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Mineradora Vale terá que fazer intervenções em 18 barragens, em Belo Vale, Mariana, Ouro Preto e outras cidades

“Medidas técnicas” são necessárias, diz MPMG; órgão e Estado avaliaram situação. Processos erosivos precisarão ser tratados em três estruturas

“Não tem como viver de forma tranquila com uma barragem em nível 3”. O relato, que demonstra medo e desespero, é de Tatiana Sansi, 39, moradora de Macacos, distrito de Nova Lima, na região metropolitana. A estrutura a que ela se refere é a barragem B3/B4, da Vale, que fica perto da casa dela e está em nível máximo de alerta de rompimento. Inspeção do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e do governo do Estado determinou que a barragem e outras 17 estruturas da mineradora precisam de intervenções.

Tatiana contou à reportagem que a “apreensão” é constante entre os vizinhos e aumentou nos últimos anos. “Os temporais recentes fizeram com que ficássemos ilhados, pois um muro feito pela Vale para conter um possível rompimento da barragem transbordou de tanta água. Tive que ficar três dias fora. Perdi muitas coisas de trabalho”, lamenta a arte-educadora.

O drama dos moradores aumentou com a determinação de intervenção, uma medida preventiva a ser tomada em 18 das 31 barragens de Minas devido às intensas chuvas de dezembro de 2020 e deste mês. Documentos enviados por  Vale e ArcelorMittal e Minérios S/A  foram analisados por  Fundação Estadual do Meio Ambiente e MPMG.

“As grandes chuvas afetaram diversas estruturas, que necessitarão de contínuo e rigoroso acompanhamento por parte dos órgãos de comando e controle. A partir das informações recebidas, serão exigidas das empresas todas as medidas técnicas possíveis e necessárias para garantir a segurança das estruturas”, informou, em nota, o promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente. A reportagem solicitou entrevista com ele, mas o órgão respondeu que “não vai se posicionar por ora”.

Emergência

Entre as 18 estruturas que deverão passar por intervenções, outras duas estão em nível 3 de emergência: barragens Sul Superior e Forquilha III (veja mais abaixo). A análise apontou que a Vale enfrenta dificuldades de acesso às estruturas e que, apesar do nível emergencial, elas não apresentaram danos diretos após os temporais recentes. 

Para essas barragens, as notificações solicitam medidas para o tratamento dos processos erosivos nos entornos e para a garantia da manutenção das estruturas; ; manutenção e limpeza dos sistemas de drenagem interna, superficial e do extravasor; redução da contribuição pluvial da bacia de drenagem para o reservatório da barragem; e garantia da manutenção de rotina da estrutura inclusive com controle de vegetação

A Vale terá o prazo de até dez dias para apresentar relatório técnico fotográfico, acompanhado de anotação de responsabilidade técnica, informando quais são as medidas executadas pela empresa ou o respectivo cronograma detalhado para tomar as ações solicitadas.

Estruturas são monitoradas 24 horas por dia, diz mineradora

Procurada pela reportagem de O TEMPO, a mineradora Vale informou, por meio de nota, que “para garantir a segurança de suas barragens, a empresa monitora as suas principais estruturas 24 horas  por dia, sete  dias por semana, em tempo real, por meio do Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG)” – inclusive nas 18 estrutura onde vai  ser necessário fazer intervenções.

A empresa informou que, até o fechamento desta edição,  não havia sido notificada sobre as intervenções que vai precisar fazer. “As equipes técnicas fazem neste momento uma avaliação aprofundada para conduzir as melhorias necessárias nas estruturas, especialmente nos seus acessos, afetados pelas intensas chuvas em Minas Gerais dos últimos dias”, diz trecho da nota, enviada à reportagem na tarde de ontem. 

Existem, sim, motivos para preocupação 

O período chuvoso faz aumentarem as erosões no entorno das barragens e demanda reparos, segundo Carlos Martinez, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica da Universidade Federal de Itajubá. “As correções precisam ser feitas”, disse ele, ao observar queas chuvas estão cada vez mais intensas.

Especialista em barragens, ele acrescentou: “é compreensível a apreensão dos moradores, até porque tem barragem em nível 3 na listagem do MPMG e do governo de Minas. É preciso ficar atento”.

Martinez alerta que os reparos vão ser necessários até que se faça a descaracterização das estruturas e destaca que a população tem “motivos para ficar preocupada”. Para ele, MPMG, Agência Nacional de Mineração e demais órgãos de fiscalização precisam cobrar das mineradoras para que ocorra a descaracterização das barragens. “Deve demorar de cinco a sete anos, em um bom horizonte, para que o processo seja finalizado. Até lá, a população vai passar por momentos difíceis”, alerta. 

FONTE O TEMPO

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