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Serra da Piedade: corações ao alto em meio à natureza

No topo da montanha, em Caeté, a imagem de Nossa Senhora da Piedade e a paisagem única, com as duas basílicas cercadas de verde, inspiram os católicos

Duas palavras – uma da natureza, outra da religiosidade – se unem para batizar, e traduzir, um dos mais belos patrimônios ambientais, paisagísticos, culturais e históricos de Minas: a Serra da Piedade, em Caeté, de onde se avista grande parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O topo do maciço guarda a imagem da padroeira do estado, Nossa Senhora da Piedade, abriga duas basílicas, uma delas, do século 18, a menor do mundo, oferece caminhos que remetem à Paixão de Cristo e às dores de Maria, e apresenta um monumental calvário. Para a Semana Santa, que começa domingo (13), há vasta programação para moradores e visitantes.


Na quinta reportagem da série “Paixão e fé – Espaços sagrados”, o Estado de Minas convida o leitor a subir a montanha, contemplar a paisagem em 360 graus, sentir a mudança de temperatura, ainda mais nesses dias em que o outono já mostra a que veio, e ficar em total sintonia com a “magnífica arquitetura divina”. Quem se referiu assim ao templo do século 18 foi o segundo arcebispo de BH, dom João de Resende Costa (1910-2007). A romaria à Serra da Piedade começou há mais de 250 anos, e recebe cerca de 500 mil pessoas por ano. Vale lembrar que as visitas devem ser agendadas no site do santuário (santuarionossasenhoradapiedade.arquidiocesebh.org.br).


A tarde leva a preces, meditação, contemplação do ensolarado cenário. “Este lugar inspira reflexões, ficamos mais introspectivos, ampliamos nossos horizontes”, diz a servidora pública Giovana Gomes, moradora de BH. Diante do “mar de montanhas”, ela vive momentos de paz e tem a sensação de infinito. Após admirar a imensidão, Giovana vai até o calvário para fazer agradecimentos e pedir bênçãos.

Moldadas em ferro nodular (com propriedades, em maleabilidade, semelhantes ao aço), as esculturas do calvário – uma grande cruz com a imagem de Cristo, tendo à sua direita a Virgem Maria e à sua esquerda, São João – se encontram no local desde 1991, feitas pelo artista Vlad Eugen Poenaru, de acordo com informações da Arquidiocese de BH. Cada escultura tem 3 metros de altura e pesa uma tonelada.


Três caminhos

Peregrinos e visitantes podem escolher entre duas vias-sacras no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. Há um percurso mais longo, na estrada vicinal que dá acesso ao alto da montanha, e um mais curto, próximo à ermida e ao Calvário. No primeiro, os Passos da Paixão são representados no conjunto de 15 painéis com azulejos que revestem pilares de alvenaria de pedra. A disposição dos pedestais, concebida pela arquiteta Ana Schimidt, se espelhou no modelo da via-sacra do Santuário Arquidiocesano Santíssima Eucaristia – Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, na capital.

Devoção nas alturas

1) Calvário
Há uma grande cruz com a imagem de Cristo, tendo à sua direita a Virgem Maria e à sua esquerda, São João. Obra do artista Vlad Eugen Poenaru. Cada escultura, em ferro modular, tem 3 metros de altura e pesa uma tonelada

2) Via-sacra
Os Passos da Paixão de Cristo são representados no conjunto de 15 painéis com azulejos que revestem pilares de alvenaria de pedra. Em alguns pontos, a caminho do topo da serra, vale parar, respirar fundo e se inspirar para muitas fotos

3) Caminho das Dores da Mãe da Piedade
Reúne mosaicos retratando sete momentos da vida de Maria, narrados na Bíblia

Já o percurso curto começa na Basílica Estadual das Romarias (na Praça Alcides da Rocha Miranda) e vai até a Basílica da Piedade (na Praça Cardeal Mota). O Caminho das Dores da Mãe da Piedade merece igualmente muita tranquilidade para se aproveitar cada segundo. Na palavra de religiosos e leigos, o percurso significa um “jardim de espiritualidade”, com espaço suficiente para recarregar as forças, alimentar o espírito, fortalecer a fé e encarar, no retorno à vida diária, problemas e dificuldades.


O Caminho das Dores reúne mosaicos retratando sete momentos da vida de Maria, narrados na Bíblia. Por ali passam diariamente Fátima Jovita da Silva e Simone Fernandes Ferreira, funcionárias do santuário. “Nossa Senhora da Piedade nos dá força para viver”, afirma Fátima, enquanto, para Simone, “Ela não deixa que nossas dores nos derrubem”.

