Avelina Maria Noronha de Almeida
O pranto eu enxuguei de inúmeros aflitos!
A nudez eu vesti, apaziguei conflitos!
Fome e sede matei! Senhor, fui Vicentino!
José Ignacio Dias de Faria
Um morador antigo, personagem da encantadora Rua Coronel João Gomes, era o Professor José Ignacio Dias de Faria. Eu me lembro muito dele, na década de quarenta, quando ia com meu pai à sua escola, pois meu pai era muito amigo dele.
Esse senhor muito ilustre nasceu em Conselheiro Lafaiete, no dia 1º de fevereiro de 1889. Seus pais eram Francisco Dias de Faria e Maria José de Jesus, e um de seus filhos era o competente advogado Sinésio Dias de Faria, falecido há poucos anos. Foi professor primário da primeira Escola Noturna da cidade, onde exerceu o magistério por mais de trinta anos.
Numa época mais antiga foi “fabriqueiro”, isto é, zelador da Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Fabriqueiro era, em tempos passados, a pessoa encarregada de recolher os rendimentos de uma igreja, administrar todo o patrimônio da mesma e zelar pela conservação de alfaias e parâmetros, como podem verificar nos dicionários. Era, assim, algo de muita responsabilidade e um cargo que só pessoas muito qualificadas podiam exercê-lo.
Foi, também, Amanuense da Secretaria da Câmara Municipal e Secretário do Cartório Eleitoral. Amanuense era o nome que se dava antigamente ao secretário de repartição pública. Dirigiu os primeiros trabalhos do Censo Demográfico neste município cabendo-lhe, pelo trabalho, um prêmio. Fundou diversas Conferências Vicentinas , sendo responsável pela compra do terreno e construção do Asilo de Velhos São Vicente de Paulo. Provedor da Irmandade de Santo Antônio de Queluz e, por várias vezes, Presidente do Conselho Particular Vicentino, em ambas as entidades religiosas atuou com responsabilidade, dinamismo e alcançou para as mesmas grandes frutos.
Vejam, leitores, que participação maravilhosa na história encantada da rua que está sendo focalizada!
Mas agora vem a parte de uma beleza especial, a parte lírica, vem a alma de poeta. Não conhecemos outras poesias dele, mas deviam ser lindas. Só veio a mim um poema, feito com o apuro da poesia clássica, no qual ele homenageia o vicentino Manoel Lino do Nascimento, e que, com sua delicadeza lírica, é uma amostra da grandeza literária do autor:
A ÚLTIMA ROMARIA
(Os pobres a que tiverem socorrido no mundo
virão, eles mesmos, abrir-lhes as portas do Céu)
São Vicente de Paulo)
HOMENAGEM AO SAUDOSO VICENTINO
PROFESSOR MANOEL LINO DO NASCIMENTO
Certa manhã, de um céu azul, primaveril,
Mãos em cruz sobre o peito, aspecto patriarcal,
Ao Paraíso chega uma alma peregrina.
Bate de leve… Então São Pedro, o venerável
Porteiro de Jesus, o atende e inquire, afável:
Quem é?… Quem busca a paz desta Mansão Divina?
O recém-vindo explica, em tom humilde e meigo:
Senhor, eu fiz na terra o apostolado leigo,
Praticando as lições do Mestre Divino!
O pranto eu enxuguei de inúmeros aflitos!
A nudez eu vesti, apaziguei conflitos!
Fome e sede matei! Senhor, fui Vicentino!
(Continua)