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“Minha vida está aqui!” – Casal resiste a desapropriação de terreno em Congonhas e comove moradores com luta por dignidade; idoso passa mal durante despejo

Uma cena de dor, resistência e clamor por justiça marcou os últimos dias na comunidade de Santa Quitéria, em Congonhas (MG). O casal João Batista de Paula, de 74 anos, e Maria Geralda de Paula, de 66, viveram nesta manhã (15), um verdadeiro pesadelo após receber ordem de desapropriação de sua propriedade rural, situada há mais de 90 anos na família, agora em nome da mineradora CSN Mineração, em função da construção de uma pilha de minério na comunidade. Oficial de justiça esteve no local para executar a ordem judicial mas foi impedido pelo clamor popular e resistência.

Durante uma tentativa de despejo, moradores, amigos e apoiadores se uniram em solidariedade, e os representantes da empresa foram obrigados a deixar o local diante da mobilização popular. O episódio ganhou contornos ainda mais dramáticos quando o senhor João passou mal com a pressão do momento e precisou de atendimento.
Com mais de sete hectares, o Sítio São Geraldo, batizado em homenagem ao pai de João, é mais do que um pedaço de terra: é símbolo de uma vida de luta, suor e amor pela terra. No terreno, há uma casa estruturada, curral, paiol, garagem e uma impressionante diversidade de árvores frutíferas e espécies nativas. “Plantei cada uma dessas árvores com as próprias mãos”, conta João, emocionado ao citar mais de 30 pés de jabuticaba, ipês, jatobá, café, pitanga, laranja, bananeiras e tantas outras.

João trabalhou por 18 anos como operário na CSN e ainda mantém o sítio com base na agricultura de subsistência, complementando a aposentadoria com esforço e dignidade.

Em audiência na comarca de Congonhas, com o juiz Dr. Felipe Alexandre Vieira Rodrigues, João chegou a acreditar que a empresa o procuraria novamente. Entretanto, o processo tomou outro rumo. Mesmo após decisão favorável em primeira instância, o casal perdeu em segunda instância em apenas dois dias, no Tribunal em Belo Horizonte.
“É uma vergonha, um absurdo!”, desabafa João, que agora deposita suas esperanças no apoio das organizações sociais, autoridades públicas e da comunidade para que a decisão judicial seja revista.

A luta do casal representa muito mais do que uma disputa judicial. É o grito de quem pede respeito, escuta e justiça. “O sítio é a minha vida”, repete João, enquanto segura as mãos calejadas pela terra e pela resistência.

A retirada do Sr. João e sua família do Sítio São Geraldo, na prática representa o primeiro passo da CSN Mineração no sentido de implantar a Pilha de Rejeitos Filtrados Sul Maranhão 1, conforme decretado pelo Governador Romeu Zema em 12/07/2024. A população desconhece qualquer estudo de viabilidade ambiental, social e cultural do empreendimento.

Comunidade Quilombola

Com mais de 200 anos de criação, desde 2023 a comunidade de Santa Quitéria vem reunindo documentos, histórias, depoimentos e outras evidências para ser certificada na Fundação Palmares como remanescente quilombola.

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