28 de abril de 2024 09:07

FNEC 2023 reuniu sociedade, iniciativa privada e poder público para discutirem o futuro de Congonhas

Esta iniciativa faz parte de um portfólio de ações contidas na Política Municipal de Desenvolvimento Econômico. Antes, o município já havia criado e implementado leis, decretos e o Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico (FMDE) – que tem como um de seus objetivos fomentar a  economia criativa. Futuramente será lançado o Plano Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável de Congonhas.

Os objetivos da quinta edição do Fórum de Negócios de Congonhas (FNEC) foram alcançados: apresentar as oportunidades que Congonhas oferece em diversos segmentos; despertar a todos para a necessidade de a cidade e região atuarem em conjunto na busca pelo desenvolvimento econômico; e ofertar conhecimento para atuais e futuros empreendedores e empresários, trabalhadores de pequenas, médias e grandes empresas, estudantes, lideranças e servidores públicos. Este ano o evento apontou a economia criativa como um dos setores produtivos capazes de contribuir para a redução da dependência econômica local em relação ao setor mínero-siderúrgico, por abranger potenciais presentes na cidade como o turístico, criativo, cultural, histórico e de inovação.  O evento foi realizado pela Prefeitura, por meio da Secretaria de Planejamento e Gestão e sua Superintendência de Desenvolvimento Econômico, e teve como gestora a Agência de Desenvolvimento Econômico e Social do Alto Paraopeba (Adesiap).

O FNEC 2023 – Congonhas Criativa contou com patrocínio da LGA Mineração e do Sicredi e apoio da Fundação Dom Cabral, Sebrae, UFSJ, Invest Minas, P7 Criativo, Unipac, IFMG, FAOP e Rede Elas.

Para o superintendente de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Congonhas, Geordane Silva, “o principal objetivo a que o FNEC 2023 se propôs, enquanto parte da construção da política pública de desenvolvimento econômico, foi apresentar as várias oportunidades que o município oferece, seja pela gastronomia, cultura, patrimônio cultural, produção artística (música, dança, artes), entre outras. Quando se vai estabelecer essa visão de futuro, através de um plano estratégico, que é o nosso próximo passo, não se começa pela escassez, e sim pela abundância, porque só esta consegue unir visões diferentes. O Fórum foi esse primeiro chamado para pensarmos o que desejarmos para o futuro da cidade.

De acordo com Denis Donato, diretor-executivo da Adesiap, a agência de desenvolvimento está satisfeita em participar de uma iniciativa como esta e por aprender mais, pela forma com que o Fórum foi feito, gerando oportunidades de diversificação econômica, a partir da economia criativa. “Temos ouvido muito falar sobre este setor produtivo em qualquer canto. Mas o tom estratégico utilizado pelo superintendente Geordane Silva para tratar de diversificação econômica, capacitando, qualificando e empoderando os nossos empreendedores me chamou a atenção, enquanto mestre em Desenvolvimento Local”, afirma.

“Outro objetivo que queríamos alcançar durante o FNEC 2023 era fortalecer as conexões entre lideranças e contamos com a presença do Estado, representado pelo subsecretário Lucas Pita, o prefeito Dr. Cláudio, seu vice Paulinho e secretários, vereadores, o prefeito de Ouro Branco e presidente da Amalpa, Hélio Campos, e seu vice Celso Vaz. Tenho assistido durante estes 20 anos de Adesiap a quebra de barreiras que impediam a união de nossos municípios. Estamos em sete territórios atualmente e, com 30 ou 40 minutos, conseguimos nos deslocar de um município para outro, então não tem como trabalhar o desenvolvimento local sem pensar no regional, é o que já entendem essas lideranças políticas como as organizações do terceiro setor. A ação pela duplicação da BR-040 é um bom exemplo de força conjunta para o bem desta região expandida”, salienta Donato.

Atrativos do evento

Da quarta-feira até a sexta (22 a 24.11), uma megaestrutura montada na Romaria, além de espaços do próprio centro cultural receberam palestras, workshops, atrações culturais, gastronômicas e de lazer, tudo relacionado com a temática da economia criativa, para atender ao interesse e necessidade de todos os participantes.