Reconhecimento papal

Na Semana Santa, haverá missas, orações, procissões e outras atividades nos dois templos católicos, ambos basílicas, existentes no topo do maciço. Nas duas construções – a ermida do século 18 e a Igreja das Romarias, da década de 1970, parece residir a alma de Minas. A singela edificação barroca guarda a imagem da padroeira do estado, Nossa Senhora da Piedade, atribuída ao mestre do Barroco, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).


Em 2017, ano da comemoração dos 250 anos de peregrinação à Serra da Piedade, veio de Roma o reconhecimento maior para a ermida do século 18 e a igreja de 1974. O papa Francisco elevou ambas à condição de basílica, conforme anunciou, em 18 de novembro de 2017, o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo.


A ermida passou a se chamar Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, e a Igreja das Romarias, Basílica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. “A Serra é o coração de Minas, pois reúne a fé católica, a riqueza ambiental, o solo rico em ouro e o conjunto do santuário”, disse dom Walmor, na época. Tombada pelo estado, pela União e pelo Município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP).


A história do santuário começa no século 18, com o relato de um milagre: a Virgem Maria teria aparecido para duas jovens no alto da Serra da Piedade. A partir desse dia, o fato se espalha rapidamente por toda a região e muita gente chega ao topo do maciço para rezar. O episódio toca o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Mas ele se converte e decide dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde teria ocorrido o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade tem início em 1767 e, mais tarde, ganha a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, depois reconhecido como mestre do Barroco mineiro – Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.


Em 31 de julho de 1960, o estado de Minas Gerais foi consagrado a Nossa Senhora da Piedade, após decreto do papa João XXIII, por meio das Letras Apostólicas “Haeret animia”, de 20 de novembro de 1958. Já em 15 de setembro de 2022, foi proclamada Padroeira da Arquidiocese de Belo Horizonte. Durante a missa presidida pelo arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, na Catedral Cristo Rei, o então bispo auxiliar dom Geovane Luís da Silva (hoje bispo da Diocese de Divinópolis) leu o decreto da Santa Sé com o reconhecimento de que Maria, venerada a partir do título de Nossa Senhora da Piedade, é a padroeira da arquidiocese. 

Programação

Várias celebrações unem o Domingo de Ramos (13) às festividades da Ressurreição (20), no topo da Serra da Piedade, em Caeté (Grande BH). Confira:

Dia 13 – Domingo de Ramos
8h – Missa na ermida da padroeira de Minas
10h – Missa seguida de procissão da Arena da Amizade à Igreja Estadual das Romarias
15h – Missa seguida de procissão da Praça Antônio da Silva Bracarena à ermida
18h15 – Terço mariano

Dia 14 (cerimônias na ermida)
8h – Laudes solene
9h e 15h – Missas
12h – Terço da Piedade
18h15 – Terço Mariano
19h30 – Vésperas solene

Dia 15 (na ermida)
8h – Laudes solene
9h – Missa
12h – Terço da Piedade
15h – Santa Missa
18h15 – Terço Mariano
19h30 – Celebração da palavra

Dia 16 (na ermida)
8h – Laudes solene
9h – Missa
12h – Terço da Piedade
15h – Missa
18h15 – Terço mariano
19h30 – Vésperas solene

Dia 17 – Início do sagrado tríduo pascal (na ermida)
18h15 – Terço Mariano
19h30 – Missa da Ceia do Senhor

Dia 18 – Sexta-feira Santa
7h – Oração da via-sacra, com subida penitencial ao topo da Serra da Piedade (da portaria à porta da ermida)
8h – Laudes, ermida
9h – Salmo do dia, na ermida
12h – Terço da Piedade, na ermida
15h – Solene rito litúrgico da Paixão do Senhor, na ermida
18h15 – Terço mariano, na ermida
19h – Oração da via-sacra, na Igreja das Romarias, sermão do descendimento da cruz e procissão com o Senhor Morto rumo à Ermida

Dia 19
9h – Ofício das leituras e reflexão sobre a descida de Jesus à mansão dos mortos
15h – Salmodia da hora média, na ermida
18h15 – Terço mariano, na ermida
19h30 – Solene vigília pascal, na ermida (o visitante deve levar uma vela para a celebração)

Dia 20 – Domingo de Páscoa
8h – Missa, na ermida
9h30 às 11h30 – Confissão, na Igreja Estadual das Romarias.
11h – Missa, na Igreja das Romarias
15h – Missa solene da ressurreição do Senhor, na ermida
18h15 – Terço mariano

Para visitar a Serra da Piedade, é preciso agendar no site santuarionossasenhoradapiedade.arquidiocesebh.org.br

FONTE: ESTADO DE MINAS

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