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Supermercados deixam de funcionar aos domingos em acordo histórico: medida atinge atacarejos e grandes redes, promete reduzir estresse no varejo e pode virar modelo nacional

Medida inédita no Espírito Santo altera rotina de compras, reorganiza o varejo alimentar e transforma o estado em laboratório nacional para avaliar impactos do fechamento de supermercados aos domingos.

A partir de 1º de março de 2026, supermercados, mercados, atacarejos e outros estabelecimentos de gêneros alimentícios do Espírito Santo ficarão proibidos de abrir aos domingos, em um acordo coletivo considerado histórico entre representantes de trabalhadores e do comércio.

A medida, válida até 31 de outubro de 2026, funciona como um projeto-piloto para testar os efeitos do fechamento de supermercados aos domingos sobre faturamento, organização do varejo e qualidade de vida de quem atua no setor.

Acordo coletivo no Espírito Santo define novas regras para o varejo alimentar

O fechamento dominical foi incluído na Convenção Coletiva de Trabalho 2025–2027, firmada entre a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES) e o Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo (Sindicomerciários-ES).

A cláusula específica, voltada ao descanso aos domingos, determina que, entre março e outubro de 2026, os empregados do setor supermercadista não poderão ser escalados para o trabalho no último dia da semana.

A regra alcança redes de supermercados, hipermercados, autosserviços, atacadistas, atacarejos, mercearias, hortifrutigranjeiros, minimercados e estabelecimentos de gêneros alimentícios instalados em shopping centers.

Lojas de material de construção também entram no acordo e devem permanecer fechadas aos domingos durante o período.

Demais segmentos de shoppings e do varejo em geral continuam autorizados a funcionar, o que mantém parte da movimentação tradicional de lazer e serviços aos fins de semana.

Embora alguns canais de comunicação tratem a mudança como “nova lei”, o instrumento jurídico é um acordo coletivo de trabalho, resultado de negociação entre sindicatos patronais e de trabalhadores.

A convenção estabelece que a cláusula sobre o domingo será reavaliada nas negociações econômicas previstas para novembro de 2026, após a análise dos sete meses de experiência.

Motivações para o fechamento dos supermercados aos domingos

O debate sobre o fechamento dominical ganhou força no Espírito Santo após reclamações de trabalhadores sobre jornadas prolongadas, escalas imprevisíveis e dificuldade de conciliar folga com a rotina familiar.

A Reforma Trabalhista de 2017 ampliou o espaço para negociações coletivas por categoria, e o tema do descanso aos domingos voltou à mesa de negociações entre o sindicato dos comerciários e o setor supermercadista.

Do lado empresarial, pesou a avaliação de que operar aos domingos com equipes incompletas se tornou um desafio constante.

Representantes do setor citaram escassez de mão de obra, aumento de faltas, uso recorrente de atestados médicos e dificuldade para fechar escalas completas, o que impacta o atendimento ao público e eleva o estresse no dia a dia das lojas.

A solução encontrada foi transformar o domingo em dia de descanso garantido para a maior parte dos trabalhadores do varejo alimentar, concentrando o funcionamento das lojas de segunda a sábado.

A intenção das entidades é testar se esse redesenho da jornada reduz o desgaste físico e emocional, diminui afastamentos por saúde e contribui para a retenção de funcionários, sem comprometer de forma irreversível o faturamento do setor.

Mudanças no comportamento do consumidor com o fechamento dominical

Para os consumidores, a principal consequência prática é a necessidade de reorganizar as compras.

Quem costuma deixar a reposição da despensa para o domingo terá de antecipar a ida ao supermercado para sexta-feira ou sábado, ou adaptar a rotina para os demais dias da semana.

Em muitas famílias, o passeio dominical ao supermercado faz parte do hábito de lazer, o que tende a ser substituído por outras atividades.

Esse redesenho do calendário de compras pode fortalecer canais complementares.

Pequenos mercados de bairro, mercearias familiares, padarias e açougues ganham espaço como alternativas de proximidade para compras rápidas ao longo da semana, especialmente de itens frescos e de consumo imediato.

Em regiões onde esses estabelecimentos já tinham forte presença, a tendência é que absorvam parte da demanda deslocada dos grandes supermercados.