Logo na entrada, o Estande Master “Visite Congonhas” oferecia aos visitantes as boas-vindas, apresentando as primeiras experiências que demonstram ser possível lançar mão da criatividade com o que se tem na cidade, como produtos artesanais e gastronômicos.

O programa “Primórdios da Cozinha Mineira” levou para a Romaria a Cozinha Show. Quem passou por lá pôde degustar quatro receitas novas desenvolvidas pelos instrutores chefs Geraldo Caleffi, Marcelle Cordeiro (Brigadeiros Gourmet) e Terezinha (Sothê Caramelle), entre eles o “Cubu com recheio de brigadeiro de milho verde finalizado com mousse de doce de leite”, acompanhado pelo chá de congonha. 

“O cubu foi eleito um prato da cidade pelo Programa ‘Primórdios da Cozinha Mineira’ e no FNEC fizemos uma releitura desse cubu original, sem mexer na estrutura da receita. Com iniciativas como esta, queremos é que as pessoas tenham vontade de inovar cada vez mais”, propôs o Chef Geraldo Caleffi.

No mesmo espaço, a Superintendência de Desenvolvimento Econômico e o Sebrae apresentaram uma pequena amostra do Programa “Design do Artesanato”, que pretende identificar novas possibilidades de criação através da busca por produtos de origem desenhados para atender o mercado turístico. Artesãs e artesãos da Uniarte (Associação dos Artesãos, Artistas e Produtores Caseiros de Congonhas e Região) são beneficiários desta iniciativa.

Juliana do Nascimento Godin, moradora da Basílica, produz bordado livre, toalhas de tira bordada, de ponto cruz e vagonite. Associada da Uniarte há um ano, teve durante o FNEC sua terceira experiência em eventos do gênero e afirma: “Um fórum como este muda tudo, né?! Primeiro trazemos o nome da Uniarte para o evento. Depois colocamos em prática o que aprendemos no curso oferecido pela Prefeitura e o Sebrae: tratar o produto e precificá-lo, além de atender adequadamente o cliente e fazer uma linha só do produto da gente para comercializar”.

O escultor e pintor especializado em entale, Laerte Custódio de Oliveira, diz que, “além do lado empreendedor, o curso do Sebrae ensina ao artesão que “em Congonhas, precisamos produzir arte que remeta a nossa cidade, porque os turistas querem aprender como fazemos nossa arte e levar um pouquinho de nós com eles”. Laerte já produziu, em alto relevo, a maquete do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos e a Ladeira e agora prepara outra exclusiva da Basílica.

O Estande da Superintendência de Desenvolvimento Econômico apresentou aos visitantes do FNEC 2023 programas como o Empreende Congonhas, Check-in Turismo, Tec Pop, Coliga e Avança Congonhas.

No Estande QG da Inovação, o público realizou visitas virtuais às igrejas de Congonhas, graças à graças à tecnologia de realidade virtual (VR). A experiência permitiu que a pessoa se sentisse dentro de cada um dos templos.  

O Estande da Feira Cores e Sabores antecipou para o público a modalidade itinerante de Economia Criativa que deverá ser lançada em janeiro de 2024 pela Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Congonhas. O espaço abrigou o Instituto Ubuntu – Bonecas Negras, que fabrica e comercializa bonecas para representatividade de crianças negras e realiza outras ações de fortalecimento da autoestima delas. O artesãos da Uniarte, Marcelino, comercializou sua produção de quitandas, geleia, vinho de jabuticaba. doce de leite com jabuticaba e café de Entre Rios de Minas. Ele aproveitou para apresentar seu trabalho destinado ao ecoturismo naquele espaço do FNEC 2023. Edson e Quésia levaram o iogurte Vaca Feliz aromatizado com maracujá, limão, abacaxi, entre outros sabores de frutas do próprio quintal para o evento. José Barros mostrou ao público seu tempero alho e sal, cheiro verde e completo Uai Sô, que é encontrado em diversos estabelecimentos comerciais de Congonhas. E Daiana expôs acessórios de cabelo, como turbante, cortes angolanos, toca de cetim, toca de banho e principalmente, destaca ela, autoestima para mulheres. No alto de sua banca, o cliente abria uma portinha e lia:“Abra a janela e veja a pessoa que pode te fazer feliz” e se via em um espelho. Participante da economia solidária de C. Lafaiete, vende seus produtos também no Joaquim Murtinho.

