Início da colheita de cana-de-açúcar promete queda nos custos de produção, mas altas previstas no litro da gasolina e do diesel devem influenciar valor do biocombustível nas bombas
Com atraso de alguns meses, o início da colheita de cana-de-açúcar no Brasil, que marca os primeiros dias de maio de 2022, promete queda nos preços do etanol. Em paralelo, perspectivas de alta nos preços da gasolina e do diesel, que devem ser determinadas pela Petrobras, tendem a segurar a queda típica observada no começo da produção da principal matéria-prima do biocombustível no país.
Dessa forma, o etanol pode ficar mais caro nas próximas semanas, mas com um preço mais convidativo do que o atual – que é encontrado por valor superior a 75% da gasolina.
A tensão entre os dois fatores torna o futuro dos valores nas bombas de postos de combustíveis incerto. Por um lado, a Federação Nacional do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) defende que, assim como em outros anos, a colheita vai reduzir o custo da produção – o que impactaria no preço final do etanol. Por outro, historicamente, os valores cobrados na ponta da cadeia costumam acompanhar os de outros combustíveis.
Em pesquisa divulgada na última segunda-feira (2), o portal Mercado Mineiro informou que, em média, o litro do biocombustível custa R$ 5,79 em Belo Horizonte e região metropolitana, com variação entre R$ 5,590 e R$ 6,08 entre diferentes postos. O valor médio do álcool sofreu alta de 13,52% – cerca de R$ 0,69 – entre os dados maio e o mês anterior. Entre janeiro de 2021 e abril deste ano, a alta foi de 80,44%.
Em contraste, Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis, reafirma que, nas próximas semanas, o consumidor verá queda no preço do litro do etanol nas bombas em Minas e no Brasil.
“Nos meus postos, houve queda de R$ 0,30 entre sexta-feira e segunda-feira. A tendência [no país] é que continue caindo. Todo ano é exatamente assim [em relação à safra de cana-de-açúcar. Na entressafra, temos preços maiores e, quando começam a moer, o preço vai caindo. Neste ano, foi um pouco pior do que nos anteriores. O período da entressafra foi um pouco maior, houve muita chuva e problemas climáticos [que impediram a colheita]. Mas acredito que todos vão cair para 70% da paridade de preço em relação à gasolina [o que significa que o biocombustível será mais vantajoso do que o derivado do petróleo]”, defende.
Apesar da previsão, Miranda Soares admite que deve haver certo “oportunismo” em parte do empresariado que, de acordo com ele, deve manter o valor do etanol dentro dos níveis de paridade, mas, em valores absolutos, continuar subindo caso o preço da gasolina realmente avance.
“Vamos fazer um cálculo a título de exercício. Se, hoje, o preço do etanol representa 68% do da gasolina, já é interessante para o consumidor usá-lo. Se a gasolina subir… o empresário brasileiro é complicado, e o usineiro é, muitas vezes, oportunista. Se a gasolina subir no percentual previsto, é possível que os 68% sejam mantidos, mas que o valor do litro acompanhe o preço da gasolina [e, com isso, fique mais caro]”, explica.
Professor da universidade Ibmec e economista, Paulo Casaca pontua que, no mercado brasileiro, há tendência de que os preços da gasolina impulsionem, também, o de outros combustíveis.
“Se o custo de produção cai, quase nunca o preço final do etanol fica abaixo do que estava. Isso não acontece porque os produtores são maus, mas porque a oferta de etanol no mercado não é suficiente para que o setor cobre um preço muito menor que o da gasolina. A demanda seria muito maior”, disserta.
“O preço está muito mais atrelado aos preços da gasolina do que aos da produção. O ponto é que ele vai sempre acompanhar o setor, tanto para o bem quanto para o mal. Nada justifica, hoje, o etanol ter o preço que tem, analisando os custos de produção, apenas. Apesar de terem sofrido aumentos, não estão no mesmo nível do valor cobrado. Por outro lado, se amanhã o preço interacional do petróleo cair muito, de maneira drástica, os postos vão ter que ajustar o valor do etanol para acompanhar a gasolina”, conclui.
Petrobras
Sem data definida, o novo reajuste nos preços do diesel e da gasolina, que devem ser anunciados pela Petrobras em breve, já são esperados pelo mercado e há expectativa de que, nesta sexta-feira (6), os percentuais sejam revelados.
A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), por meio de seu presidente executivo, Sérgio Araújo, prevê que as altas devem ser 17% na gasolina e 25% no diesel. O motivo para as novas altas seria defasagem de preço em relação ao mercado internacional.
FONTE O TEMPO