Festas, feiras literárias, festivais, congado, carnaval acústico, serenatas, música, Natal: destaques da programação em Ouro Preto, Tiradentes, Diamantina e Itabira
Minas Gerais é uma festa. De janeiro a janeiro, o estado serve de palco para cortejos religiosos, folguedos e manifestações culturais de todas as cores. Há mais de um século as coisas transcorrem assim. E o fato fresco é que, dos últimos anos pra cá, a terra bucólica do cafezinho com pão de queijo também se tornou chão para o terceiro maior carnaval do Brasil. Sim, em 2024, a farra momesca arrebanhou 12 milhões de turistas — 6,5 milhões no interior e 5,5 milhões em Belo Horizonte — e injetou cerca de R$ 4,7 bilhões na economia local, de acordo com um levantamento realizado pela Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, a Embratur. Para se ter uma ideia mais clara da pujança, na capital mineira, o número de blocos nas ruas foi de 536. Não à toa, Minas Gerais foi o terceiro estado do país a receber a maior quantidade de visitantes estrangeiros durante a folia, 30 mil “gringos”.
— O samba em Minas é muito forte. E o carnaval, mais forte ainda. O que precisa é que ele seja divulgado. Belo Horizonte, por exemplo, sempre teve uma vocação para a folia. Há uma tradição criada por nomes como Ataulfo Alves, Geraldo Pereira, Ary Barroso… São todos mineiros que se tornaram conhecidos no Brasil e no mundo como grandes sambistas — analisa o historiador Marcos Maia, coordenador geral do projeto Inventário do Samba de Belo Horizonte. — Nosso estado não fica atrás de nenhum outro no quesito de tradição carnavalesca. E isso é bonito, porque a força do samba e do carnaval, por aqui, vai ao encontro das tradições festivas mineiras, como o congado, a folia de reis, as serestas… É toda uma herança cultural colonial de festas religiosas, que vêm desde o século XVIII, e que sempre envolveram várias classes sociais, promovendo uma relação constante entre o erudito e o popular, o sagrado e o profano. E hoje isso persiste.
Na capital mineira, uma novidade implementada este ano, com a sonorização de vias, será expandida em 2025. A iniciativa — que instalou caixas de som nas principais avenidas onde circulam os maiores blocos — possibilitou que a música dos trios elétricos e das baterias de grandes cordões, como o Baianas Ozadas e o Então Brilha, fosse ouvida, com qualidade, a mais de 300 metros de distância.
Nas cidades históricas do estado, Momo também é rei absoluto. Em Tiradentes, palco de muitos festivais, o carnaval se tornou o principal evento turístico — 40 mil pessoas circulam pela cidade nesse período, segundo a prefeitura. Em Diamantina, o número de blocos saltou de sete, em 2017, para 60, este ano. Antes que a folia chegue, uma série de outros festejos fazem um “esquenta” de respeito em diferentes locais. Dá para curtir, e muito, até lá.
Diamantina: música o ano todo
Mais antiga formação musical de Minas Gerais, a Banda do 3º Batalhão de Polícia Militar de Diamantina — fundada em 1891 — tem suas temporadas de “vesperatas”. Os tradicionalíssimos concertos ao ar livre, com instrumentistas posicionados nas sacadas de casarões centenários (numa “serenata ao contrário”), serão retomados em abril de 2025. Até lá, a Orquestra Sinfônica Jovem de Diamantina realiza apresentações igualmente arrojadas — e também em patrimônios da cidade, gratuitamente —, com versões para canções de ritmos variados, da MPB ao sertanejo, nos dias 26 de outubro, 23 de novembro e 21 de dezembro, data em que acontece a famosa Cantata de Natal, na Catedral de Santo Antônio. Fato é que o município histórico no Vale do Jequitinhonha, a mais ou menos 300 quilômetros de Belo Horizonte, respira música o ano inteiro.
Entre os dias 14 e 17 de novembro, o festival Circuito Canto Coral reúne grupos vocais de todas as regiões do país. Mais à frente, no dia 7 de dezembro, uma roda de serestas colocará nas vias de pedra um bloco com quatro grupos da região — formado por quase 80 seresteiros — caminhando e cantando as músicas preferidas do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), diamantinense ilustre. E não acaba aí. No dia 12 de janeiro, em celebração à folia de reis, a cantoria também rola solta nas ruas, com cortejos de cerca de 60 grupos de foliões e pastorinhas.