O Estande Espaço Literário expôs e comercializou livros de  autores congonhenses. Obras de seis escritores locais participaram do FNEC 2023. “A maioria de nossos escritores é independente. No FNEC abrimos espaço para aqueles que tinham livros e também para a “Coleção Congonhas”, que reúne obras locais pertencentes ao acervo da biblioteca. Neste caso, as pessoas conseguem adquiri-los na internet”, explica o Paulo Henrique de Lima Pereira, escritor, historiador, diretor da Biblioteca Pública Municipal Djalma Andrade.

O UFSJ/Campus Congonhas e a Unipac levaram oficinas de robótica, que é uma das vertentes da economia criativa, para o evento. Os alunos de engenharia da UFSJ/Campus Alto Paraopeba, Victor, Luana e Vitória,  apresentaram uma amostra de sua produção tecnológica. Em uma oficina maker de automação em arduíno, abordaram a inovação e tecnologia para que as pessoas pudessem aprender na prática os processos durante o evento. Estes construíram um sistema de semáforo. Por meio de uma plataforma, foi possível conhecer a teoria e depois simular a prática da ferramenta.

Nos demais estandes, estiveram empreendedores de Congonhas, alguns participando pela primeira vez de um evento deste porte, enquanto outros já haviam se destacado em feiras Brasil afora e, em alguns casos, até comercializado seus produtos para o exterior. 

Criado durante a pandemia da Covid-19, o Bendito Licor já participou de feiras de projeção estadual, como a Expo cachaça 2023, e nacional. Em breve, a bebida produzida pela empresária Gaby Palmieri passará a ser comercializado também no Paraguai.

A premiada Cachaça Liberdade, feita no Esmeril pelo empresário Antônio Odaque da Silva, também esteve presente no FNEC 2023.

O grupo de artesãs Pata da Loba, de Lobo Leite, levou para a Romaria história e arte em lindos bordados que resgatam, por exemplo, a bainha aberta portuguesa e o ponto livre. Com a produção, as mulheres que compõem o grupo elevam a renda de suas famílias. Durante o ano, elas comercializam seus produtos na Estação Ferroviária de Lobo Leite.

Palestras

O ex-prefeito de Maringá-PR, Sílvio Barros, que desenvolveu durante seu mandato uma visão de longo prazo e atuou em vários cargos em governos Estaduais, ministrou a palestra “A economia criativa e o futuro de Congonhas”, abordando a importância de estruturar uma governança pública (que reúne poder público, sociedade civil organizada e a iniciativa privada) para gestão dos projetos para desenvolvimento da economia criativa.

Ele justifica a afirmação acima com outra: “É um raciocínio relativamente simples, quem não sabe para onde vai, não chega. Para onde a gente quer que nossa cidade vá? Como eu gostaria que a cidade fosse? Que atividade econômica a cidade quer desenvolver como alternativa ao setor mínero-siderúrgico? Em nossa experiência em Maringá, iniciada em 1996, a sociedade civil  tem papel central no projeto de futuro de longo prazo e os projetos continuam sendo executados. Por isso agora aquela cidade do Paraná é considerada a melhor cidade do Brasil para se viver”.

O ex-prefeito e secretário de governo conclui lembrando que “a pandemia acelerou o uso da tecnologia e o futuro está diretamente ligado a ela. O que a gente precisa, sabendo que essas mudanças virão, é surfar na onda, e não ser engolido por ela”.

Maior público do palco principal do FNEC 2023, a palestra “Recriar, reinventar ou desaparecer”, do renomado historiador e escritor Leandro Karnal, instigou cada indivíduo a rever conceitos individuais e coletivos, como e a participar da transformação da sociedade.

