Peça sacra foi furtada de Diamantina há 20 anos e resgatada em leilão em São Paulo
Duas comunidades mineiras festejam conquistas preciosas para o patrimônio cultural e espiritual do estado. Nesse sábado (22/3), no distrito de Córregos, em Conceição do Mato Dentro, na Região Central, católicos participaram da reabertura da Matriz Nossa Senhora Aparecida de Córregos, do século 18, entregue totalmente restaurada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG).
Já em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a Igreja São Francisco de Assis abriu as portas, na noite de quinta-feira (20), para receber a imagem de São Bento – ausente do altar, por motivo de furto, havia duas décadas – entregue pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Do século 18, a escultura em madeira policromada, com 37 centímetros de altura, foi reentronizada durante missa presidida pelo bispo de Diamantina, dom Darci José Nicioli.
Do furto ao retorno, houve a longa espera de duas décadas. Em 2007, conforme apurou o MPMG, o padre responsável pela casa paroquial constatou o desaparecimento da escultura e acionou as autoridades. No final do ano passado, a Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC/MPMG), que tinha a peça cadastrada como “desaparecida”, recebeu a notícia da identificação da escultura em um leilão de antiguidades.
Diante disso, após investigações preliminares, foi expedida, em 14 de janeiro de 2025, recomendação, pelo MPMG, ao leiloeiro, para entrega provisória do bem cultural a fim de ser feita análise técnica. Três dias depois, a escultura foi recolhida em São Paulo (SP), pelo MPMG, e chegou à sede da CPPC, em Belo Horizonte, onde foram feitos o registro fotográfico e a análise técnica, sendo confirmados origem e procedência do bem como da Igreja São Francisco de Assis.
“É da providência de Deus que a devolução da imagem ocorra na véspera do dia em que a Igreja celebra São Bento. Ele é um dos poucos santos com duas datas comemorativas no calendário litúrgico”, disse o procurador-geral de Justiça Adjunto Institucional, Hugo Barros de Moura Lima. Em 21 de março, data do chamado “trânsito de São Bento”, ele morreu na abadia de Monte Cassino, na Itália, em 547 d.C. A festa litúrgica de 11 de julho marca o traslado das relíquias do santo para a abadia de Saint-Benoit-sur-Loire, na França.

Em Córregos
A festa foi intensa no Núcleo Histórico do distrito de Córregos, a 24 quilômetros do Centro de Conceição do Mato Dentro. No sábado, a comunidade participou da reabertura da Matriz Nossa Senhora Aparecida de Córregos, tombada pelo Iepha-MG há 40 anos, que disponibilizou recursos para o restauro (provenientes de medida compensatória) e fez o acompanhamento técnico.

Um dos destaques do templo está no forro da capela-mor, que ressurgiu sob camada de tinta branca em primoroso trabalho de restauração. Trata-se da pintura creditada ao artista Gonçalo Francisco Xavier durante sua permanência em Minas entre 1742 a 1775.
O serviço de restauro, que demandou dois anos, contemplou, na parte arquitetônica, estrutura, alvenarias, esquadrias, cobertura, forros, piso. E ainda instalações complementares (instalações elétricas, hidráulicas, e de proteção contra descargas atmosféricas, prevenção e combate a incêndio, sonorização, alarme contra intrusão e drenagem).
Já no restauro de elementos artísticos, houve intervenções no altar-mor, pinturas parietais da capela-mor, forro da capela-mor, arco- cruzeiro, altares colaterais, altares das capelas laterais, lavabo, painel do órgão e púlpito. No período de obras, a comunidade, a convite do Iepha, visitou o templo.
Padroeira
Segundo a tradição oral, em 1722 “apareceu” no cemitério, onde depois foi erguida a Matriz Nossa Senhora Aparecida de Córregos, uma imagem da Virgem Maria. Ela teria sido deixada por um bandeirante, em busca de ouro, que foi embora, seguindo o Rio Santo Antônio, por não conseguir grandes riquezas. Após a conclusão da igreja, a imagem foi para o altar.
FONTE: ESTADO DE MINAS