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Caixa Cultural São Paulo recebe Labirinto de Amor, exposição inédita do artista plástico lafaietense Jorge Fonseca

De 26 de maio a 29 de julho, o público poderá interagir com mais de 30 obras do mineiro autodidata que já foi maquinista de trem e marceneiro; a entrada é gratuita

 Costurar, pintar e bordar o amor. Enfeitar e dar graça a desilusões, tropeços, desavenças. É assim que o artista plástico Jorge Fonseca concebe sua obra, criações que dão um novo significado a objetos do imaginário coletivo e apontam brechas de afeto em coisas simples do cotidiano. Entre os dias 26 de maio e 29 de julho, boa parte de seu trabalho poderá ser conhecido na Caixa Cultural São Paulo, na exposição inédita e gratuita Labirinto de Amor.  A visitação pode ser feita das 9h às 19h, de terça a domingo.

As mais de 30 obras da mostra (que pertencem a acervos de grandes instituições e colecionadores) foram produzidas entre 1998 e 2015 e contam um pouco da trajetória deste artista mineiro autodidata, que por mais de 15 anos foi maquinista de trem e marceneiro. Segundo a curadora da exposição, a crítica de arte Fernanda Terra, Jorge Fonseca é um grande observador do cotidiano, das relações, dos sentimentos. “Por mais que sua obra aborde questões da cultura popular novelística, folclore e religiosidade, o amor se destaca”, afirma. “É um reflexo de como ele enxerga o outro, sempre de um jeito carinhoso”, completa.

Em criações singulares que misturam artesania, arte conceitual, pop, kitsch, há uma forte atitude contemporânea, uma crítica contundente às relações humanas. Ele dá outra leitura a materiais comuns, tecidos, miudezas de armarinho ou objetos simples que habitam o imaginário de muita gente. “É o que chamo de ‘obra desfrutável’. As pessoas se envolvem emocionalmente com as histórias contadas por cada peça. Se reconhecem, recordam vivências ou lembram de alguém que viveu aquilo. É algo que fala do real, da vida como ela é, mas não de uma forma endurecida e sim cheia de afeto. É difícil observar uma das obras e não abrir um sorriso. E ao mesmo tempo é ácida, irônica, remete aos sentimentos mais íntimos”, sublinha a curadora.

De acordo com ela, a exposição “Labirinto do Amor” é também um convite a interagir, na prática, com o universo lúdico de Jorge Fonseca. Os visitantes poderão tocar e participar de três obras que provocam os desejos, medos e emoções. Fernanda Terra diz que duas peças interativas fazem parte da instalação Fiotim, museu em movimento que já percorreu várias cidades brasileiras. Um exemplo é a obra Renascedouro, uma espécie de tiro ao alvo onde a pessoa derruba as fraquezas humanas como medo, inveja, tédio, raiva ou preguiça.

“A mostra sugere a observação da nossa vida e da vida do outro de um jeito diferente. São obras que contam histórias, falam de percalços, sofrimentos, humores e alegrias tão familiares às pessoas. É como o nome da exposição sugere: a vida nada mais é que um grande labirinto de situações inesperadas”, diz.

O cotidiano sob uma ótica afetuosa

Jorge Fonseca nasceu em Conselheiro Lafaiete, a 100 km da capital mineira. Era nos intervalos da jornada de trabalho, como maquinista, que ele aproveitava para dar vida às suas criações, no início da década de 1990. “Isso ajuda a explicar a predominância do bordado na minha obra nessa fase. Eu passava longos períodos no trem, em demoradas viagens, quase não tinha tempo para exercer o ofício em casa. Levava para a cabine tecidos, linhas, agulhas, materiais de armarinho e bordava ali mesmo, durante as longas paradas do trem”, conta o artista.

              Nessa época, em 1995, ele foi convidado a integrar o Salão de Arte Contemporânea de Campos (RJ) e no ano seguinte conquistou seu primeiro prêmio no mesmo salão fluminense e no 53º Salão Paranaense. Em 2009 foi contemplado com uma bolsa da Fundação Pollock-Krasner (Nova York), para estímulo à produção. Foi o vencedor do último Prêmio PIPA Online, em 2017. Sua obra integrou dezenas de exposições coletivas e individuais em respeitados espaços como a Pinacoteca de São Paulo, MAM Rio, Funarte do Rio de Janeiro e Brasília, Palácio das Artes, 6ª Bienal de Arte Contemporânea de Kaunas, na Lituânia, Feira Internacional de Arte de Buenos Aires, Quadrienal de Praga, na República Tcheca, entre outros.

“O meu trabalho é uma espécie de baú de memórias. Conta muito da maneira que aprendi a enxergar o mundo, o jeito que tenho de contar histórias, de falar de pessoas comuns. Uso materiais simples, triviais, como tampinhas, linhas de costura, tecidos modestos. Tudo isso tem a ver com minha origem, como aprendi a enxergar o outro. Cresci ao pé da máquina de costura da minha tia, cuja principal clientela eram moças de um bordel próximo. Entrava e saía de lá com muita frequência, fazendo mandados, e convivia muito com elas e seus objetos. Almofadas de cetim em formato de coração, a penteadeira repleta de perfumes, bibelôs, cores, babados, rendas. Tudo isso habitava o meu imaginário e me influencia até hoje”.

          Segundo o artista, uma das principais características do seu trabalho é o conceito novelístico de amor do ideário popular brasileiro, carregado de melodrama e poesia. “Me acostumei a esmiuçar o ambiente doméstico e os locais públicos em busca de situações cotidianas, banais e costumeiras, mas que revelam muito do que somos. A partir daí, crio simbologias e jogos interpretativos, trabalhos que evocam uma pequena história de vida: meio fato, meio fantasia.

Venho, ao longo desses anos, desenvolvendo uma obra que já pode ser destacada por sua especificidade: apesar de ser fortemente influenciada pela cultura popular e pelos processos artesanais, é completamente integrada a questões artísticas da contemporaneidade. Meu trabalho não se encerra no visual altamente popular, mas se coloca como um pretexto e até um caminho para reflexões acerca de dramas íntimos e questões existenciais, individuais e coletivas”, explica.

Serviço: 

Exposição Labirinto de Amor, de Jorge Fonseca

Local: CAIXA Cultural São Paulo – Praça da Sé, 111 – Centro

Abertura e visita guiada com Jorge Fonseca: 26 de maio, às 11h

Visitação: de 27 de maio a 29 de julho

Horário: 9h às 19h (terça a domingo)

Classificação indicativa: livre para todos os públicos

Entrada franca

Acesso para pessoas com deficiência

Patrocínio: Caixa Econômica Federal

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