Indagado sobre como superar os desafios para a implementação da diversificação econômica em uma cidade que possui uma matriz econômica robusta, mas que é finita, Karnal responde:

“É um desafio muito grande, porque nossa tendência é a estabilidade. E se houver um surto de prosperidade, se houver uma situação sustentável do ponto de vista econômico, a chance de acomodação é ainda maior. Essa é uma característica cerebral, não é preguiça, nós nos acomodamos a situações, relações e empregos para sobreviver. Nestas condições, a vontade de reinventar, sair da zona de conforto, quebrar paradigmas é muito pequena, porque a necessidade é a mãe da invenção. (…) Nós precisamos sempre fazer essa transformação daquilo que vai nos levar ao momento seguinte. Se neste momento estão entrando recursos, lance mão de pensamento estratégico: educação, infraestrutura, saneamento, segurança, diminuição das desigualdades econômicas, este é o caminho para passar adiante”, sugeriu.

Sobre a realização do FNEC 2023, Leandro Karnal afirmou: “É muito importante que façamos eventos que tratem de criatividade e gestão estratégica, de desafios de como eu dou passos adiante. Esses eventos colocam empreendedores, lideranças governamentais e comunitárias em contato. Eles conseguem perceber um futuro além desse momento imediato. E no momento que eles conseguem escolher esse futuro, conseguem dar passos, porque a inteligência é social e comunitária. (…). O que há de específico em Congonhas, tanto em relação a sua riquíssima história colonial, sua obras de arte impactantes, sua beleza geográfica em relação ao passo que eu quero dar para o futuro em Congonhas? O que eu quero e como melhorar tudo isso? Este é o desafio que eu encontro, ter o dom de colocar gente com ideias”, analisa o pensador.

Economia criativa

Em sua palestra “Economia Criativa꞉ Descubra o que é, as oportunidades e como você pode empreender nela”, a consultora especialista na criação e crescimento de negócios digitais, Carolina Picoli, apresentou aos participantes este novo conceito. “Além de muito novo, ele é abrangente e muitas vezes lúdico. Neste último caso, a gente nem consegue aplicá-lo no mundo real. A economia criativa diz respeito a atividades que geram algum valor econômico, partindo de ideias, talentos, de alguma coisa que o empreendedor ou uma empresa consegue fazer para além de entregar o seu produto ou serviço por meio de um novo conceito. Este é um diferencial. Por exemplo, uma das grandes fortalezas aqui de Congonhas é o turismo. Uma empresa tradicional deste segmento da economia vai simplesmente entregar um destino para um cliente, direcioná-lo para uma pousada. Mas quando esta empresa consegue criar um novo conceito, oferecendo também um atendimento diferenciado, uma experiência nova para esse cliente, temos um negócio, que por meio da criatividade, conseguiu gerar um valor econômico para o cliente, a região e para ele mesmo”, explica.

O prefeito de Congonhas, Dr. Cláudio, considera a economia criativa um tema muito atual, consequente das transformações que o mundo tem experimentado ao longo das últimas décadas. “Então este é o momento de todos que querem empreender, fazer acontecer, colocando seu nome na história, aproveitar ocasiões como esta feira de negócios e empreendedorismo para se capacitarem. Todos podem contar também, no decorrer do ano, com o suporte da Prefeitura e a consultoria do Sebrae, que são muito importantes”, aconselha.

Lucas Pita, subsecretário de Estado de Liberdade Econômica e Empreendedorismo, afirma que falar de diversificação em uma região farta de recursos financeiros e com diversas potencialidades como o turismo e a cultura é mais simples. “Isto porque aqui já tem toda a base construída. A partir daí é possível desenvolver outras vocações, como o comércio e serviços, com planejamento, estratégia e união. Vimos durante o FNEC o encontro de lideranças políticas da região, da cidade, do Estado, entidades dos diversos setores da economia e a sociedade. Todos abraçando a causa da diversificação econômica. O governo do Estado é sempre um parceiro de primeira ordem. O Invest Minas é um braço de atração de investimento, que já conseguiu atrair mais de R$ 380 bi para o estado. As coisas acontecem no município e é bom saber que prefeitos como os de Congonhas e Ouro Branco estão fazendo o dever de casa, tornando o campo florido para que as borboletas possam vir e ficar”, contextualiza o representante do governo do Estado.

