Templo do século 18, às margens do Rio Grande, em Carrancas, está em situação precária. Recursos serão usados para a restauração da capela
O recente desabamento do forro da Igreja São Francisco, em Salvador (BA), joia do patrimônio nacional, comove o país, devido à morte de uma jovem, e leva preocupação aos gestores de bens culturais em situação precária. Em Carrancas, na Região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, as atenções se voltam para a tricentenária Capela Nossa Senhora da Conceição do Porto do Saco, às margens do Rio Grande. “Precisamos salvar, com urgência, este patrimônio dos tempos coloniais”, diz o padre Rutiero Ruan de Carvalho, administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Carrancas, vinculada à diocese de São João del-Rei.
Interditado há quatro anos, o templo do século 18 demanda serviços em áreas como cobertura, forro e parte elétrica, além de revisão do madeiramento, informa padre Rutiero, que assumiu a administração paroquial há dois meses. Como medida de segurança, ninguém entra na capela localizada perto de um acidente geográfico conhecido por “saco”, ou pequena enseada. “A comunidade começou uma campanha para obter recursos, e quem quiser ajudar pode entrar no instagram @associacaodacapela”, avisa o religioso.
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Urgência
Tombada pelo município, a capela está sem a imagem da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, e dos demais santos de devoção, os quais foram levados para local seguro. “Nossa urgência está nas obras da cobertura da capela. O que ocorreu em Salvador nos atemorizou. Felizmente, ninguém entra aqui”, conta padre Rutiero, confiante em obter os recursos para reabrir a edificação. Ele lembra que o altar colateral esquerdo tem pintura do artista colonial Joaquim José da Natividade (1771-1841).
Cidade famosa pelas serras e cachoeiras e pertencente ao Circuito turístico Trilha dos Inconfidentes, Carrancas (4,6 mil habitantes) tem novamente em funcionamento a ligação, por balsa, entre o distrito de Caquende, em São João del-Rei, e o Porto do Saco. segundo padre Rutiero, a restauração da capela poderá ser mais um atrativo nessa rota, que reduz muito o caminho entre os dois municípios.
A iniciativa tem apoio da prefeitura local, informa a secretária Municipal de Turismo e Cultura, Amanda Ferreira. “Estamos concluindo a restauração da Matriz Nossa Senhora da Conceição, no Centro da cidade, e, na sequência, vamos dar toda atenção à capela do Porto do Saco”, diz a secretária. “Com a reativação das balsas, o turismo vai crescer na região”, acrescenta.
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História
A origem do vilarejo do Porto do Saco, distante 30 quilômetros da sede municipal, está ligada a Dona Júlia Maria da Caridade, antiga proprietária da Fazenda do Saco, a qual edificou uma capela, feita de pedras, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, no início do século 18. Conforme a tradição oral, a ação foi motivada pela aparição de uma imagem da santa às margens do Rio Grande (hoje represado em um lago, a Represa dos Camargos, que atrai muitos visitantes nos fins de semana).
Pesquisas mostram que o Porto do Saco foi importante canal comercial de São João del-Rei, antes da chegada da ferrovia, para escoamento da produção de ouro da região – desde a antiga Villa Rica, hoje Ouro Preto, até o porto de Paraty (RJ). Após 1879, as terras foram doadas à capela e a quem desejasse formar um povoado em torno dela.
FONTE: ESTADO DE MINAS