As duas estradas também foram responsáveis por 47% das mortes contabilizadas até agora em dez estradas federais sob a jurisdição da PRF
As BRs 381 e 040, para além de serem as maiores e mais importantes estradas federais que cortam Minas Gerais, também têm outro ponto em comum: elas são as mais perigosas e mortais, contabilizando praticamente metade de todos os acidentes e óbitos ocorridos entre janeiro e abril de 2023. Juntas, as rodovias registraram 51,2% das batidas e 47% de todas as mortes nos quatro primeiros meses do ano.
Os números foram obtidos por O TEMPO por meio do Observatório de Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e, para se ter uma ideia, a “outra metade” dos registros ocorreram nas outras oito rodovias federais do Estado sob a jurisdição da corporação. Nesta terça-feira (2 de maio), o balanço da operação da PRF para o Dia do Trabalhador apontou que Minas registrou uma batida por hora ao longo dos quatro dias do feriado, deixando o Estado no topo da lista das fatalidades do país.
As informações da PRF indicam que, entre janeiro e abril deste ano, houve aumentos de 2,1% no número de acidentes e 10% no número de feridos. Por outro lado, o número de mortes caiu 12% no mesmo período em comparação com os quatro primeiros meses de 2022.
BR-040 ultrapassa “Rodovia da Morte”
Até o último domingo, dia 30 de abril, as rodovias federais tiveram 2.684 registros de acidentes, com 2.627 feridos e 191 mortos. Deste total, 820 acidentes (30,5%) foram na BR-381 e 555 (20,6%) na BR-040. Entretanto, apesar de ter o maior número de acidentes, a 381, que é conhecida como “Rodovia da Morte”, foi “menos fatal” que a 040 pelo menos de janeiro a abril deste ano. As estradas registraram 37 e 53 óbitos, respectivamente.
Segundo Luciano Medrado, que é consultor-técnico sênior da Federação e do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Minas Gerais (Fetcemg e Setcemg), por serem as duas rodovias de maior fluxo do Estado, já era de se esperar que elas registrassem essa maior incidência de acidentes, porém, as duas têm, ainda, problemas históricos que seguem sem solução.
“A 381, de BH a Vitória, tem problemas de traçado, de obra e de outras naturezas. É uma estrada que, do ponto de vista de segurança, não consegue se habilitar em nenhuma certificação internacional. Já na 040, o problema é principalmente pelo aumento do trânsito de caminhões de minério. A estrada fica suja, perde a segurança, tem problemas de sinalização e de sobrepeso, que degrada a pista. E a Via 040 entregou a concessão há 2 anos, então, neste período os impactos já implicam nesse maior número de mortes por lá”, ponderou.
“Duplicação é única solução”, diz movimento social
Ouvido pela reportagem de O TEMPO nesta terça-feira (2 de maio), o integrante do movimento SOS Rodovias Federais de MG, José Aparecido Ribeiro, destaca que a única forma de se resolver o problema dos acidentes nas estradas de Minas Gerais é, justamente, a duplicação.
“A maioria dos acidentes acontecem em trechos de pista simples, pois somente neles ocorrem as colisões frontais, em que há chances de menos de 8% de sobrevivência. Portanto, precisamos duplicar ou até triplicar as pistas. A BR-381 foi construída em 1958 com 50 quilômetros duplicados. Temos o trecho da Autopista Fernão Dias (de BH a São Paulo) que é duplicado e não temos tantos acidentes por lá”, argumentou.
Ribeiro cobrou ainda que sejam realizadas novas concessões e a redução na “burocracia”, para evitar casos como o da Via 040, que venceu a licitação mas resolveu “devolver a concessão” à União depois de 7 anos, tendo deixado de duplicar 545 quilômetros que estavam previstos para a rodovia.
“Quando vamos questionar, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) empurra para a Agência Nacional de Trânsito e Transporte (ANTT), que passa para os políticos e, assim, ficamos há anos sem a duplicação dessas rodovias. Nos últimos anos, recebemos vários governos que prometeram a duplicação da 381. Foram duas vezes o Lula (PT), três da Dilma (PT) e uma do Bolsonaro (PL), mas, até hoje, ninguém resolveu”, lamenta o integrante do movimento social.
