Nossa Senhora, a barragem do Feijão rompeu em Brumadinho. Deu no rádio. Notícia que ninguém queria ouvir. Vem a TV com imagens de chocar e chorar. É difícil acreditar. Ler, nem pensar. Até o tempo fechou. Coisa de louco. Só cabem orações. A nossa Gerais é terra de minas, minas sem fim. A atividade minerária é coisa bruta, pesada, e perigosa. É preciso cuidado, muito cuidado com o andar da carruagem no segmento. A prevenção e segurança urgem de ser tão ou mais pesada que se possa imaginar. É, a barragem do Feijão depois de décadas “vomitou”. A força da lama que desceu morro abaixo é igual a de um vulcão em erupção, só que sem ronco e fumaça. A lama é escura, lúgubre e poluente. É um maciço que passa sem dó e compaixão, sem qualquer receio do que bater de frente. É de uma força descomunal, capaz de tombar coluna maior que o lendário Colosso de Rhodes. Tem o poder de arrastar e engolir instalações gigantes, prédios, vagões de ferrovia, veículos de todo porte como se fossem miniaturas de brinquedo. Uma coisa fora do comum. O salve-se quem puder é intempestivo, vidas humanas tragadas, sem qualquer chance de se salvarem. Muito triste. É gente operária de primeira linha levadas precocemente, e que só conseguiram deixar rastro de um tempo futuro para a lembrança. De um momento para o outro, a vida de muitos sucumbiu, deixando os vivos órfãos agasalhados de saudade. O sentimento de perda e o desastre são sem explicação. Estradas, pontes, pousadas, sítios, animais, hortas, jardins, pomares, campos verdejantes, casas e pessoas deixaram de existir. Viraram lenda. O rastro legado é desolador, um verdadeiro vale de lágrimas. Nem efemérides nascem. Nunca mais o sol e o orvalho das manhãs serão sentidos pelos moradores, o mugido da vaca, o trato dos porquinhos, o relinchar e trote do animal de montaria, os ovos frescos, o gorjear dos pássaros, o brilho do sol e o silêncio da noite paramentada pela lua e estrelas; nunca mais. Felizmente, no meio de toda a tragédia, surge uma legião de verdadeiros heróis. Se trata de gente abnegada e corajosa que são os bombeiros, militares, voluntários, religiosos, filantropos, gente de fora e pessoal de apoio em todo norte, agasalhados de fé, empatia e tristeza. Muita tristeza. O lamaçal da destruição só encontra fim quando desagua no rio e finalmente é diluído deixando marcas profundas. Segredos vão junto. A causa do desastre é um verdadeiro imbróglio e vem lá de trás, de priscas eras. A formação da barragem é material que cresce imperceptivelmente a cada segundo por anos e anos. O tempo passa e os que convivem acostumam com uma visão padrão que impede de enxergar o perigo iminente submerso. Silenciam ou mesmo inadmitem que a natureza move, quando algo inexoravelmente vive e mexe, nem que seja microbiana. As montanhas são eternas, mas, com certeza a solidez aumenta ou diminui com o passar dos séculos. A natureza quando molestada dá o seu grito de dor e depois permanece silenciosa e fria. Mas, algo jamais padece, e sempre paira a expectativa de a qualquer momento despertar e mostrar a sua fúria. E quando acontece é indomável e serve de alerta. Há um ditado que diz: todo alimento ceifa vida. A barragem por décadas e décadas foi alimentada e permaneceu inerte e acomodada. Mas algo a fez despertar. Talvez pela ausência de cuidados, ou mesmo de ter ocorrido de ficar nervosa com o sufoco do ínfimo espaço que ocupava e bateu nela a vontade de se ver livre das amarras e encostas, e, foi quando então surtou, e se auto destruiu.
A tragédia se imortalizou nos anais da história mineira, assim como a dor na alma de cada parente e amigo que perdeu entes queridos, o que, permanecerá por gerações, acalentado no berço da eternidade. Mas, a vida inapelavelmente desperta para um novo amanhã cheio de esperanças. A força de bravos mineiros forjados de fé e força de trabalho são o ponto de partida para seguir adiante, pois, sabem que o mundo é um lugar que vale à pena lutar. O sinal de alerta permanece latente de que a natureza necessita de comprometimento e respeito, muito respeito, de toda a humanidade. A terra, a vida e o homem, são tudo uma coisa só. Mariana e Feijão mereciam como outras barragens merecem, cuidado especial, muito especial, mesmo porque, um desastre não escolhe mortos e feridos. E, nesse patamar vem à lume que todos somos iguais, que todos somos mortais. As tragédias jamais poderiam acontecer, ninguém queria, mas aconteceram. Nossa Senhora que ilumine a força de trabalho dos homens e proteja a todos nós.
Dedicados aos afilhados e amigos de Brumadinho e Conceição do Brumado.
Por: Reuber Lana
Fev/19