O clima esquentou na Câmara de Conselheiro Lafaiete durante a audiência pública que tratou dos impactos das operações da Carijós Mineração. Os moradores da tradicional comunidade rural de São Vicente de Paulo lotaram o plenário e deixaram claro: não vão permitir o escoamento de minério pelas ruas estreitas do vilarejo. Apesar do discurso conciliador da representante da empresa, Flávia Paula — que aguarda apenas a aprovação do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) para iniciar a comercialização — a população segue firme na resistência. A mineradora planeja escoar 30 carretas de minério por dia, com promessa de 40 empregos diretos e uma vida útil de 10 anos para o projeto.
O empreendimento fica na região que liga Lafaiete, Santana dos Montes e Itaverava, e já possui as licenças ambientais necessárias. Segundo a Carijós, ações mitigadoras seriam adotadas: manutenção da estrada, instalação de placas e redutores de velocidade, além da aspersão de água para conter a poeira.
Mas os argumentos não convenceram a comunidade. Os moradores denunciam o risco de abalos nas casas, poeira, barulho constante e ameaça à segurança local. “Nossa comunidade vai resistir. Vamos perder nossas características e nosso povo vai sofrer. Não vamos ganhar nada com a mineração”, afirmou o comerciante Milton César, o Miltinho. A rota de escoamento por São Vicente foi escolhida após a rejeição de outro trajeto, que passaria pelo distrito histórico de Buarque de Macedo — também barrado pela população.



Alternativa
Diante do impasse, o presidente da Câmara de Itaverava, Rone do Ônibus, e o prefeito Delei do Bananal sugeriram que o minério passasse por Itaverava até a MG-482. No entanto, para acessar a BR-040, os caminhões precisariam atravessar o centro urbano de Lafaiete, o que traria ainda mais impactos à já sobrecarregada infraestrutura da cidade. O Município foi multado em quase R$200 mil por crime ambiente ao abrir a estrada para o acesso da mineradora.

O diretor do Departamento de Trânsito de Lafaiete, Leonardo Perrim, classificou as três rotas apresentadas como inviáveis. A vereadora Damires Rinarlly reforçou a importância de proteger o patrimônio histórico. “A comunidade de São Vicente é um patrimônio inventariado. O estudo de impacto é inconsistente, pois ignora o contexto histórico e estrutural. É preciso respeitar a história do lugar.” Ela também solicitou o envio de todas as atas e documentos ao Ministério Público, apontando ainda que o responsável pela certificação ambiental teria sido citado na Operação Rejeito, que investiga fraudes em licenças ambientais.
O vice-presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente questionou a viabilidade técnica e ambiental do empreendimento, pedindo acesso integral ao Estudo de Impacto de Vizinhança. No fim da audiência, nenhuma solução definitiva foi apresentada — apenas um impasse cada vez maior. A pergunta segue ecoando entre autoridades e moradores:
Por onde vai escoar o minério da Carijós Mineração?