O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) que atende Conselheiro Lafaiete e dezenas de municípios da região pode parar a qualquer momento. O alerta é do próprio presidente do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Rede de Urgência (CISRU) Centro Sul, o prefeito de Barbacena, Carlos Du. Durante reunião da Associação Mineira de Municípios (AMM), realizada na Câmara dos Deputados, ele foi direto: “O SAMU de Minas Gerais vai parar. Não é uma hipótese, é uma realidade que já está batendo à porta.”
Carlos Du expôs o cenário dramático: um déficit de cerca de R$ 9 milhões só em 2025, provocado pela ausência de repasses por parte do Governo Federal. “Estamos empurrando com a barriga. Os municípios estão sendo obrigados a bancar um serviço que não é de sua responsabilidade direta. Isso é insustentável. Estamos salvando vidas sem recursos e colocando servidores em situação de total abandono. Não se faz saúde de urgência com discurso vazio. O colapso é questão de tempo”, enfatizou o prefeito.
O aviso acendeu o sinal vermelho entre os condutores socorristas do SAMU que atuam na região. Em grupos internos e nas redes sociais, os profissionais têm compartilhado relatos sobre a precarização das condições de trabalho, a baixa remuneração e a sobrecarga diária. O salário-base de muitos deles não passa de R$ 1.500, valor que, segundo a categoria, não condiz com a complexidade e o nível de responsabilidade exigidos.
“Não somos apenas motoristas. Somos condutores socorristas, com formação técnica. Além de dirigir, participamos dos atendimentos, higienizamos os materiais, cuidamos dos equipamentos e garantimos a segurança da equipe. Trabalhamos por amor, mas não sobrevivemos só de vocação”, diz um dos relatos anônimos.
Em Conselheiro Lafaiete, por exemplo, há apenas duas ambulâncias do SAMU em operação: uma Unidade de Suporte Básico (USB), responsável por atender sete municípios, e uma Unidade de Suporte Avançado (USA), que cobre 13 cidades. A sobrecarga é evidente. “É humanamente impossível prestar um serviço de qualidade nessas condições. A população não faz ideia do que enfrentamos”, desabafa outro condutor, também em anonimato, temendo retaliações.
Os trabalhadores afirmam que ficaram em silêncio por muito tempo, mas que a fala do presidente do CISRU funcionou como um estopim. “Se até ele reconhece que o sistema está à beira do colapso, não dá mais para fingir que está tudo bem. Precisamos ser respeitados, valorizados e ouvidos. Não queremos parar, mas estamos sendo levados a isso pela negligência dos governos.”
A categoria pede o apoio da população e cobra providências urgentes para evitar o pior. “O SAMU é essencial. Cada minuto conta. Mas como continuar salvando vidas sem dignidade mínima para trabalhar?”
Hoje um motorista ou socorrista ganha em média R$1.700,00 e há uma grande movimentação para a paralisação do serviço no Estado. Na próxima semana, representantes do SAMU vão a Brasília pedir socorro ao Governo Federal que não está repassando os 50% de verba devida.