Turismo criativo

Ana da Cruz Alcântara, mestre em Turismo, ex-secretária-executiva da Associação das Cidades Histórias de Minas Gerais e proprietária da Analcantara Consultoria: Turismo, Patrimônio e Economia Criativa, detalhou em sua palestra “O Turismo Criativo como Alternativa para o Desenvolvimento Sustentável” todo o processo necessário para a implementação de um política pública de desenvolvimento da atividade turística em um território como Congonhas.

A belo-valense radicada em Congonhas começou afirmando que, depois da pandemia, predomina o turismo criativo – que permite ao visitante o compartilhamento da experiência de conhecer melhor e até produzir o serviço ou produto que irá consumir.

“Precisamos trabalhar com duas palavras: preservação, que é cuidar de nossas raízes, histórias, memórias e tradições, e da inovação. Congonhas tem um potencial enorme neste novo turismo, mas precisamos de estratégias para desenvolvê-lo. Para trabalhar neste novo momento do turismo, não é preciso inventar a roda. Somente focar na simplicidade, na originalidade, do que é nosso, na vocação. Muitas coisas que dão certo em outros locais podem não dar certo em Congonhas. Quem cria essas estratégias é a governança, que é a união do poder público, comunidade e iniciativa privada. Os nossos produtores criativos têm papel primordial. São eles agricultores, artesão, poetas, contadores de histórias, músicos, atores, entre outros”, analisa.

Para Ana Alcântara “o espaço que o FNEC abre para discutir nossa cidade é extremamente estratégico. Tivemos a oportunidade de contar com profissionais renomados que trouxeram até nós o conhecimento. Precisamos de mais oportunidades como esta, como de dar sequência a esse diálogo em nossos conselhos e conferências municipais”.

Caminho apontado por Ana Alcântara, “Turismo de experiência e suas oportunidades para Congonhas” foi o título do painel conduzido por Sílvio Campos, da empresa de consultoria GKS, e representante do programa estruturante da Vale “Corredores e rotas”, desenvolvido em Congonhas em parceria com a Prefeitura. “Para uma consultoria como a GKS que tem esse objetivo de geração de renda, desenvolvimento territorial e socioeconômico, vemos um ótimo cenário para ser desenvolvido em Congonhas. No “Roteiro e rotas”, a GKS veio a Congonhas “minerar” informações, dados, histórias, saberes e fazeres locais. Congonhas vai muito além dos Profetas”, afirma.

Para que a experiência seja completa, uma cidade turística precisa de bons restaurantes. Então o FNEC 2023 trouxe um dos melhores representantes da gastronomia brasileira para contar sua história de vida. O diversas vezes premiado chef belo-horizontino, Ivo Faria, proprietário do Restaurante Vecchio Sogno e do Restaurante e Pizzaria La Palma, inspirou empreendedores com sua história e aconselhou donos de restaurantes a valorizarem o que há de melhor por aqui: “Foque naquilo que vocês têm na região, trabalhe o produto e a mão de obra regionais, porque assim você dá oportunidade para quem é daqui e quem é de fora quer o que é da terra”.

Instigado a experimentar o que é da terra, o chá da folha congonha, declarou: “Tem personalidade!”.

Ernani Luiz dos Santos, proprietário do Bar e Restaurante Beira Rio e diretor da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Congonhas (ACISC) acompanhou a palestra de Ivo Faria. “Foi uma honra conhecer o chef Ivo Faria, renomado e de uma história de vida muito interessante. Em Congonhas, temos bons bares e restaurantes, como pratos incríveis. Precisamos manter a tradição, mas também inovarmos sempre. O grande problema neste setor é a falta de mão de obra qualificada. Então sugiro a criação de cursos direcionados para este segmento”, sugeriu o comerciante que parabenizou a prefeitura pela realização do evento. 

Vendas

Felipe Neffa, pós-graduado em administração de empresas e gestão de projetos com 14 anos de experiência em marketing e vendas, demonstrou “Como criar e gerir uma máquina de vendas sendo uma pequena empresa e tendo poucos recursos”. “Procurei trazer um conteúdo e processos que são fáceis de se aplicar em pequenos negócios”, explica.

