Cidade histórica sedia a produção da bebida, que tem suas uvas plantadas em Cordislândia, no sul do estado
Tiradentes é encantadora. A pequena cidade do interior de Minas Gerais foi uma das mais importantes vilas do Brasil Colônia, um dos polos da produção de ouro na época. Com suas vilas e casarões históricos, encontrou, com o tempo, no turismo, sua vocação, recebendo visitantes de diversos lugares do mundo durante todo o ano. Localizada na Estrada Real, é uma forma de conhecer a história de Minas Gerais, como uma imersão no passado, principalmente através de seus pontos turísticos, como a Igreja Matriz de Santo Antônio, o Museu Casa Padre Toledo, a Igreja Nossa Senhora do Rosário e o Museu de Sant’Ana, que foi construído na antiga cadeia da cidade e que, hoje, abriga grande acervo de obras de arte sacra.
Além desses pontos, Tiradentes recebe com frequência diversos eventos e festivais temáticos, como os de cinema, gastronomia, fotografia, teatro e jazz. São oportunidades de os turistas conhecerem melhor a cidade ao mesmo tempo que acompanham as programação que costumam, inclusive, ocupar diversos pontos importantes da cidade. Outro destaque é o ecoturismo: rodeada pela Serra de São José, são diversas as opções de trilas e cachoeiras que ficam próximas do centro, o que garante mais opções para aqueles que gostam da natureza. Apesar do alto fluxo de visitantes, Tiradentes permanece com seu aconchego e com diversas opções de hospedagem, bares e restaurantes.
Tiradentes na rota do vinho
Mais recentemente, Tiradentes ganhou mais uma opção de turismo, e ligada à gastronomia. Minas Gerais tem descoberto e usufruído de suas condições climáticas, principalmente no sul do estado, para a produção de vinhos. São diversas marcas que produzem no interior e que colocam o nome de Minas na rota da bebida no Brasil. Mas Tiradentes, em específico, entrou nessa rota a partir da Luiz Porto Vinhos Finos, que tem uma produção de alta qualidade, mesclando técnicas modernas com cuidados artesanais. E é a história dessa marca que os leitores da Tribuna conhecem nesta reportagem, que dá continuidade ao especial da Estrada Real, feito através do convite da Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de Minas Gerais (Setur-MG) a jornalistas de todo o país.
Conheça a Luiz Porto Vinhos Finos
Localizada na Várzea de Baixo, em Tiradentes, a Luiz Porto Vinhos Finos fica em um charmoso galpão, onde os vinhos são produzidos. E quem conta a história da marca e recebe os jornalistas é o Luiz Porto Junior, que é o proprietário. Como ele afirma, tudo começou, na verdade, a quilômetros de distância, na cidade de seus avós maternos, em Cordislândia, no sul de Minas Gerais. Dona Mirena e o senhor Pedro, como ele os chama, tiveram seis filhos, dentre eles, a mais velha, mãe de Luiz, que saiu da cidade e foi para São José dos Campos, lugar onde conheceu Luiz Porto.
Os dois tiverem três filhos e Luiz Porto Junior é o mais novo deles. O nascimento do caçula coincide com um momento importante para a família, principalmente para o pai. O patriarca começava seus trabalhos na região de Cordislândia, já vendo o trabalho que seus sogros realizava por ali com a terra. Ele decidiu comprar um terreno e plantou 200 mil pés de cafés, com o intuito de se tornar cafeicultor. Em 1985, pronto para transformar seu sonho em realidade, exatamente em 9 de junho, o sul de minas viveu uma das piores geadas e todos os pés foram dizimados. Naquela mesma noite, nasceu Luiz Porto Junior.
