GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA
Avelina Maria Noronha de Almeida
NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 9
AVELINA MARIA NORONHA DE ALMEIDA
“Perduramos em espírito enquanto resta a nossa memória.”
A IGREJA MAIS ANTIGA DE NOSSA CIDADE – SÃO GONÇALO
1725 – O português Manoel Pereira Brandão pediu provisão para a construção em sua fazenda, onde já havia uma ermida, da igreja de São Gonçalo, que atualmente, restaurada, é a mais antiga igreja existente na cidade.
Se eu perguntar qual é, atualmente, o templo mais antigo da cidade de Conselheiro Lafaiete que está de pé, muitas pessoas me responderão logo ser a Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Estarão dando uma resposta errada
Por volta de 1720, um português, Manoel Pereira Brandão, veio para terras de Carijós (como era chamada na época a nossa cidade), aqui fundando sua fazenda. Alguns metros à frente da mesma, ergueu, primeiramente, uma ermida e, em 1726, conseguiu provisão para a capela dedicada a São Gonçalo.
A Matriz de Nossa Senhora da Conceição iniciou sua construção em 1733, assim, a IGREJA DE SÃO GONÇALO (erecta em 1725, de acordo com o historiador Pe. José Duarte) é, ATUALMENTE, O MAIS ANTIGO TEMPLO DE CONSELHEIRO LAFAIETE, cremos que, até mesmo, o mais antigo monumento de nossa cidade.
Como a família foi crescendo e também outras foram mudando para aquelas terras, ali se formou, com o tempo, uma localidade que, inicialmente, denominou-se São Gonçalo do Camapuã, passando, depois, a ser chamada de São Gonçalo do Brandão.
MAS QUEM ERA MANOEL PEREIRA (DE AZEVEDO) BRANDÃO?
Existe um livro muito interessante: “CAMINHOS DO CERRADO – A trajetória da Família Pereira Brandão”, escrito por José Américo Ribeiro, Eduardo Carvalho Brandão e Olímpio Garcia Brandão, descendentes de Manoel Pereira Brandão.
A obra, em formato grande e com 561 páginas, grande também na essência, focaliza a genealogia do varão português, filho de Lucas Pereira e Maria Brandão, que chegou a Carijós por volta de 1720, casado com Jerônima do Pinho, filha de Estevão João e MariaTavares, trazendo os filhos Manoel, Damiana Roza de São José, João, Alexandre, Theodósio (antepassado dos autores) e Roza Maria de São José. Vieram eles da freguezia de São Miguel de Urrô, Conselho de Arouca, bispado de Lamego, distrito de Aveiro, em Portugal, desenvolvendo, de modo detalhado e extenso, a descendência de Theodósio, que é a linha direta de parentesco deles. Esse trabalho é feito de maneira muito atraente pela quantidade de fotos e de fatos acontecidos com membros da família.
No anexo I, vem um estudo feito pelo historiador lafaietense Allex Assis Milagre sobre os demais filhos de Manoel Pereira Brandão, destacando a importância “desse clã que teve participação destacada na vida social, política, artística e cultural desta terra”.
Mas voltando à igreja de São Gonçalo:
Em 1808, já em tempos da Real Villa de Queluz, foi feita, do lado direito, uma sacristia.
Em 1815, outra novidade nessa igreja. Havia um filho de Carijós muito ilustre, o Cônego Doutor Francisco Pereira de Santa Apolônia (Foto abaixo-Imagem da Internet), que era irmão do inconfidente Padre Fajardo.
Muito culto, um dos maiores oradores do Arcebispado, foi Presidente da Junta Provisória do Estado, em 1822. Também Vice-Presidente quatro vezes e Presidente da Província de Minas Gerais, Chantre do Cabido de Mariana e, por alguns dias, governou o bispado de Mariana. Embora não residisse permanentemente também tinha sua residência no Largo da Matriz (atual Praça Barão de Queluz), onde hoje fica hoje o Fórum.
No ano acima citado, Santa Apolônia conseguiu a carta de alforria para SILVÉRIO DIAS, um escravo de Ana Pulcheria de Queiroz, com a condição de que ele fizesse a talha dos altares do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Soledade na Matriz de Queluz, e os altares da IGREJA DE SÃO GONÇALO, então filial da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e de uma outra cujo nome estamos tentando apurar. Já pensaram que fato belíssimo! Com quanto amor deve esse artista ter trabalhando, sabendo que aquela talha tão delicada e bela faria parte do resgate de sua liberdade?
Vejam a delicadeza da talha feita por Silvério Dias!
Durante muitos anos, a igrejinha abrigou os fiéis na prática do culto religioso, até que, já pertencendo à Paróquia de São Sebastião, sendo vigário, na época, o Monsenhor Antônio José Ferreira, foi construída uma nova igreja. O velho templo não foi destruído, ficando escondido atrás do novo, a ele se chegando através do cemitério. Já quase em ruínas, com a talha retirada do altar e guardada, ficou durante muitos anos.
Tempos atrás, passou a igreja de São Gonçalo a pertencer à Paróquia da Luz. Um belo dia, o povo de São Gonçalo procurou o vigário João Batista Barbosa que escrevesse uma carta para o Banco do Brasil pedindo patrocínio para a restauração da antiga igreja. Pedido atendido. A restauradora Maria Regina Reis Ramos, do Grupo de Oficina Restauro de Belo Horizonte foi a responsável pelos trabalhos e hoje, recuperada toda a delicadeza da talha, a pintura original, deixou como nova a igreja primitiva, do tamanho que tinha no século XVIII, apenas com o acréscimo da sacristia feito em princípios do século XIX.
Parabéns para o povo de São Gonçalo, de modo especial para aqueles que mais trabalharam para o sucesso do empreendimento!