No coração do Sul de Minas Gerais, um pequeno município rural tem ganhado destaque nacional por um feito surpreendente: Turvolândia se tornou a maior produtora de caqui do estado. A cidade, que possui pouco mais de 5 mil habitantes, concentra uma área plantada de 200 hectares dedicada à fruta — número impressionante para uma produção que representa cerca de 50% de todo o caqui colhido em Minas Gerais.
Segundo dados da Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais), a safra anual gira em torno de duas mil toneladas. O ciclo da colheita começa no fim de março e se estende até julho, com pico entre abril e maio, quando os pomares se enchem de frutos com tons amarelo-avermelhados, prontos para encantar o mercado nacional.
Cada planta pode render até 150 quilos por ano
Em condições ideais, os pomares de Turvolândia podem atingir níveis elevados de produtividade. Uma única planta adulta chega a produzir entre 100 e 150 quilos de caqui por safra — o que ajuda a explicar o impacto econômico da fruta na região. Pequenos e médios agricultores são os protagonistas desse sucesso, com lavouras tecnicamente assistidas que utilizam práticas modernas de manejo e poda.
Mas não é só de tradição e técnica que vive a produção local. Turvolândia alia experiência agrícola com inovação sustentável, e é exatamente essa combinação que tem garantido frutos de alta qualidade, mesmo diante de um novo desafio: as mudanças climáticas.
Calor, granizo e seca afetam plantações
O cenário climático tem sido um obstáculo crescente. De acordo com o extensionista Fábio Firmo, da Emater-MG, a safra de 2025 já enfrenta uma queda estimada de 20%. A causa? Um conjunto de eventos extremos: calor intenso fora de época, longos períodos de seca, chuvas irregulares e até episódios de granizo.
Essas alterações prejudicam a floração e o desenvolvimento dos frutos, além de anteciparem a queda dos caquis ainda no pé. Em alguns casos, a colheita precisou ser antecipada, o que compromete a qualidade e o valor de mercado da fruta.

Diante dessa realidade, os agricultores estão investindo em soluções sustentáveis. Entre elas, destacam-se o uso de coberturas vegetais para manter a umidade do solo, irrigação controlada, seleção de cultivares mais resistentes ao calor e rotatividade entre culturas para reduzir o esgotamento do solo.
Cooperativas impulsionam inovação e agregam valor
Para fortalecer o setor, Turvolândia conta com o apoio da Cooperativa Agrícola do Sul de Minas (Casm), que atua em parceria com a Emater-MG. A cooperativa organiza eventos técnicos, promove a capacitação dos produtores e incentiva a agregação de valor ao produto.
Marcelo Batista, gerente da Casm, destaca que o cooperativismo é uma arma poderosa para manter o produtor no campo, com acesso facilitado ao mercado, redução de custos e maior poder de negociação. Além da venda in natura, os caquis estão sendo processados para a produção de frutas desidratadas, doces e até vinagres artesanais, ampliando as fontes de renda e reduzindo desperdícios.
A estratégia tem dado certo: muitos produtores, antes dependentes da venda sazonal, agora têm faturamento o ano inteiro.
Tradição japonesa e diversidade frutífera
A vocação frutícola de Turvolândia tem raízes que remontam aos anos 1970, quando famílias da colônia japonesa trouxeram técnicas de cultivo e manejo refinadas. A partir dali, o caqui se consolidou como a fruta-símbolo do município, mas não é a única que brilha na região.
Hoje, os agricultores também cultivam abacate, ameixa, atemoia, goiaba, pêssego, lichia e laranja. Essa diversificação garante segurança financeira e evita a concentração de esforços em uma única época do ano, diluindo riscos e maximizando lucros.
Inclusive, algumas frutas cultivadas em Turvolândia já alcançaram mercados internacionais. A atemoia, por exemplo, é exportada para o Canadá, abrindo portas para futuras exportações do caqui e derivados.
O futuro do caqui mineiro começa em Turvolândia
Apesar dos desafios climáticos, o futuro da produção de caqui em Turvolândia é promissor. Com investimento em tecnologia agrícola, fortalecimento do cooperativismo e valorização de produtos artesanais, a cidade tem mostrado que é possível crescer sem abrir mão da sustentabilidade.
A meta agora é expandir a presença do caqui mineiro em feiras, redes de supermercados e mercados internacionais, fortalecendo a marca Turvolândia como sinônimo de qualidade e tradição.
Com sensibilidade no trato da terra e inteligência na gestão rural, Turvolândia dá exemplo de como pequenas cidades podem se tornar gigantes na agricultura — colhendo, além de frutos, reconhecimento e prosperidade.
FONTE: ESTADO DE MINAS