Sobre o quesito atendimento, Felipe Neffa garante que não tem como esperar que os próprios vendedores aprendam a função sozinhos. “Se você tem um negócio com atendentes, é preciso você assumir parte da responsabilidade de desenvolver essas pessoas. Não é preciso oferecer treinamentos, basta lembrá-lo todo dia que ele precisa sorrir, ser educada quando o cliente entrar na loja.  Importante também mostrar como isso é feito. Não haverá quem resolva o problema de todo mundo. Se cada empresário orientar melhor seu próprio time, a cidade inteira conseguirá melhorar o nível de atendimento.  Se eu quero ter mais resultado, eu nem tenho outra opção”, finaliza.

Inovação e tecnologia

Como inovar é preciso em todas as áreas, o FNEC 2023 apresentou o “Painel de Inovação” com a participação do hub de inovação P7 Criativo, de Belo Horizonte, e do INOVAP (Ecossistema de Inovação do Alto Paraopeba). Cilene Slamazo, como mentora para startups, consultora da área de inovação para pequenos e médios negócios e professora universitária na UNIFASAR, conduz o processo desde a ideação de uma startup até a preparação para que ela busque investimento. “Tentamos conectar a academia ao mercado, trazendo a ideia de startup, inovação, tecnologia e economia criativa dentro deste cenário, porque academia e mercado vivem mundos muito distintos atualmente”.

Sobre o cenário da inovação e tecnologia no Alto Paraopeba, Cilene afirma haver mão de obra altamente especializada suficiente para que a região seja autossustentável.

Descarbonização

Investindo em inovação e tecnologia, o Alto Paraopeba pode desenvolver sua rota competitiva para a descarbonização, que poderá se tornar o principal propulsor da diversificação econômica regional. Mas Miler Gazolla Corrêa de Sá, analista de promoção de investimentos da Invest Minas, adverte:

“Esta atividade produtiva é muito bem-vinda na livre iniciativa como meta de compliance de ESG, que vai além da obrigatoriedade, mas para funcionar mesmo, precisa ser uma demanda puxada por um projeto âncora. Caso contrário, ela não acontecerá na sua totalidade. Entendemos que, em caso de haver demanda, podemos ajudar a fomentar a produção de energia renovável em Minas Gerais. Uma possibilidade de produção dessa energia é por meio da utilização da biomaça de eucalipto, já que o estado é responsável por 60% da produção da indústria florestal brasileira. A energia final pode substituir o coque da indústria de cimento, que descarboniza aquele produto da construção civil. Outro exemplo é produção do hidrogênio verde, produzido através da eletrolização em que a molécula de hidrogênio e oxigênio são separadas. Já temos o projeto piloto da Eletrobrás na divisa de Minas com Goiás. Um terceiro exemplo é uma tecnologia desenvolvida pela Vale, pelo qual se chega ao aço verde. Nossa ideia é que haja um huby para produção de hidrogênio verde por aqui. Também é possível produzir energia a partir dos resíduos sólidos.  Já com a retirada do carbono do metano, obtemos o biometano, que pode substituir o gás como combustível limpo para veículos, gás de cozinha ou de processos industriais. Existem outras muitas possibilidades para se aplicar a descarbonização”, afirma Gazolla.

As mulheres se destacaram não só formando a maioria do público dos três dias de evento como ofertando conhecimento para quem esteve na Romaria.

A Rede Elas organizou a roda de conversa “Empreendedorismo Feminino”, que contou com a palestra de Paula Mota sobre o “Ócio criativo”. De família congonhense e moradora da cidade quando criança, a empresária do ramo imobiliário e apresentadora do podcast Ela tá que tá disse, emocionada, que “Congonhas tem um potencial gigante, mulheres incríveis e a união faz com que este movimento cresça e pule etapas”.

