Por João Vicente
O ano de 1842 no Brasil prometia ser duro para o então jovem imperador. Motivo, o Partido Liberal, desde 1º de janeiro, começou a reunir secretamente na Sociedade Patriarcas Invisíveis, de cunho maçônico, preparando para um levante armado contra as medidas chamadas regressivas do Gabinete formado pelo Partido Conservador e pela dissolução da Câmara dos Deputados pelo Imperador D. Pedro II em maio de 1842, principal estopim da revolta.
Em suas reuniões secretas, os Patriarcas Invisíveis traçaram seus planos para combater os conversadores e tentar convencer ao jovem imperador que ele estava apoiando reformas retrógradas e para eles(liberais), era uma afronta a Constituição. Aqui em Minas, representando o Partido Liberal, participa desta organização secreta, Teófilo Otoni que, juntamente, com os demais participantes, decidem que a única saída era pegar em armas e definem a estratégia de iniciar a revolta, primeiro em São Paulo e depois em Minas. “Esse movimento ficou conhecido na historiografia brasileira de” Revolução Liberal” de 1842″.
E o que a Villa de Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete, tem haver com isso? Muito!. Já nesta época, existia na grande Queluz uma oligarquia local de dois grupos políticos antagônicos muito forte ligado as famílias Baeta Neves e a Rodrigues Pereira, dentre outras famílias, que foram protagonistas do maior conflito armado da Província de Minas Gerais no século XIX.
O levante em São Paulo fracassou em 7 de junho, quando os rebeldes liberais paulistas foram derrotados pelo exercito de Caxias no Combate de Venda Grande (assista os episódios sobre o tema em capítulos produzido pela EPTV de Campinas-SP, filiada a Rede Globo no YouTube).
Sem saber da notícia, os liberais mineiros proclamam em 10 de junho de 1842, em Barbacena, um ato militar com as Guardas Nacionais locais, Jose Feliciano, futuro Barão de Cocais, presidente interino dos insurgentes em Minas, que ficou conhecido como, o Fujão, ao desertar do exército rebelde após a vitória dos liberais em Queluz.
Ao receber noticias da eclosão do Movimento armado em Barbacena, os vereadores liberais de Queluz assinam documento reconhecendo Jose Feliciano, Presidente Provisório da Província de Minas Gerais e se preparavam para a guerra contra os conservadores. “Queluz às armas”, gritou Jacob e Marciano Brandão em frente a Câmara dos Vereadores com mais de 500 homens, todos armados.
Queluz foi a segunda cidade a reconhecer o governo provisório em 13 de junho. Minas possuía 42 municípios e 15 aderiram ao Movimento Armado de 1842.
Queluz e o palco da Batalha
A frente dos liberais em Queluz, estava o Cel. Antônio Rodrigues Pereira, pai do Lafayete Rodrigues Pereira (Conselheiro Lafayette) que transformou a Fazenda dos Macacos no quartel geral dos insurgentes.
A Villa que vivia entorno do Largo da Matriz era constantemente dominada ora pelos legalistas, ora pelos insurgentes durante os 72 dias de conflitos. A localização de Queluz era estratégica pela sua aproximação da capital Ouro Preto. O primeiro conflito entre as tropas inimigas de Queluz, aconteceu em 4 de julho e vencido pelos liberais.
Como medida de segurança, o governador Jacinto da Veiga, transferiu a Câmara de Queluz para o distrito de Catas Altas da Noruega. Mas, o grande combate ainda estava por vir. Reunidos em Santa Amaro(Queluzito), o comando militar dos insurgentes planejam a melhor estratégia para retomar Queluz e tomar de assalto a capital de Minas.
Aí, que entra a figura do Capitão Marciano Pereira Brandão, que segundo Cônego Marinho, autor do livro Historia do movimento politico que no ano de 1842 teve lugar na província de Minas Gerais, destacou que o Capitão Marciano o estrategista da Batalha de Queluz. O seu alvitre de tomar Queluz foi aprovado pelo Comando Militar e o resultado foi extremamente positivo para os insurgentes levando os liberais a vitória. Aliás, a Batalha de Queluz foi o único lugar que as tropas legalistas formadas pela Guarda Nacional e com alguns experientes militares foram vencidas.
Ao amanhecer do dia 27 de julho, as tropas legalista de lenços brancos na ponta das baionetas, renderam-se.
Pintura da artista plástica Cidinha Dutra e o livro do Cônego Marinho sobre o Movimento de 1842
Prisão, Retaliações ,Julgamentos, Assassinatos e Anistia
No dia 20 de agosto, a Batalha de Santa Luzia põem fim ao Movimento Armado liderado pelo Partido Liberal. Os insurgentes liberais são derrotados pelo exercito Imperial comandado por Caxias em Santa Luzia e os principais líderes foram presos e levados a pé a capital, Ouro Preto. O governador da época, o legalista Bernardo Jacinto da Veiga, que não mediu esforços para apressar e condenar todos os envolvidos presos. A radicalização se deu em varias partes de Minas. Os políticos caciques locais do Partido Conservador não perdoaram os rivais. Em Queluz a família do estrategista Capitão Marciano Brandão fora expulsa de Queluz, propriedades foram tomadas, algumas terras salgadas, queimadas, julgamentos até emboscadas com morte foi realizadas pelos vencedores. Olha o que diz, Conego Marinho: “Mandaram, pois prender centenas de indivíduos, fizeram deportações, ordenaram degredos, mandaram dar buscas por toda a província (…) deram causa a que muitos cidadãos, que se conservavam mansos e pacíficos em suas casas, fossem barbaramente assassinados por patrulhas legais (…) A indisposição de algum delegado ou subdelegado (…) conduziu muitos indivíduos para as cadeias, e nunca deixavam de ir acorrentados (MARINHO, 1844/1978, pp.293, 247)”. Julgamentos eram forjados até que o Imperador pressionado pelas forças políticas, em março de 1844, assina decreto de anistia irrestrita para todos que estavam envolvidos no levante.
Projeto Museu Ceu Aberto: “ Batalha de Queluz “
Bom, como vocês podem perceber o conflito de 1842 entre as oligarquias não foi uma coisa pequena ou que tenha que ser esquecido. A presença de Queluz no Movimento de 1842 foi marcante e a Batalha de Queluz, episódio que teve lugar no largo da Matriz, hoje Praça Barão de Queluz é sem duvida um espaço publico ideal para ser transformada num espaço cultural de relevância histórica política não só de Minas mas, também na história política do Brasil Império. O nosso projeto de criação do Museu Céu Aberto foi apresentado em 2012, pelo Movimento Cultural Memória Viva de Queluz e que, infelizmente não foi abraçado por ninguém até o momento. A visão que eu tenho que a Revolução Liberal de 1842 é um estorvo na historiografia da nossa cidade. O projeto é de baixo custo, trás recursos públicos, atrai turista, embeleza a praça e valoriza a memória histórica política e cultural da Villa de Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete. Termino dizendo uma frase que gosto muito do poeta baiano. Castro Alves, que dizia:
“A praça é do povo, como o seu é do Condor” e que venha o Museu Céu Aberto, “Batalha de Queluz” mais cedo ou mais tarde.