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Gasolina cara reduz vantagem de carros mais econômicos

Quanto mais se roda, maior a percepção das altas a cada parada no posto

Os carros ano 2022 estão menos poluentes e mais econômicos. Trata-se de uma evolução determinada pela sétima fase do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares), que tem força de lei. Mas o consumidor que comprou um automóvel zero-quilômetro recentemente não sentirá todo alívio esperado na hora de abastecer, e o problema está no preço do combustível.

O Instituto Mauá de Tecnologia realizou, a pedido do jornal Folha de S.Paulo, testes que comparam o consumo de carros produzidos sob a nova norma com o gasto de suas versões anteriores, adequadas à sexta fase do programa. Os resultados confirmam as melhorias.

A versão 2021 do sedã Honda City, por exemplo, foi capaz de percorrer 11,1 quilômetros com um litro de gasolina durante o teste Folha-Mauá. Já o modelo 2022, que recebeu tecnologias como injeção direta de combustível, registrou a média urbana de 12,9 km/l.

Contudo, o valor médio do litro da gasolina passou de R$ 6,34 para R$ 7,21 nos últimos seis meses, segundo pesquisa mensal divulgada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Já o etanol teve o preço elevado de R$ 4,88 para R$ 5,13 no mesmo período.

Em outubro de 2021, gastava-se o equivalente a R$ 0,57 por km para rodar com o Honda City “antigo” abastecido com gasolina. Hoje, o dono de um modelo 2022 gasta R$ 0,56 por km.

Se o preço do derivado do petróleo não tivesse passado por reajustes nos últimos seis meses, o custo por km do Honda 2022 seria de R$ 0,49.

Já o motorista que dirige o modelo 2021 viu seu gasto subir de R$ 0,57 para R$ 0,65 por km nos últimos seis meses.

Quanto mais se roda, maior a percepção das altas a cada parada no posto. O motorista de aplicativo Wanderlei Santos, 39, registra o consumo de seu Ford Fiesta Sedan 2017 em planilhas. Em abril de 2021, ele anotou um gasto de R$ 117 ao encher o tanque com etanol -o marcador de combustível estava na reserva. Na última semana, a despesa em condição semelhante ficou em R$ 237.

“Hoje seleciono as corridas para sempre rodar no contrafluxo, assim não pego muito trânsito e o carro consome menos”, diz Santos. “Tenho que criar essas estratégias, porque com a gasolina a R$ 7, não dá.”

Para as fabricantes, é frustrante ver o resultado da evolução técnica perder força diante da alta dos combustíveis. A Anfavea (associação das montadoras) calcula que foram investidos R$ 12 bilhões na adequação dos carros ao Proconve 7.

Houve ainda muitos problemas devido à falta de componentes e pedidos de extensão do prazo para enquadramento, que terminava em dezembro.

Após idas e vindas a Brasília, a entidade obteve junto ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) a prorrogação por três meses do período para adequação dos carros novos à sétima etapa da legislação ambiental.

Portanto, as versões atualizadas dos automóveis chegaram às lojas junto com o mega-aumento dos combustíveis, que ocorreu em março.

Enquanto iniciavam a montagem de modelos menos poluentes, as empresas acompanhavam a queda nas vendas. Os licenciamentos de veículos novos caíram 23,2% na comparação entre os primeiros trimestres de 2022 e 2021.

Com 402,8 mil unidades vendidas, o período de janeiro a março deste ano registra o pior resultado desde 2006, segundo dados da Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos).

Enquanto isso, o segmento de motos registra alta. Os emplacamentos no primeiro trimestre somaram 274,7 mil unidades, o que corresponde a uma alta de 33,7% na comparação com o mesmo período do ano passado.

“A elevação nos preços dos combustíveis também tem levado mais pessoas a olharem para a motocicleta como uma alternativa”, diz, em nota, Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo (associação dos fabricantes de motos e bicicletas).

Atsushi Fujimoto, presidente da Honda América do Sul, lembra que o preço da gasolina está alto não só no Brasil, mas no mundo inteiro, devido principalmente aos reflexos da guerra na Ucrânia. Além das preocupações com escassez, vários países pararam de importar energia da Rússia, o que mexe com o cenário global de petróleo e gás.

“Não está tão evidente que clientes de carros estejam migrando para as duas rodas, mas quem já tem um automóvel e uma motocicleta em casa está preferindo a moto para, por exemplo, ir ao mercado”, afirma Fujimoto.

FONTE O TEMPO

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