16 de julho de 2024 05:50

SANTA CEIA: Tesouro sacro volta à capela livre de cupins

Após processo de desinfestação, esculturas de Aleijadinho começam a ser recolocadas amanhã no passo da Santa Ceia, em Congonhas

Um dos maiores tesouros da humanidade retorna ao local de origem, após trabalho de desinfestação para evitar o ataque de cupins. A partir da tarde de quinta-feira (13/6), a Capela da Santa Ceia, em Congonhas, na Região Central de Minas Gerais, começa a receber as 15 peças – 12 apóstolos, Cristo e dois servos, em tamanho natural – esculpidas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814). “Até sexta-feira, as peças sacras estarão no espaço construído entre 1799 e 1808 e totalmente restaurado por apresentar infiltração no período chuvoso”, disse Adriano Ramos, do Grupo Oficinal de Restauro, responsável pelo tratamento das obras escultórias.

Segundo o restaurador Adriano Ramos, a expectativa é concluir, até agosto e setembro, todo o processo de desinfestação denominado anóxia ou anoxia, para matar cupins e evitar a proliferação dos insetos, caso presentes na madeira. O conjunto de 64 peças sacras de madeira, de autoria de Aleijadinho, fica tradicionalmente exposto em seis capelas, ou Passos da Paixão de Cristo, no entorno da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, monumento reconhecido como Patrimônio Mundial.

O método (anóxia ou anoxia) consiste em colocar as imagens dentro da bolha de plástico especial – cada uma tem 3 metros de comprimento, 2m de largura e 1m de altura –, fechada com barreiras e válvulas. Quando tudo está bem acondicionado e vedado, a equipe técnica injeta nitrogênio para ser retirado todo o oxigênio existente no interior da bolha. Dessa forma, “tudo o que estiver vivo lá dentro morre”, explica o restaurador. Ele ressalta que em março, durante o diagnóstico, foram localizados ovos dos insetos em uma das esculturas, daí a urgência da prevenção. O trabalho completo vai demandar nove meses, sendo a duração média de 45 dias para cada conjunto de uma capela.

ANJO DA AMARGURA

Na tarde ontem, a equipe do Grupo Oficina de Restauro deu início a mais uma etapa da empreitada, com a retirada do Anjo da Amargura com o cálice, da Capela do Horto das Oliveiras. A peça será tratada na própria capela devido às suas dimensões, enquanto o conjunto (Cristo suando sangue e os apóstolos Pedro, Tiago e João) já passou pelo processo de desinfestação em outro local.

Na sequência, os especialistas vão trabalhar nas peças sacras da Capela Cruz às Costas, construída entre 1864 e 1875, na qual se encontram as imagens de Cristo ao lado de duas mulheres, de guardas romanos, do mascote da guarda e de um arauto que anuncia o cortejo pelas ruas de Jerusalém. “Todas serão embaladas, e ficarão na bolha durante 45 dias, para o processo de desinfestação”, adiantou Adriano.

Enquanto ocorria a desinfestação das peças, a Prefeitura de Congonhas conduzia o trabalho de conservação das capelas, com acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois os bens são tombados pela União e integram o complexo arquitetônico e artístico (incluindo os 12 profetas esculpidos também por Aleijadinho, no adro da basílica) reconhecido como Patrimônio Mundial, em 1985, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

VISITAÇÃO

Os turistas que visitam Congonhas, onde se destacam, no adro da basílica, os 12 profetas em pedra-sabão esculpidos também por Aleijadinho, denominado “gênio do Barroco”, já podem ver as imagens, concluídas, nas capelas da Prisão, Flagelação e Coroação de Espinhos. O trabalho de desinfestação, com recurso de um termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público Federal, transcorreu em lugar mantido em sigilo e monitorado pelos especialistas.

