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Padre classifica como insensatez shows em Jubileu: “Prefeitura com mais de 1 bilhão em caixa sequer ergueu uma casa para as famílias atingidas pelas enchentes “

Ao longo do final de semana, a Prefeitura de Congonhas promoveu shows que reuniu um público na Praça Dom Silvério, na Matriz, entre o cantor Dunga, Diego Fernandes e ontem (11), domingo, 11, a banda católica de rock com temáticas cristãs Rosa de Saron , formada dentro do movimento de Renovação Carismática Católica (RCC) em 1988, na cidade de Campinas, se apresentou no Jubileu.


Críticas
O Padre Antônio Claret (foto), religioso que atua como colaborador na Paróquia Nossa Senhora da Conceição e ligado aos movimentos sociais, entre eles o MAB (Movimento Atingidos pelas Barragens) fez críticas às apresentações. “Enquanto o povo sofre as consequências desses desmandos, a Prefeitura de Congonhas, que acumula mais de 1 bilhão em caixa, ainda não fez uma casa sequer para as famílias atingidas pelas enchentes de janeiro deste ano. E agora contrata show (aparentemente) para ‘homenagear’ os católicos, o que, por si só, já é uma insensatez,”, pontuou.

Leia texto.

“Animado com o ambiente do show, grupo carismático inserido em ‘novas’ comunidades de Congonhas e de BH param os carros na Sete de Setembro, próxima ao local do evento, e oferecem banner do mito de seus gurus.
Esse casamento aparentemente perfeito entre músicas católicas e Jubileu do Bom Jesus tem um ponto de divórcio no seu fundamento. A questão é refletida na Celebração do Grito dos Excluídos (7/9), presidida pelo Coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Mariana, Padre José Geraldo de Oliveira.
Na homilia, ele recorre à bíblia para afirmar que Deus ouve o clamor do povo e desce para libertá-lo do jugo da opressão. Depois lembra o grito dos profetas e do próprio Jesus quando, pendente da cruz, pergunta: ‘meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?’.
O Coordenador de Pastoral afirmou ainda que a Igreja tem caráter profético – a mesma missão de Jesus -, mas é ‘desviada’ por muita gente que gosta (apenas) do Jesus glorioso, adocicado. Lembrou que algumas TVs católicas louvam demais e disseminam um catolicismo tradicional, que parece ‘outra igreja’, ‘fermento dos fariseus’.
Padre José Geraldo disse, também, que a fome, a miséria é fruto da injustiça social. Citou dom Luciano, Servo de Deus com sua vida-testemunho de libertação integral dos oprimidos.
Ao final da pregação, usou duras palavras na defesa da fé e da evangelização engajadas: ‘Ficamos na cesta básica, na caridade mascarada, que aplaude, bajula e vota em quem não gosta do pobre, por isso somos cúmplices de quem explora por nossa omissão’.
Embora suas palavras sejam fortes, elas expressam uma realidade que não pode ser nem esquecida nem banalizada.
O Jubileu do Bom Jesus, que acontece há 241 anos, recupera o Manual do Romeiro e, nele, traz pistas de reflexão para as celebrações. Vejam os temas propostos nos três dias do show carismático, o qual soa nota fora do tom: dia 9, ‘o Bom Jesus nos educa para vencer a tentação da cegueira violenta’; dia 10, o ‘Bom Jesus nos educa para vencer a tentação dos discursos vazios’; dia 11, ‘o Bom Jesus nos educa para vencer a tentação da fuga da ‘sujeira’ do mundo’.
Nos comentários a partir do evangelho de cada dia, o Manual lembra que ‘guias cegos trocam a pátria amada pela pátria armada’; que ‘ser sal precede o missal’. E faz alusão a dom Hélder Câmara, duramente perseguido pela ditadura militar: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto ‘por que eles são pobres’, me chamam de comunista”.
Além de destoar da Orientação Pastoral e do tema central do Jubileu do Bom Jesus, esse show carismático traz melindre por ocorrer em período de campanha eleitoral marcada pela narrativa dualista do bem contra o mal. O mesmíssimo dualismo professado pela RCC e, por isso, facilmente capturado e manipulado a favor de interesses eleitoreiros, numa fácil derrapagem para a instrumentalização da fé.
Nosso país tem governos genocidas, que desdenharam da vacina, dos adoecidos com dificuldade de respiração e dos mortos na pandemia. A natureza geme de dor nos municípios minerados, estuprada pela violência dos impérios econômicos.
Enquanto o povo sofre as consequências desses desmandos, a Prefeitura de Congonhas, que acumula mais de 1 bilhão em caixa, ainda não fez uma casa sequer para as famílias atingidas pelas enchentes de janeiro deste ano. E agora contrata show (aparentemente) para ‘homenagear’ os católicos, o que, por si só, já é uma insensatez.
Pode até ser que a intenção seja boa de quem contrata e sugere esse tipo show, no Jubileu do Bom Jesus. Mas não ajuda o Brasil.

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