Mudança de aposta
“Mal sabia o que me aguardava no futuro”, comenta o empresário. “Porque, naquela noite, meu pai perdeu o primeiro plantio e começou olhar para algo diferente no sul de Minas Gerais, principalmente para a fruticultura. E, 20 anos depois, ele conheceu um projeto chamado ciclo invertido de plantio e da técnica de dupla poda. A partir dele, se conduz as uvas de uma jeito que, ao invés do verão, que é extremamente chuvoso, elas são produzidas no inverno, que é seco, com dias ensolarados e quentes.” Cenário esse muito comum em Cordislândia.
Luiz Porto decidiu comprar 45 mil mudas de uva importadas da França, em 2004. “Ele ainda foi taxado de louco. Porque era muito investimento e não se tinha a cultura de consumir vinhos brasileiros, muito menos mineiros. Mas ele quis fazer isso.” Primeiro, em caráter experimental. Esse começo coincide com o momento em que Luiz Porto Junior se forma em Administração e decide se mudar para a terra natal de sua mãe. E é quando ele ajuda seu pai a construir uma vinícola, com tecnologia trazia da Itália pra processar as uvas que, como conta, já apresentavam potencial.
Em 2012, o vinícola foi concluída e a primeira safra comercial foi colhida: 80 toneladas de uva. “Isso já com a sensação de que o sonho se tornou realidade, porque os vinhos estavam com uma qualidade muito bacana, tinham potencial de maturação muito bom, identificado pelo nosso enólogo, que ainda cuida dos nossos vinhos. E, junto com o meu pai, eu os degustei nos tanques. Uma das coisas que a gente pode vivenciar é a alegria de poder compartilhar aquele momento juntos.”
Continuidade
No Natal de 2012, no entanto, Luiz Porto morre. “Além da saudade, toda a história ecoou na minha alma e me fez lembrar da noite do meu nascimento e eu percebi que eu tinha nascido para fazer vinhos especiais.” Luiz Porto Junior decidiu continuar com o negócio, lançou a marca no mercado e colocou o nome em homenagem ao seu pai. O negócio foi crescendo, e, atualmente, as uvas são plantas nas terras dos avós do empresário, no alto de Cordislândia. Mas, principalmente pelo porte da cidade, seria difícil que sua produção seguisse de lá, sobretudo pensando já em receber os turistas e os clientes. Foi quando ele passou a pensar em Tiradentes.
Em um jantar em um dos restaurantes da cidade, ele ficou sabendo que um amigo tinha um galpão onde fazia marcenaria com o pai e, com o fim do negócio, o espaço estaria à venda. “E eu pensei nesse lugar para se tornar a primeira vinícola de Tiradentes”, afirma Luiz Porto Júnior. “Às margens do Rio Sapucaí renovamos os nossos sonhos e renascemos em Tiradentes.” Ele conta que é mesmo uma continuidade da história de seu pai. “Os filhos continuam nosso pulsar. E eu enterrei o umbigo do meu filho no vinhedo. Para ele ver que isso pulsa na alma. É o poder da roça. Porque existe essa conexão com a terra. Assim como os nossos vinhos.”
As linhas da Luiz Porto Vinhos Finos
Já reconhecido em todo o Brasil, a Luiz Porto Vinhos Finos produz duas linhas principais: a Luiz Porto, com vinhos mais complexos em virtude do envelhecimento; e a Dom de Minas, que exalta o caminho que o estado tem encontrado nessa área. Os vinhos são de diversas uvas e, no galpão, é possível acompanhar a forma como eles são produzidos e conhecer mais de perto o processo. Lá também é possível degustar as bebidas, que são vendidas em diversos restaurantes, lojas e mercados.
Uma bebida mineira
“Dizem que por trás de um bom vinho tem sempre uma boa história. E, no caso da Luiz Porto Vinhos Finos, além de bons, eles são das nossas terras. Por que não vir a Minas Gerais e tomar um vinho mineiro?”, questiona Luiz Porto Junior, que segue com a missão de honrar a memória do pai, a tradição da família e, claro, mostrar a potência e a importância do vinho brasileiro, sobretudo mineiro.
FONTE TRIBUNA DE MINAS