda a província (…) deram causa a que muitos cidadãos, que se conservavam mansos e pacíficos em suas casas, fossem barbaramente assassinados por patrulhas legais (…) A indisposição de algum delegado ou subdelegado (…) conduziu muitos indivíduos para as cadeias, e nunca deixavam de ir acorrentados (MARINHO, 1844/1978, pp.293, 247)”. Julgamentos eram forjados até que o Imperador pressionado pelas forças políticas, em março de 1844, assina decreto de anistia irrestrita para todos que estavam envolvidos no levante.

Museu da Inconfidência, prédio que abrigava em 1842, a Câmara e cadeia para onde foi levado os lideres do Movimento.

Projeto   Museu Ceu Aberto: “ Batalha   de Queluz “

Bom, como vocês podem perceber o conflito de 1842 entre as oligarquias não foi uma coisa pequena ou que tenha que ser esquecido. A presença de Queluz no Movimento de 1842 foi marcante e a Batalha de Queluz, episódio que teve lugar no largo da Matriz, hoje Praça Barão de Queluz é sem duvida um espaço publico ideal para ser transformada num espaço cultural de relevância histórica política não só de Minas mas, também na história política do Brasil  Império. O nosso projeto de criação do Museu Céu Aberto foi apresentado em 2012, pelo Movimento Cultural Memória Viva de Queluz e que, infelizmente não foi abraçado por ninguém até o momento. A visão que eu tenho que a Revolução Liberal de 1842 é um estorvo na historiografia da nossa cidade. O projeto é de baixo custo, trás recursos públicos, atrai turista, embeleza a praça  e valoriza a memória histórica política  e cultural da Villa de Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete. Termino dizendo uma frase que gosto muito do poeta baiano. Castro Alves, que dizia:

 “A praça é do povo, como o seu é do Condor” e que venha o Museu Céu Aberto, “Batalha de Queluz”  mais cedo ou mais tarde.

Texto do Livro Lafayete Rodrigues Pereira, editado pela Lesma Editora.
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