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Construída pela população negra, demolida pelo preconceito: a história da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, símbolo de resistência do povo preto em Divinópolis

Construída por volta de 1850, mas concluída três décadas depois, a capela desempenhou um papel central nas celebrações culturais e religiosas da comunidade afrodescendente da região. No entanto, em 1957, foi demolida para dar lugar ao espaço que abriga o Mercado Central. Hoje, há uma réplica entre o mercado e a antiga Delegacia Regional.

No Dia da Consciência Negra, o g1 resgata a história da antiga igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Divinópolis, que reflete a luta, a fé e a resistência da população afrodescendente da cidade. A reportagem conversou com o historiador Welber Tonhá Silva, que compartilhou o olhar histórico sobre o templo.

Construída a partir de 1850 e concluída 31 anos depois, a capela tornou-se um importante centro de celebrações culturais e religiosas, como as festas de Reinado, marcadas pelo protagonismo das comunidades negras locais.

“Justamente por isso ficou conhecida como a ‘igreja dos pretos’, por ter sido frequentada pela maioria de fiéis negros. O longo período para a construção do local se deve às condições da época e à falta de recursos financeiros. A comunidade se mobilizou com arrecadações, doações de animais como vacas e bois, além de eventos para angariar fundos”.

A igreja ficava onde hoje está o Mercado Central, ao lado de um cemitério. Ambos foram demolidos em 1957. Conforme o historiador, a demolição foi motivada por uma combinação de preconceito racial e alegações de modernização urbana.

“A obra foi essencialmente popular e contou com o trabalho de muitos escravizados, o que torna a demolição um marco simbólico de desrespeito à história e às contribuições culturais e religiosas afrodescendentes na cidade”, destacou.

Embora não haja documentos que comprovem oficialmente, Welber acredita que houve pressão de famílias influentes e lideranças políticas para retirar a igreja da região central de Divinópolis.

“A justificativa formal era a necessidade de desenvolvimento e expansão da cidade, mas, na prática, o preconceito contra a movimentação e os encontros da população afrodescendente no local foi determinante. A decisão gerou forte revolta pelo impacto cultural e histórico da destruição”, explicou.

O historiador enfatiza que esses eventos representam “dívidas históricas impagáveis”.

“Demolir uma igreja construída em três décadas fere a cultura, destrói a história. A transferência dos corpos ao novo cemitério foi algo desumano, que historicamente fere a dignidade humana”, pontuou.

Réplica da igreja

Na década de 1980, como forma de preservar parte desse legado, foi construída uma réplica da igreja, localizada entre o mercado e a antiga Delegacia Regional. A iniciativa partiu de Vinícius Raimundo Peçanha, renomado pesquisador, folclorista, defensor cultural e membro imortal da Academia Divinopolitana de Letras.

“A réplica existe para que não esqueçamos o quanto o ser humano já destruiu histórias sociais. Ela também se tornou um símbolo de resistência cultural e religiosa de uma população que encontrou na fé e na tradição um refúgio diante das adversidades. Celebrar essa memória no Dia da Consciência Negra é honrar aqueles que fizeram de Divinópolis um exemplo de diversidade e perseverança”, concluiu Welber.

FONTE G1

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