20 de abril de 2024 00:06

Obras para o retorno das atividades do trem turístico Rio-Minas devem começar em maio

Amigos do Trem anuncia que reforma do primeiro trecho do trem Rio-Minas começa neste mês, o que permitiria a primeira viagem ainda em dezembro

Iniciativa que há anos busca sair do papel para, enfim, entrar nos trilhos, o trem turístico Rio-Minas teve uma novidade promissora nos últimos dias. Segundo a presidente da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Amigos do Trem, Cyntia Nascimento Leite, as obras de reforma dos 37 quilômetros do trecho Três Rios-Sapucaia (RJ), passando pelo município mineiro de Chiador, devem ter início ainda em maio, pois começaram a chegar em Três Rios os insumos para as obras de infraestrutura e superestrutura (troca de dormentes, trilhos, lastro). Ainda de acordo com Cyntia, o serviço deve ter duração de seis meses, o que permitiria iniciar as atividades do trem Rio-Minas um mês depois, em dezembro.

Em julho de 2021, foi publicada no Diário Oficial da União a aprovação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para o pedido de reforma da concessionária Ferrovia Centro Atlântica (FCA)/VLI Logística, que antes de iniciar as obras teve que cumprir trâmites burocráticos, como a apresentação de um plano de trabalho, que foi apresentado em 29 de março, em uma reunião que aconteceu na Prefeitura de Três Rios. O projeto da Oscip prevê que o trem de passageiros percorra oito cidades entre os dois estados, num total de cerca de 170 quilômetros de extensão, chegando até Cataguases. As obras devem gerar cerca de 250 postos de trabalhos, com preferência para os moradores dos três municípios, segundo informou Cyntia.

Por parte da Oscip, a presidente da Organização diz que já estão estruturados com todo o material rodante (locomotivas, vagões, guindaste) e que a burocracia está em dia.”Temos ainda toda a equipe preparada para atuar no projeto, já recebemos contato por parte das agências de turismo e as prefeituras estão bem envolvidas, assim como o Sebrae, que está fazendo um trabalho para capacitar a população para receber os turistas. O trem Rio-Minas poderá receber até 837 passageiros. Então é necessário uma estrutura para atender a essa demanda”, relata. “Um dos nossos projetos, o Ferrovia-Escola, deu uma parada por causa da reforma, pois é preciso fazer atividades de campo, mas retornará o mais breve possível, pois a mão de obra para o setor é escassa. E temos outras iniciativas pensadas para as regionais que a Amigos do Trem sedia no Espírito Santo, Sergipe e Pernambuco.”

Investimento público

Como exemplo do apoio recebido dos municípios para a iniciativa, Cyntia destaca o projeto “Estação de memórias”, da Prefeitura de Três Rios, que prevê um espaço para o resgate do acervo histórico da memória ferroviária. O local, quando inaugurado, deve ter atividades de registro, valorização e disseminação da história da localidade e da ferrovia, com espaço para exposições desses registros, entre outras atividades. As principais fontes e personagens deverão ser moradores, historiadores, ferroviários e seus familiares. “A Prefeitura de Três Rios construiu uma estação do zero, foi feito um investimento altíssimo na reestruturação do esgoto e saneamento. Chiador e Sapucaia também adequaram suas estações para receber os turistas, cumprindo as normas da ANTT”, anima-se.

Rio-Minas
Composições encontram-se em oficina localizada na cidade de Recreio, mas seguirão para Três Rios em junho (Foto: Divulgação)

Transferência das composições

Voltando à questão da obra, Cyntia Nascimento diz que a Amigos do Trem realizou diversas reuniões com o Ministério Público de Minas Gerais (MPF-MG) desde a aprovação da reforma pela ANTT, incluindo também vistorias de campo para notificar a Agência sobre manutenções necessárias.

“Sempre tivemos o apoio das prefeituras, do Ministério Público e da FCA, que nos cedeu o pátio e material rodante. Hoje, as quatro locomotivas, os 15 vagões e quatro autos de linha estão um uma oficina em Recreio, com toda estrutura. E vale destacar que os vagões, adquiridos em 2016, foram um investimento do Grupo Milç, que também nos apoia, no valor total de R$ 1 milhão.”

Outra novidade anunciada por Cyntia Nascimento é que as locomotivas, vagões e material rodante em geral serão transferidos para Três Rios no mês de junho, aguardando na cidade do Sul Fluminense o final das reformas e o início das atividades do trem turístico. Uma questão, aliás, que pode causar ceticismo em alguns de saber se a iniciativa terá um retorno financeiro condizente com os investimentos de tempo, esforços e dinheiro após tantos anos. A presidente da Amigos do Trem argumenta que foram feitos vários estudos para mostrar que o projeto seria financeiramente viável, um ponto que ajudou a convencer os municípios envolvidos a embarcarem na iniciativa.

Ela aproveita para explicar que toda a estrutura rodante será utilizada de acordo com a demanda. “O estudo que a gente fez mostra que a demanda no início seria alta, inclusive já tem gente querendo comprar. E não precisa ser apenas a viagem: teremos um pacote que inclui, além do bilhete do trem, restaurante e hotel. A pessoa poderá escolher o trecho que deseja percorrer, e vamos deixar as composições em Três Rios e colocar os vagões de acordo com a demanda.”

Sem desistir do sonho completo

Quanto ao futuro, a presidente da Oscip afirma que os 37 quilômetros já empenhados na reforma são importantes, mas que seguem firmes no propósito de alcançarem os 170 quilômetros e oito cidades para o trem Rio-Minas, de acordo com o idealizado pelo fundador do movimento, Paulo Henrique do Nascimento, que morreu em novembro de 2018, aos 45 anos, vítima de um câncer de pulmão.

“Nossa intenção ainda é chegar até Cataguases. Continuamos a fazer reuniões com os outros municípios, que seguem nos apoiando porque sabem que haverá um retorno financeiro, não vai ser só o saudosismo do trem”, diz. Para o sonho se tornar realidade, tudo vai depender das negociações entre a Ferrovia Centro Atlântica e a ANTT. “Hoje, a concessão do trecho entre Três Rios e Cataguases pertence à FCA, que está devolvendo alguns trechos para a União, só que a empresa tem que pagar uma multa ou reformar o trecho, como é o caso dos 37 quilômetros que começarão a ser reformados e do trecho de Sapucaia até Cataguases. Por isso, estamos tentando com o Ministério Público uma reforma emergencial do trecho restante, pelo menos até Recreio. Caso não seja possível, pretendemos assumir os trechos e fazer as reformas com as prefeituras, existe um estudo que comprova a viabilidade da proposta.”

Como último argumento para quem duvida do potencial financeiro e turístico do trem Rio-Minas, Cyntia dá como o exemplo o sucesso do Restaurante Trem de Prata, inaugurado em 2015, na cidade de Santos Dumont, e que utiliza o antigo vagão restaurante do trem que fazia a viagem noturna entre Rio e São Paulo.

“O movimento aumentou após a melhora nos números da pandemia, porque o pessoal voltou a ter confiança para sair. Pudemos voltar a utilizar a parte externa, realizar shows nesse espaço, e estamos fazendo uma revitalização em parceria com a MRS. Muita gente vai ao restaurante só porque quer ver o trem, e a prefeitura tem investido, por enxergar que a questão ferroviária tem crescido muito.”

FONTE TRIBUNA DE MINAS

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