17 de setembro de 2024 18:20

Mpox: casos sobem em MG, mas cepa do estado não é a mais grave, diz OMS

Minas está a um caso de igualar notificações de todo ano de 2023. Especialistas ainda revelam que vacina feita pela UFMG deve ficar pronta até 2026

Os casos de mpox em Belo Horizonte já superam os registros de todo o ano passado. Segundo dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) obtidos pelo Estado de Minas, a capital mineira confirmou 44 diagnósticos entre 1º de janeiro e 19 de agosto, contra 39 nos 12 meses de 2023. A predominância é do sexo masculino, com a faixa etária entre 18 e 39 anos.

Já Minas Gerais está a um caso de igualar, em 2024, os diagnósticos confirmados com os de todo o ano passado. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), foram notificados neste ano 121 casos, 49 dos quais já estão confirmados. Porém, não houve registro de óbito por mpox, conhecida popularmente como varíola dos macacos. Em 2023, somaram-se 485 casos suspeitos no estado, sendo 50 confirmados, com um óbito.

No último dia 14 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o cenário da doença no continente africano constitui emergência em saúde pública de importância internacional em razão do risco de disseminação global e de uma potencial nova pandemia. Esse é o mais alto nível de alerta da entidade.

O Brasil já registrou 709 casos e 16 mortes por mpox este ano. Apesar de uma variante mais perigosa estar circulando na África, o Ministério da Saúde avalia que o risco é baixo para o país.

Outra variante

Segundo o infectologista Leandro Curi, a emergência da OMS ainda não chegou por aqui. Isso porque, desde 2022, quando foi registrada a primeira infecção pelo vírus no estado, o único grupo viral presente é o 2, chamado pelos especialistas de “clado 2”. O vírus com as características desse sistema se apresenta na pessoa contaminada de forma branda e é pouco letal.

“A OMS se preocupa com o vírus do clado 1B, que é altamente letal e está se espalhando pelo continente africano. Essa doença existe há décadas na República do Congo e é endêmica na região, mas pode chegar ao Brasil assim como aconteceu com a outra variante em 2022”, explica Curi.

Para o infectologista, o aumento de casos do Clado 2 em Belo Horizonte pode estar relacionado à baixa cobertura vacinal ou a uma subnotificação no ano passado. “É um número preocupante e merece a atenção do poder público. É necessário ampliar a vacinação e preparar os aeroportos com testes e outras medidas de segurança”, aponta.

Segundo ele, o público contaminado segue o mesmo padrão verificado em 2022, com predominância de homens que fazem sexo com outros homens. Entretanto, explica, “ao contrário do que o senso comum diz, mpox não é uma infecção sexualmente transmissível. Não é um vírus sexual, é um vírus de contato. Um beijo na bochecha pode transmitir”, esclarece o infectologista.

Apesar da baixa taxa de mortalidade, a doença pode ser grave para quem tem imunodeficiência. “Mpox é mais complicado que a COVID-19 porque não é transmitida por gotículas, então a prevenção não é simples como usar a máscara. Ela pode ser transmitida pelo contato pele com pele e fluídos corporais, por exemplo. Se a pele contaminada com lesão encosta na pele saudável, ela contamina”, detalha Curi.

O especialista afirma que a vacina utilizada para varíola até os anos 1970 atua como imunizante contra a mpox. “Quem já se vacinou, quem já teve a doença e quem tomou a vacina da varíola nos anos 1970 pode estar imune, no último caso por uma imunização cruzada”, pontua.

Vacina mineira

A boa notícia é que em breve o Brasil terá uma vacina nacional feita em Minas Gerais, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O coordenador do CT Vacinas, professor Ricardo Gazzinelli, estima que o imunizante contra a doença deve ficar pronto até 2026. “Eu acredito que ela tem tudo para ser produzida no Brasil de forma independente. É uma vacina nossa”, afirma.

Gazzinelli explica o processo de produção da vacina. “Evoluímos no processo de produção, auditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Estamos trabalhando agora para a estabilidade e controle de qualidade rigoroso da vacina. A vacina é viral, crescida em cultura, mas utiliza células embrionárias de ovo de galinha. Estamos bem próximos de avançar para o ensaio clínico humano”.

“Nós já fizemos estudos pré-clínicos e a vacina funciona muito bem no modelo experimental. Ela se mostrou segura até em animais imunodeficientes e não apresenta nenhum dano para quem não tem linfócito B e T”, esclarece Gazzinelli.

“O vírus estimula o sistema, imune mas não replica. Então existe uma segurança muito grande para esse público. A vacina da febre amarela, por exemplo, não pode ser aplicada em imunodeficientes. A eficácia é garantida e pode variar mais ou menos de acordo com o nível de imunodeficiência”, detalha o coordenador do CT Vacinas.

Existem três imunizantes disponíveis, mas apenas as pessoas em risco ou que tiveram contato próximo com um indivíduo infectado podem tomá-los. Isso inclui pessoas vivendo com HIV/Aids e profissionais de laboratório que trabalham com a análise do vírus. A OMS não recomenda a vacinação massiva, ou seja, de populações inteiras de um país.

Cenário internacional

Em coletiva de imprensa em Genebra, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que surtos de Mpox vêm sendo reportados na República Democrática do Congo há mais de uma década e que as infecções têm aumentado ao longo dos últimos anos. Em 2024, os casos também superam o total registrado e 2023 e somam mais de 14 mil, com 524 mortes.

“Está claro que uma resposta internacional de forma coordenada é essencial para interromper esses surtos e salvar vidas. Uma emergência em saúde pública de importância internacional é o mais alto nível de alarme na legislação sanitária”, concluiu.

Sintomas

A mpox é uma doença zoonótica viral. A transmissão para humanos pode ocorrer por meio do contato com animais silvestres infectados, pessoas infectadas pelo vírus e materiais contaminados. Os sintomas, em geral, incluem erupções cutâneas ou lesões de pele, linfonodos inchados (ínguas), febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza.

As lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O número de lesões pode variar de algumas a milhares. As erupções tendem a se concentrar no rosto, na palma das mãos e na planta dos pés, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, nos olhos, nos órgãos genitais e no ânus.

A infecção pelo vírus geralmente evolui para quadros leves a moderados e pode durar de duas a quatro semanas. A pessoa é capaz de transmitir o vírus desde o início dos sintomas até que todas as lesões na pele cicatrizem completamente. 

O que diz a PBH?

Procurada pelo Estado de Minas, a PBH afirmou que o município não foi oficialmente comunicado pelo Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para mpox, instituído pelo Ministério da Saúde, sobre o alerta da OMS ou medidas relacionadas a ele.

Com relação à vacinação, desde 2023, cerca de 1.360 doses foram aplicadas, considerando primeiras e segundas injeções. Segundo o Executivo municipal, os públicos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde são pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA); transexuais com idade igual ou superior a 18 anos, independentemente do status imunológico identificado pela contagem de linfócitos TCD4, e pessoas assintomáticas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas com casos suspeitos, prováveis ou confirmados para mpox, após avaliação da Vigilância Epidemiológica.

FONTE ESTADO DE MINAS

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