Ouro Preto: congado nas ruas
Festas realizadas por grupos de congado, ou reinado, de Minas Gerais atraem anualmente centenas de turistas a Ouro Preto, sobretudo entre novembro e janeiro. As manifestações culturais — que, em agosto deste ano, foram declaradas patrimônio imaterial do estado — remontam a tradições da religiosidade africana trazidas ao país no século XVII por povos negros escravizados. As celebrações, em devoção a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, são coloridas, embaladas por música e com indumentárias próprias. Como manda o costume, no segundo domingo de janeiro (dia 12, em 2025), 35 guardas de congado se reunirão na cidade histórica — a mais ou menos 1h40 de Belo Horizonte de carro — para reverenciar também Chico Rei, figura lendária tida como antiga autoridade máximo do Congo.
— Os cortejos começam às 5h e seguem durante o dia. Todas as pessoas podem participar — explica Kedison Guimarães, diretor de igualdade racial da Casa de Cultura Negra de Ouro Preto.
As festas não terminam aí. Palco para a Semana do Aleijadinho — com palestras e exposições relacionadas ao escultor barroco, entre 11 e 16 de novembro —, Ouro Preto vira um “fervo” no carnaval. A prefeitura calcula que pelo menos 80 mil turistas lançarão serpentinas em 2025. É de lá, aliás, o mais antigo bloco do Brasil, o Zé Pereira dos Lacaios, fundado em 1867.
Tiradentes: união de tribos
Não há mês em que Tiradentes não receba um festival cultural de médio ou grande porte. A cidade pacata — com ruas de pedra, casinhas bem preservadas e ares cenográficos — acolhe, todo ano, 27 eventos dos mais variados assuntos. Isso sem contar as tradicionais festas religiosas… Entre 7 e 10 de novembro, é a vez da Feira Literária de Tiradentes, a Fliti, aportar por lá, com a presença de autores como o angolano José Eduardo Agualusa, colunista do GLOBO, e os brasileiros Carla Madeira, Francisco Bosco, Bela Gil, Gregório Duvivier e Paula Pimenta, entre outros. Logo depois, entre 15 de novembro e 6 de janeiro, o município ganha programação (e decoração) especial de Natal e vira uma atração turística por si só. Nesse período, há apresentações musicais na praça principal, com a presença de Papai Noel para os pequenos, projeções na Igreja de Bom Jesus da Pobreza (de sexta-feira a domingo), além de show de luzes na Matriz de Santo Antônio junto a concertos de órgão (recomenda-se comprar ingresso com antecedência no site www.concerto.paroquiatiradentes.com.br). Em 2025, a cidade já começa o novo ano com a Mostra de Cinema, entre 24 de janeiro e 1º de fevereiro, que exibe dezenas de filmes inéditos e reúne atores, diretores e realizadores. Este é o segundo maior evento no município, atrás apenas do carnaval, conhecido pelos blocos acústicos — sim, a regra por lá é a seguinte: só pode desfilar sem carro de som.
— Além disso, também estabelecemos horário para a farra começar e terminar. É que muitos turistas vêm para pular o carnaval, é claro, mas também estão aqui para descansar — destaca Sérvulo Matias Filho, secretário municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer.
A partir de 13 de junho, data em que é celebrado o Tríduo do padroeiro Santo Antônio, as bandeirinhas de festas juninas tomam conta do Largo das Forras e outras praças. É o tempo de pular fogueiras e aproveitar o festival Inverno Cultural, com diversos shows.
Itabira: livros no meio do caminho
Há livros, muitos livros, no meio do caminho de Itabira. Terra de Carlos Drummond de Andrade, o município é parte do circuito de festivais literários no país. A cidade que fica a pouco mais de cem quilômetros de Belo Horizonte acolhe o Festival Literário Internacional de Itabira, a Flitabira, que chega à quarta edição em 2024, com programação entre 30 de outubro e 3 de novembro.
O evento, este ano, recebe convidados como o português Valter Hugo Mãe (que acaba de lançar “Deus na escuridão”), Itamar Vieira Júnior (autor do best-seller “Torto arado”), Stênio Gardel (de “A palavra que resta”, título vencedor no National Book Awards), Conceição Evaristo (nome por trás de obras como “Ponciá Vicêncio”), Natalia Timerman (do recente “As pequenas chances”), Jeferson Tenório (que é autor do premiado “O avesso da pele” e será homenageado no festival) e Tamara Klink, jovem escritora conhecida por suas travessias solitárias pelo Oceano Atlântico e pelo Ártico. A Flitabira também sediará a cerimônia de entrega do Troféu Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores, para a jornalista e colunista do GLOBO Míriam Leitão.
FONTE O GLOBO