Editais das duas rodovias devem ser publicados até o fim do ano
Procurada por O TEMPO, a ANTT informou que o processo de concessão do trecho mineiro da BR-381, iniciado em julho de 2022, já está com o Tribunal de Contas da União (TCU) e tem previsão de publicação do edital no terceiro trimestre deste ano. “Entre diversas melhorias, estão a duplicação de 44,3 km, a implantação de 127 km de faixas adicionais em pista simples e 11 passarelas”, detalhou a agência. O prazo da concessão será de 30 anos e a publicação do contrato está prevista para acontecer no primeiro trimestre de 2024.
Já sobre a BR-040, o órgão afirmou que, durante os estudos de viabilidade técnico-econômica e ambiental, teria sido identificada a necessidade de subdividir o projeto de concessão em três novos trechos, que serão concedidos separadamente. O edital do trecho entre Rio e BH também está com previsão de publicação até o fim de 2023.
“Foi publicado recentemente Acórdão do TCU sobre o projeto que viabilizará a ligação rodoviária entre o Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG). A ANTT agora seguirá com análise das sugestões da Corte e, após essa fase, encaminhará a documentação para o Ministério dos Transportes, que definirá os prazos para publicação do edital – a previsão inicial é até o fim deste ano. Neste momento, ainda não é possível prever quando os documentos seguirão para o Ministério, pois depende de uma análise ampla da equipe técnica da Agência”, completou a ANTT.
O Dnit e o Ministério da Infraestrutura também foram procurados, mas apenas a ANTT respondeu.
Economia, turismo e população sofrem com impactos
Apesar dos motoristas serem os principais afetados pelas condições das estradas, não são apenas eles que são impactados. Para além da economia é afetada com o aumento no preço dos fretes de praticamente tudo que é consumido pela sociedade, existem ainda impactos no turismo e na própria população das cidades cortadas pelas BR’s.
Segundo Luciano Medrado, da Fetcemg, o prejuízo causado pelas más condições e dos acidentes nas estradas é de aproximadamente 18%, incluindo o aumento de gastos com manutenção dos veículos, pneus e veículos acidentados.
“Em algumas, como a 381, isso chega a 22% segundo cálculo da própria ANTT. Temos que realçar, aproveitando o Maio Amarelo, para aumentar a maior prevenção contra os acidentes viários. São anos já de trabalhos e os números têm diminuído, mas ainda estão longe do ideal”, argumentou.
O integrante do movimento SOS Rodovias Federais de MG, José Aparecido Ribeiro, destaca que, para além dos impactos diretos à população, com o fechamento das rodovias e pela perda de vidas, o impacto econômico das más condições destas rodovias também merecem atenção.
“Uma fábrica, como a Fiat por exemplo, pode ter a produção da montadora afetada se uma peça não chegar no horário. A mesma coisa para uma refinaria de petróleo, ou na CeasaMinas. Está tudo dependendo da 381 e da 040. Mas você chega ali no Anel, no Califórnia, e vê um trecho que foi construído em 1972, quando a frota de BH era de 150 mil carros, e continua do mesmo jeito hoje, que temos 2,2 milhões de veículos. Aí se vê a importância da construção do Rodoanel para minimizar esse impacto”, pontua.
Ribeiro cita ainda o impacto no turismo do Estado. “As pessoas deixam de viajar para alguns locais por causa da rodovia, então isso impacta a economia, o turismo poderia estar muito melhor se as rodovias fossem duplicadas, como em São Paulo. Lá, a frota de carros é de 24 milhões. Minas tem 9 milhões e, ainda assim, temos mais acidentes pelo fato de nossas estradas serem piores que as deles”, completou.
Em 2022, acidentes custaram R$ 12 bilhões ao Brasil
Em fevereiro deste ano, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou números de seu Painel de Consultas Dinâmicas dos Acidentes Rodoviários que apontaram que os acidentes em rodovias federais em 2022 custaram R$ 12,92 bilhões, valor quase 100% maior que os R$ 6,5 bilhões investidos pela união na malha rodoviária do país.
Estado que é dono da maior malha rodoviária do Brasil, Minas Gerais lidera o ranking de custos com as tragédias nas estradas no passado, com R$ 1,69 bilhão de prejuízo.
Ainda no ano passado, também foi divulgada a Pesquisa CNT de Rodovias 2022, que indicou que mais de 75% das estradas mineiras têm problemas. Com isso, o Estado ficou pior do que a média nacional, uma vez que, no país, esse percentual é de 66%.
FONTE O TEMPO