Uma das fundadoras da Rede Elas, Gaby Palmiery lembrou que este movimento surgiu em meados de 2022 com o intuito de unir mulheres empreendedoras: “Somos uma rede independente, autônoma, criada para nos fortalecer, somar, capacitar e acolher mulheres e, juntas, criar recursos, capacitações e oportunidades para aquelas que também querem entrar no empreendedorismo. Atualmente contamos com mais de 200 mulheres de Congonhas na rede. Realizamos palestras, eventos e outras atividades. Mantemos parceria com o QG da Inovação e o Sebrae para ofertar curso para quem quer aprender a empreender”. A Rede Elas se prepara para se tornar uma associação.

E a empresária doceira Mazé Lima encerrou as atividades de capacitação com sua palestra “Desistir não é uma opção”. Desde 2011, a moradora de Carmópolis-MG relata seu exemplo de vida pelo Brasil inteiro, inspirando mulheres, mas também homens. “Tudo começou por extrema necessidade, em 1999 eu não tinha R$ 1,00 para comprar leite para os meus filhos. Eu vim do meio rural e sonhava muito desbravar o mundo. Queria ser bailarina por diversos fatores. Mas eu fui bailar no mundo dos negócios, porque estes trazem muitas possibilidades, de expandir, de viajar. Nasci na roça, fui para outra, trabalhei em uma agência bancária em Carmópolis cuidando da limpeza, fui demitida, fiquei um ano procurando emprego, e não encontrei. Até que decidi fazer doce – o primeiro foi doce de leite com amendoim – e vender nas ruas em março de 1999, eu ganhei R$ 20,00 e percebi que isso ia mudar o rumo da minha vida e mudei mesmo, eu nunca mais deixei de fazer doces. Nossa empresa hoje gera diversos empregos e procuramos formar novas Mazés. Hoje eu até vendo em pouca quantidade para o exterior, mas meu foco mesmo é o nosso país e temos um capacidade grande aqui dentro mesmo. Os produtos mais procurados pelo Brasil são os de abacaxi e abóbora inteiros”, diz.

Mazé afirma que as mulheres donas de seus negócios precisam buscar mais conhecimento e se valorizarem mais para crescer. “A gente não deve desistir nunca, por mais difícil que seja a situação, se não, não conseguiremos realizar nossos sonhos e ser feliz”, aconselha.

“Infelizmente, um movimento como este a que Congonhas se propõe não é muito comum Brasil afora. A comunidade local e a região devem valorizar muito a iniciativa de realizar um Fórum como este, que faz com que os negócios e a cidade se desenvolvam”, completa a menina pobre que se tornou empresária vencedora.

A Prefeitura de Congonhas desenvolve ações todas as instituições que participaram do FNEC 2023. Bons exemplos são a criação de uma Escola de Artes com a Faop (Fundação de Artes de Ouro Preto) e outra de lançar um projeto relacionado ao patrimônio cultural em 2024 em parceria com a Fundação Renova, este último idealizado durante o evento.

O superintendente de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura, Geordane Silva, garante que os governos precisam ter planejamento, gestão e compromisso com a sociedade. “Esta também tem seu papel substancial a cumprir para alcançarmos o desenvolvimento sustentável. E é bem difícil ver todas as partes adequadamente comprometidas. O bom é que Congonhas já tem construída a sua história a partir da criatividade. Além de desenvolver outros setores produtivos, como o da economia criativa, queremos uma mineração criativa, por isso trouxemos o Invest Minas para falar de descarbonização. Podemos diversificar nossa economia, mas precisamos de outra indústria pujante, para que não haja uma queda brusca de arrecadação dos cofres públicos e de geração de renda para a população”, conclui.

A última atração do FNEC 2023 ficou por conta da apresentação do grupo Samba de Casa, que resgatou sambas-enredo tradicionais dos desfiles de escolas do Carnaval de Congonhas e ainda interpretou sucessos da MPB. Em seguida, chegou a Escola de Samba Casa Imperial da Rosa, que fez Congonhas reviver os tradicionais desfiles do passado em 2023 e se prepara para a folia do ano que vem. O Carnaval é outra atividade cultural que forma e emprega diversos profissionais da economia criativa.

Um robô gigante apresentou-se no FNEC 2023 como uma experiência de tecnologia e alegrou adultos e crianças, ao dançar ao ritmo de cada música durante os shows musicais, que encerraram cada um dos três dias do evento. 

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