26 de abril de 2024 04:55

“Até banho de sol era regrado”, desabafa interventor do asilo de Piranga sobre precariedade e elogia a mobilização dos moradores

O médico João Bosco fez um balando mais que positivo desde que assumiu, como interventor, em junho, a gestão do Asilo Lar dos Idosos São José em Piranga. “O asilo já estava doente e o sintoma mais grave foi o covid-19”, afirmou ao enumerar uma série de problemas e irregularidades detectados na instituição, como sanitárias, financeiras, administrativas e humanas.
Em meados de maio, o asilo foi atacado por um surto do vírus transformando-se no epicentro da doença na Macro Centro-Sul, que reúne 51 municípios. O saldo da vida foi negativo, infelizmente. Dos 74 idosos, 6 vieram a óbitos, 27 foram contaminados e 47 testaram negativo para a doença, 17 foram internados em Lafaiete com 11 altas médicas. 8 contaminados foram mantidos em isolamento social em uma pousada. Nove funcionários testaram positivo mas estão recuperados e retornaram ao trabalho.

A nova situação
Atualmente, o asilo conta com 66 internados das mais diferentes cidades.
Após surto, a instituição vem passando por profundas mudanças que repercutem diretamente mais qualidade vida, conforto e dignidade aos assistidos.

Segundo João Bosco, havia excesso de idosos favorecendo aglomeração e contágio do vírus. “Todos os funcionários usam EPÌ’s e efetivamos melhoria de infra-estrutura do prédio. Havia uma precariedade geral da estrutura. Assim que assumimos trocamos chuveiros, consertamos os vasos sanitários. O prédio sequer tinha alvará sanitário. Estamos aos poucos superando a situação financeira, administrativa e contábil, pagando dívidas como água, luz, trabalhistas, fornecedores. Desde que assumimos a gestão, todas os nossos compromissos estão sendo honrados, resgatando a credibilidade do asilo”, assinalou João Bosco, que espera a regularização do asilo para pleitear verbas de convênios nas mais diversas esferas.
Na parte dos cuidados, os asilados contam com um prontuário para acompanhamento médico e de outras especialidades.  As medicações são rigorosamente controladas com a queda de prescrições. Hoje há atendimento psicológico, de fisioterapia com implementação de atividades físicas e lúdicas diárias. “Até banho de sol era regrado. Hoje oferecemos dignidade, carinho, amor e atenção que incide na melhoria da qualidade de vida e menos remédios”, comemorou o médico.
Segundo ele, não era oferecida uma alimentação balanceada, mas agora os assistidos contam com um cardápio variado sugerido pela nutricionista.
São duas refeições diárias, com carne, cafés matutino e vespertino e frutas.

Mobilização e funcionários
Para promover esta guinada de 360º na instituição foi empreendido um trabalho árduo com a participação de diversos segmentos que se mobilizaram na causa dos idosos.
Através da orientação da Superintendência de Saúde, de Barbacena, a prefeitura assumiu sua responsabilidade e seu papel na intervenção da instituição. Ao assumir o comando, as mudanças iniciaram com uma equipe médica do PSF 24 horas assistindo os internos. Diariamente o asilo é desinfectado pela vigilância sanitária. A cozinha foi transferida para uma escola em frente e as refeições são servidas em marmitex.
O conjunto de mudanças transformou o asilo, bloqueando o contágio do vírus. Mais que isso: resgate da dignidade dos assistidos, oferecendo carinho e despertando autoestima. O médico João Bosco enumera a soma de esforços. “A superação foi capaz graças a intervenção e apoio incondicional da prefeitura, a garra e a dedicação de funcionários, da abnegação da equipe médica, das cantineiras e tantos valorosos
profissionais que, mesmo com o risco de contágio, se dedicaram a causa destes seres humanos extraordinários. E por fim a sociedade piranguense e regional que abraçaram o asilo com doações, voluntariado, ações sociais, lives. Piranga mostrou a força da solidariedade na superação deste desafio que é, sem dúvidas, de toda a sociedade”, assinalou.
Como bem frisou o gestor do asilo, os moradores de Piranga têm de permanecer em mobilização permanente em prol do asilo. “Vencemos uma batalha, mas o asilo requer o engajamento de todos nós. Superamos o surto, mas o local precisa de investimentos, doações constantes e o carinho da sociedade.
Esta atitude que presenciamos tem de ser um estado de espírito permanente”, considerou.
Com 67 assistidos, João Bosco, admitiu que o ideal seria de 56 idosos na instituição. Para isso, a intenção é buscar que seus familiares do assistidos resgatem ao convívio os idosos. Ou mesmo que as prefeituras ajudem na manutenção do asilo. “Se é particular ou público, ali vive seres humanos que precisam de ajuda, compreensão, afeto e inclusão. Isso é papel do poder público como de todos nós cidadãos”, pontuou.
João Bosco afirmou que está preparando todos os relatórios financeiros, um diagnóstico situação encontrada e irregularidades levantadas nestes dois meses de gestão para enviar a prefeitura e ao Ministério Público.
“Não havia gestão”, finalizou. Sem setembro, termina o prazo de 3 meses de intervenção determinado pela Justiça.


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