Já a conservação dos templos, com material (cal, argamassa de cal e areia) e técnicas construtivas da época contemplou a recomposição de rebocos e algumas partes degradadas, tratamento das cúpulas, limpeza das cantarias e pintura das esquadrias de madeira. Devido às chuvas do ano passado, a capela foi coberta provisoriamente, conforme documentou o EM, por uma estrutura metálica e lona, afixada no chão – a instalação da proteção foi em 22 de março, pela Prefeitura de Congonhas. 

OBRAS DE MINAS E DO MUNDO

Conheça a história das seis capelas de Congonhas que retratam os Passos da Paixão de Cristo e trazem, na fachada, citações bíblicas.

1) Santa Ceia
Construída entre 1799 e 1808, é a maior das capelas, com 10 metros de altura e área de 6m x 6m. Traz os 12 apóstolos, Cristo e dois servos esculpidos por Aleijadinho, que teria também sido o responsável pelo desenho do prédio. Segundo pesquisas, foi a única que Aleijadinho viu concluída. As pinturas das paredes são de Mestre Ataíde. A citação em latim sobre a porta é de São Mateus: “Enquanto ceavam, Ele tomou o pão e disse: ‘Eis o meu corpo’”.

2) Horto das Oliveiras
Cristo suando sangue, o anjo da amargura com o cálice e os apóstolos Pedro, Tiago e João são as imagens que compõem o cenário criado pelo Mestre Ataíde. Foi construída entre 1813 e 1818. A citação é de São Lucas: “Tendo caído em agonia, orava com mais insistência”.

3) Prisão
O cenário pintado por Ataíde recria o Monte das Oliveiras, com colunas e decoração, arcos e vegetação para valorizar o conjunto de peças – Cristo, Judas, São Pedro e soldados. A citação é de São Marcos: “Como se fosse um ladrão, com espadas e varapaus, vieste prender-Me?”.

4) Flagelação e Coroação de Espinhos
Da construção das primeiras capelas às três seguintes passaram-se quase cinco décadas, sendo a obra feita de 1864 a 1875. Esse passo, um dos mais visitados pelos turistas, mostra duas cenas separadas por uma barra. Do lado esquerdo, está Cristo atado a uma coluna, enquanto um soldado o esbofeteia; do direito, a imagem também conhecida como Senhor da Pedra Fria ou Cristo da Cana Verde. A citação é de São João: “Eis o homem”. A policromia das imagens da capela, da Cruz às Costas e da Crucificação é de autoria de Francisco Xavier Carneiro, contemporâneo do Mestre Ataíde.

5) Cruz às Costas
Construída entre 1864 e 1875. As imagens esculpidas por Aleijadinho mostram Cristo ao lado de duas mulheres, de guardas romanos, do mascote da guarda e de um arauto que anuncia o cortejo pelas ruas de Jerusalém. As pinturas nas paredes são de autor desconhecido. A citação é de São João: “Tomando sobre si a cruz”.

6) Crucificação
As peças mostram Maria Madalena ao pé da cruz, soldados disputando as vestes de Cristo, o centurião romano São Longuinho, o bom ladrão, Dimas, e o mau ladrão, Gestas. A citação é de São João: “Num lugar chamado Gólgota, O crucificaram. Com Ele, outros dois, um de cada lado”.”.

Fonte: Luciomar Sebastião de Jesus, escultor e pesquisador de Congonhas

Duas frentes de trabalho

1) Esculturas de Aleijadinho

Todo o conjunto de 64 peças passa pelo processo desinfestação (anóxia ou anoxia). Algumas esculturas dentro da capela, outras em local a ser determinado. As15 peças da capela da Santa Ceia, a maior dos Passos da Paixão, retornam ao espaço a partir de quinta-feira (13/6).

Os recursos para esse trabalho provêm de um termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público Federal.

2) Capelas ou Passos da Paixão de Cristo

As seis capelas, no entorno da Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, passam pelo processo de conservação.

Além das 15 peças da Santa Ceia, foram concluídas as imagens das capelas da Prisão, Flagelação e Coroação de Espinhos.

Na sequência, os especialistas vão trabalhar nas peças sacras da Capela Cruz às Costas e Horto das Oliveiras.

FONTE ESTADO DE MINAS

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