Ao mesmo tempo, o comércio eletrônico deve se tornar ainda mais relevante.

Plataformas de compras online, aplicativos de entrega e clubes de assinatura de hortifrúti e cestas básicas podem se consolidar como solução para consumidores que preferem planejar a reposição com antecedência e receber os produtos em casa, em horários mais flexíveis.

Grandes redes de varejo alimentar já vinham investindo em canais digitais, e o fechamento dominical tende a acelerar esse movimento.

Impactos para os trabalhadores do setor supermercadista

Para quem atua em supermercados, a mudança representa um ganho de previsibilidade.

Em vez de escalas alternadas, em que o descanso dominical muitas vezes ocorria de forma irregular, o acordo garante que o domingo deixe de ser dia útil para a maioria dos empregados do setor de gêneros alimentícios no Espírito Santo.

Essa previsibilidade é vista por sindicatos como um avanço em termos de convivência familiar, lazer e recuperação física.

Isso ocorre especialmente em atividades marcadas por longos períodos em pé, carregamento de peso e atendimento direto ao público.

Experiências internacionais apontam que escalas de descanso mais estáveis podem contribuir para reduzir estresse, afastamentos médicos e rotatividade em atividades de varejo.

Os efeitos, porém, dependem do contexto local e da forma como as empresas organizam suas equipes.

Outra conquista destacada nas negociações foi a inclusão de um benefício de auxílio-alimentação mensal e o reajuste do piso salarial da categoria.

Sindicatos afirmam que a combinação de remuneração e descanso estruturado ajuda a tornar o emprego no comércio mais atrativo em um cenário de disputa por mão de obra.

Reação econômica e ajustes esperados no varejo capixaba

Mesmo com o foco no descanso, a mudança preocupa empresários.

Em muitas cidades brasileiras, o domingo responde por uma fatia importante das vendas, impulsionada pela maior disponibilidade de tempo dos consumidores e por campanhas promocionais específicas.

No Espírito Santo, redes e atacarejos avaliam que o fechamento dominical pode provocar, ao menos no curto prazo, uma queda de faturamento e a necessidade de readequar operações internas.

A expectativa do setor é de que parte das compras se concentre ainda mais entre sexta e sábado, ampliando o fluxo de clientes e a pressão sobre estoques e equipes nesses dias.

Ao mesmo tempo, executivos acompanham com atenção a possibilidade de migração de consumo para formatos não afetados pelas regras, como lojas de conveniência e farmácias.

Empresários também sinalizam que o resultado do período de teste será determinante para a postura nas negociações de novembro de 2026.

Caso os indicadores de receita mostrem impacto intenso e persistente, a pressão por flexibilizações tende a aumentar.

Se houver redistribuição de vendas sem grandes perdas, o fechamento dominical pode se consolidar como novo padrão no estado.

Espírito Santo como referência nacional para funcionamento do comércio

O arranjo adotado transforma o Espírito Santo em espécie de laboratório para o país.

Como a medida decorre de um acordo coletivo e não de lei, outros estados podem acompanhar os resultados e, se considerarem positivos, reproduzir cláusulas semelhantes em suas convenções coletivas.

Entidades sindicais e federações do comércio monitoram o caso, observando indicadores de emprego, satisfação dos trabalhadores, desempenho das empresas e efeitos sobre o comércio de bairro.

Os resultados entre março e outubro de 2026 serão avaliados em novembro, quando as partes decidirão se mantêm, ajustam ou encerram a regra.

Serão considerados não apenas o comportamento do faturamento, mas também dados sobre afastamentos por saúde, rotatividade e percepção dos consumidores.

Se a experiência indicar que é possível assegurar um descanso semanal mais estruturado sem desequilíbrio grave nas finanças, o estado pode reforçar o debate nacional sobre jornadas e funcionamento do comércio.

Em sentido oposto, resultados negativos podem fortalecer o argumento de que a abertura dominical segue essencial para a competitividade do varejo.

Nesse cenário de mudanças graduais, como você acredita que a rotina de compras e de trabalho deve evoluir caso esse modelo se espalhe para outras regiões do país?

FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS

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