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Oito anos após desastre de Mariana, Vale tem duas barragens com risco iminente de rompimento

Na última sexta-feira, a Agência Nacional de Mineração interditou preventivamente as atividades da Vale na mina Fábrica Nova, no mesmo município, por não haver garantia de estabilidade de local

Oito anos depois do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), que deixou 19 mortos e um mar de lama que devastou o Rio Doce, a Vale ainda tem duas barragens com risco iminente de rompimento.

Uma delas, a Forquilha III, fica em Ouro Preto (74 mil habitantes), e a outra, Sul Superior, em Barão de Cocais (32 mil habitantes). Ambas se localizam em Minas Gerais e estão no nível 3 de emergência, quando a ruptura pode acontecer a qualquer momento ou já está em andamento, segundo descrição no site da empresa.

No ano passado, a Vale retirou outra barragem no nível máximo de emergência, a B3/B4, em Nova Lima (MG), e prometeu em seu relatório integrado anual acabar com as barragens de rejeito a montante em condição crítica de segurança até 2025.

Esse tipo de barragem é o mesmo que rompeu em Brumadinho (MG) em janeiro de 2019, matando 272 pessoas. O método, chamado alteamento a montante, prevê que o dique inicial seja ampliado para cima usando o próprio rejeito de minério de ferro, e por ser uma opção menos segura já foi banida por países com o Chile.

O nível de emergência é uma categoria estabelecida pela legislação de 2022 para classificar os riscos potenciais que poderiam comprometer a segurança de barragens.

Em Forquilha III e Sul Superior, a Vale diz que os cuidados são estendidos, além da zona de autossalvamento (ZAS), para as pessoas que estão na zona de segurança secundária (ZSS), região que está a mais de 10 km ou 30 minutos de uma eventual inundação — quando existe tempo suficiente para que as pessoas consigam fugir por conta própria para abrigos.

Já as ZAS abarcam toda região em que não exista tempo suficiente para uma intervenção das autoridades competentes em situação de emergência, e onde as pessoas não consigam se salvar a tempo. Em caso de rompimentos de barragens de nível 2 ou 3, essas áreas são evacuadas, enquanto as ZSS são notificadas.

Andresa Rodrigues, presidente da associação de familiares das vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho (Avabrum), diz que as mineradoras enxergam como gasto o que deveria ser visto como investimento e que se o monitoramento de barragens fosse prioridade das empresas, seu filho, morto no desastre de janeiro de 2019, estaria vivo.

Ela chama as barragens de Forquilha III e Sul Superior de “bombas-relógio prestes a explodir”, mas diz que muitas outras barragens sequer monitoramento têm. Andresa também cobra pela condenação dos responsáveis pelo rompimento. Mesmo após as centenas de mortos, milhões de metros cúbico de rejeitos de mineração despejados no rio Paraopeba e três ainda desaparecidos, não houve nenhuma punição.

— A Avabrum luta pela memória, pela não repetição do crime e pelos direitos dos familiares. Não queremos que mais ninguém passe pela dor que passamos. Mas, para isso, as empresas e autoridades precisam de mais seriedade. Se não vamos voltar a discutir esse assunto quando a próxima barragem se romper e matar mais gente — diz a presidente da associação.

Enquanto a companhia mantém o processo de desmonte das estruturas precárias, outras vão colocando em perigo as regiões onde estão instaladas. Na última sexta-feira, a Agência Nacional de Mineração interditou preventivamente as atividades da Vale na mina Fábrica Nova, também em Mariana, por não haver garantia de estabilidade nas estruturas e risco iminente de acidente. A empresa diz acompanhar a vistoria da ANM e da Defesa Civil nesta segunda-feira.

“Nesta semana, equipe da ANM, em parceria com a Defesa Civil, está realizando vistoria no local para definir a linha de ação que deve ser adotada pela empresa. Assim que for apresentado laudo atestando a estabilidade das estruturas, a ANM decidirá sobre a manutenção ou não da intervenção”, diz a agência em nota.

Procurada, a Vale afirmou que se comprometeu a eliminar suas 30 barragens a montante até 2035, e que, até o momento, 13 estruturas foram completamente descaracterizadas, mais de 40% do total. A companhia disse ter investido cerca de R$ 6,2 bilhões no Programa de Descaracterização desde 2019. Além disso, informou em nota:

“A velocidade do processo de eliminação de barragens depende de uma série de fatores, incluindo o desenvolvimento de novas tecnologias e o uso de equipamentos operados de forma 100% remota. As obras são complexas e, por isso, as soluções são customizadas para cada estrutura e estão sendo realizadas de forma cautelosa, tendo como prioridade, sempre, a segurança das pessoas, a redução dos riscos e os cuidados com o meio ambiente.

“Sobre as barragens Sul Superior e Forquilhas III, ambas as estruturas seguem avançando no processo de descaraterização. A barragem Sul Superior está em obras, em fase de remoção dos rejeitos do reservatório. A conclusão da descaracterização da estrutura está prevista para 2029. A Barragem Forquilhas III está em fase de desenvolvimento da engenharia, com obras previstas para serem finalizadas em 2035. Ambas estão inativas e são monitoradas permanentemente. Além disso, as duas barragens contam com suas respectivas Estruturas de Contenção a Jusante (ECJs) com Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) vigentes e aptas a cumprirem seu propósito de proteger as pessoas e o meio ambiente em caso de emergência.”

FONTE O GLOBO

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