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Novo radar de velocidade acaba com ‘manha’ dos motoristas e já flagra 300 possível infrações com técnica que pode mudar as multas nas rodovias do Brasil

Sistema em fase educativa na BR-040, em Minas Gerais, testa tecnologia que calcula a velocidade média entre dois pontos. Experiência deve embasar regulamentação do Inmetro e do governo federal para uso em rodovias de todo o país.

BR-040, entre Belo Horizonte e Juiz de Fora, virou laboratório para um tipo de fiscalização que promete mexer de vez com a manha do “acelera e freia” nas rodovias brasileiras. A concessionária EPR Via Mineira começou a testar radares de velocidade média em um trecho de 6 km em Nova Lima, na Região Metropolitana da capital, onde o limite é de 100 km/h.

Por enquanto, o sistema funciona apenas de forma educativa: não há multas, mas os dados já chamam atenção. Em dez dias de testes, entre 11 e 21 de outubro, 306 motoristas foram flagrados acima do limite, com velocidade média de 105 km/h.

A experiência integra uma estratégia mais ampla de segurança viária em Minas Gerais e ocorre em paralelo a discussões em Brasília sobre a regulamentação desse tipo de radar pelo Inmetro e por órgãos federais, condição necessária para que a fiscalização passe a gerar autuações oficiais.

Especialistas enxergam na novidade uma ferramenta capaz de mudar o comportamento do motorista brasileiro no longo prazo, mas o tema já provoca debate: para alguns, é avanço em segurança; para outros, abre espaço para um novo foco de multas nas estradas.

Como funciona o radar de velocidade média na BR-040

Ao contrário do radar convencional, que registra a infração em um ponto fixo, o novo sistema instalado na BR-040 lê a placa do veículo em dois pontos distintos: nos quilômetros 545 e 551, sentido Juiz de Fora. Com base na distância entre os pontos e no tempo de percurso, o software calcula a velocidade média.

Se o motorista percorre os 6 km em menos de aproximadamente 3 minutos e 36 segundos, o sistema identifica que ele ultrapassou o limite de 100 km/h. A lógica é simples: não adianta frear apenas em frente ao radar; é preciso manter uma condução constante e dentro da lei ao longo de todo o trecho.

Segundo a EPR Via Mineira, a escolha do ponto em Nova Lima não foi aleatória. O trecho, nas imediações do bairro Jardim Canadá, reúne alto fluxo de veículos e histórico de desrespeito aos limites de velocidade, o que o torna um corredor crítico em termos de acidentes.

Para a concessionária, a tecnologia funciona quase como um “filme” do comportamento do condutor, e não como uma “foto” isolada, permitindo entender melhor como os motoristas se comportam ao longo de todo o trajeto.

Primeiros resultados: mais de 300 motoristas flagrados e foco em educação

Nos primeiros dez dias de operação, entre 11 e 21 de outubro, os radares de velocidade média na BR-040 registraram 306 veículos acima do limite de 100 km/h, com velocidade média de 105 km/h.

Apesar dos números expressivos, a concessionária destaca que, nesta fase, não há aplicação de multas. O objetivo é mapear o comportamento dos usuários, testar a robustez do sistema e, ao mesmo tempo, enviar uma mensagem clara de que o trecho está sob monitoramento constante.

De acordo com Eric de Almeida, diretor-executivo da EPR Via Mineira, a meta é incentivar o respeito aos limites ao longo de toda a rodovia, e não apenas nos pontos com radar visível. Ele afirma que o foco é “preservar vidas e promover convivência mais segura entre motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres”, articulando o projeto com programas de educação para o trânsito conduzidos pela concessionária.

A experiência na BR-040 se soma a outros testes já realizados no país, como na BR-050, em Uberaba (MG), onde a implantação de radares de velocidade média em caráter educativo reduziu em 22,5% o número de infrações registradas após ações de conscientização, segundo dados da Ecovias Minas-Goiás e da PRF.

Essa combinação de fiscalização contínua com campanhas educativas é apontada por especialistas como um caminho eficaz para diminuir sinistros de trânsito, sobretudo em rodovias de alto fluxo de veículos pesados e de longa distância.

O que falta para o novo radar começar a multar no Brasil

Mesmo com os testes em Minas Gerais e em outras regiões, os radares de velocidade média ainda não podem multar oficialmente no Brasil. Hoje, esses sistemas operam apenas em caráter experimental, sem aplicação de penalidades, justamente porque a legislação federal ainda não contempla esse modelo de fiscalização.

Para entrar em operação plena, é necessário que o Inmetro estabeleça um regulamento técnico específico para esse tipo de medidor, além de ajustes em normas do Contran e do Ministério dos Transportes. O próprio Inmetro já indicou que trabalha para publicar as regras até 2025, reconhecendo que a medida está diretamente ligada à preservação de vidas no trânsito.

Somente após essa etapa de certificação é que concessionárias e órgãos de trânsito poderão usar os dados de velocidade média para autuar os motoristas, com respaldo jurídico e técnico.

Até lá, os testes servem para coletar dados, ajustar equipamentos e preparar a opinião pública para uma possível mudança no modelo de fiscalização.

Segurança viária, redução de acidentes e polêmica entre motoristas

Estudos internacionais mostram que pequenas reduções na velocidade média podem derrubar significativamente o número de mortes no trânsito. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma queda de 1% na velocidade média reduz em cerca de 4% os acidentes fatais, reforçando o papel de radares e limites de velocidade como medidas de saúde pública.

Experiências em países como Itália, França e Suécia mostram que sistemas semelhantes de controle por velocidade média ajudaram a reduzir de forma consistente acidentes graves e mortes, justamente por desestimular o comportamento de acelerar e frear apenas diante do radar.

No Brasil, porém, o tema costuma gerar controvérsia. Entidades de mobilidade e segurança viária defendem que o novo modelo é mais justo do que o radar pontual, porque mede o comportamento do motorista ao longo de um trecho maior, diminuindo a chance de “pegadinhas”.

Já parte dos condutores teme que a tecnologia seja usada prioritariamente como ferramenta de arrecadação, caso venha sem transparência, sinalização clara e critérios técnicos bem definidos.

Enquanto a regulamentação não sai, a BR-040 e a BR-050 seguem como vitrines do que pode ser o futuro da fiscalização eletrônica nas rodovias federais. Os testes em Minas Gerais estão sendo acompanhados por órgãos como PRF e ANTT, que deverão ter papel central na definição de como – e onde – esse tipo de radar será usado em larga escala no país.

Ao saber que um simples trecho de 6 km na BR-040 já flagrou mais de 300 motoristas acima do limite, você acha que radares de velocidade média são uma solução necessária para reduzir acidentes ou mais um motivo de preocupação com novas multas? Deixe sua opinião nos comentários.

FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS

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