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Manoelina – A Santa dos Coqueiros

Santa Manoelina

Lenitivo dos doentes

Rogai a Deus por nós

Filhos de amparo carentes (bis)

Queremos agradecer

Tantas graças alcançadas

E te pedir muita luz

Nas nossas caminhadas

Santa Manoelina

Digna de supremo amor

Ponha suas bênçãos em nós

Acalme a nossa dor

Santa Manoelina rogai por nós

Geraldo Gomes Rodrigues (Daditto), Hino à Santa Manoelina

Monumento à memória de Manoelina Maria de Jesus.
Entre Rios de Minas-MG.  Fotografia: Luiz Cruz.

Manoelina Maria de Jesus nasceu na zona rural do município de Entre Rios de Minas, no local conhecido como Coqueiros, no Sítio Retiro Velho, em 1911. Seus pais eram Miguel José da Rocha e Rosária Maria de Jesus; o casal teve dezenove filhos e perdeu quatro. Coqueiros está a cerca de 10 km do centro da cidade, mas naqueles tempos era distante de tudo e com acesso por estrada de terra, com manutenção precária. Ainda menina foi trabalhar numa fazenda, socava café, batia e limpava arroz e lavava roupa no rio; depois que deixou a fazenda, costurava em casa. Aos 17 anos, Manoelina adoeceu, seus pais recorreram a tudo que foi possível para sua recuperação; aos 19 anos não havia mais esperança para a cura. O médico de Entre Rios de Minas, Dr. José Cunha, realizou seus exames no Hospital Cassiano Campolina e constatou a turberculose, ele a acompanhou no período crônico da enfermidade. Nas crises, a família se reunia em torno dela e rezava fervorosamente. O vigário local, padre Rodolfo das Mercês de Oliveira Pena (1890-1975), chegou a lhe dar a extrema-unção, porque já a considerava um caso perdido. Certo dia, a jovem se levantou e não tinha mais sintoma da doença. Depois, passou a se dedicar às rezas, cantava os cânticos processionais e outros desconhecidos, só saía para as missas dominicais.  

Manoelina dos Coqueiros, década de 1930, Photo Marzano; “Manoelina e a menina Etelvina por ella salva”.
 Fotografias acervo Maria Elisa Batista. 

Manoelina se vestia com roupas rústicas, uma saia larga e comprida, em tons claros, blusa de manga comprida geralmente branca, um longo lenço branco cobria-lhe a cabeça. Às vezes usava um sobretudo de cor mais intensa. Na cintura amarrava um cordão à moda franciscana e um “rosário” robusto no pescoço. A que tudo indica, gostava de ser fotografada e nas poses colocava o Crucifixo junto ao peito. Construiu um visual forte e impactante. Quem apreciar uma de suas fotografias, jamais esquecerá a imagem típica, com a indumentária a contrastar com sua tez escura. O primeiro a registrá-la fotograficamente foi o Sr. Gonçalves, que mantinha seu studio em Entre Rios de Minas, mais tarde, fotógrafos dos principais jornais do país fizeram registros de Manoelina. 

Manoelina dos Coqueiros, 1931. Fotografia do Sr. Gonçalves,
 acervo Secretaria de Cultura, Entre Rios de Minas.
Sr. Gonçalves em seu studio, Entre Rios de Minas. Fotografia acervo da família.

Não se sabe exatamente como tudo começou, mas ela rezou, benzeu a água, deu para a mãe que sofria de uma coceira terrível. Dona Rosário era incrédula, jogou a água fora; sem sair do quarto e sem ver a ação dela, Manoelina a perguntou por que tinha jogado a água fora. Depois, recebeu menina doente, benzeu a água e a aspergiu, ela acabou curada de seus males. Este fato circulou rapidamente e outras pessoas vieram procurá-la para as rezas e as curas.

A cada pessoa que recebia suas orações e sua água benta, tantas outras passaram a encontrá-la para a cura de doenças e dos males em geral. Mesmo com saúde debilitada, Manoelina recebia o povo em três horários diariamente – às 6, 12 e 18h. Começaram a chegar muitas cartas com pedido de orações e as vezes até com dinheiro. Gente vinda de inúmeros lugares se aportava em Coqueiros para o atendimento. Muitos iam a pé, a cavalo, em caminhões, automóveis, jardineiras e em parte de trem, que chegava até a Estação João Ribeiro e depois seguiam até lá. Ela acabou afamada por suas orações, a água benta e as curas. O número de doentes só aumentava e sua casa se tornou um ponto de romaria. Por isso, gente de outros estados e até do exterior se aportou no local, em busca da solução para as enfermidades.

Com a circulação de tanta gente pelos Coqueiros, muitos acampados, os inúmeros vendedores ambulantes e até os acidentes automobilísticos, os vizinhos fazendeiros acabaram irritados com a movimentação e, então, iniciaram as denúncias. A Igreja reagiu, o vigário local negou a comunhão à Manoelina; o bispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira (1876-1960), renegava suas atribuições de rezadeira e curandeira. Então, ao mesmo tempo que chegavam a Coqueiros doentes de toda sorte tomados por fé e em busca da cura, tantos outros a criticavam, eram os seus detratores, certos até zombavam de sua atuação.

Porém, Manoelina atraiu também a atenção da imprensa e se tornou notícia em O Cruzeiro – revista semanal lançada no Rio de Janeiro, que circulou entre 1928 e 1975foicapa do Jornal das Moças – Revista Semanal Illustrada, de 14 de maior de 1931, ainda nos jornais cariocas A Noite, Diário da Noite e tantos outros, conforme o quadro abaixo:

Manoelina dos Coqueiros, na revista O Cruzeiro, edição de 6 de junho de 1931. Acervo Secretaria de Cultura de ERM.
Manoelina dos Coqueiros, capa e matéria do Jornal das Moças – Revista Semanal Illustada, RJ, 1931.
 Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro – RJ 
 Hemeroteca Digital – Brasil – Ano 193 
FonteOcorrência de Notícias
A Noite (RJ) – 1930 a 1939164
Diário da Noite (RJ) – 1930 a 193989
Gazeta Popular (SP) – 1931 a 193855
Diário de Notícias (RJ) – 1930 a 193934
Praça de Santos (SP) – 1926 a 193131
Correio da Manhã (RJ) – 1936 a 193929
Diário Carioca (RJ) – 1930 a 193828
Estado de Florianópolis (SC) – 1915 a 197526
O Estado (SC) – 1930 a 193925
Diário da Manhã (PE) – 1930 a 193922
O Jornal (RJ) – 1930 a 193914
Pequeno Jornal – Jornal Pequeno (PE) – 1898 a 195512
Diário de Santos (SP) – 1887 a 193912
Diário da Manhã: Órgão do Partido Constructor (ES)1908 a 193711
Diário de Pernambuco (PE) – 1930 – 193910
O Dia (PR) – 1923 a 196110

Merece destaque o impresso A Santa de Coqueiros – Sua vida e seus milagres(Collectannea organizada por um grupo de crentes), em três partes: I – Antes, durante e depois da revelação, II – Lendas e Orações, III – Os Milagres, lançado no Rio de Janeiro, em junho de 1931, com diversos depoimentos de médicos, relatos dos milagres ocorridos, lendas, orações e poemas a ela dedicados. É exatamente nesta publicação que se confirma o impacto que sua atuação alcançou, principalmente após à veiculação na imprensa nacional. Pelos registros, indubitavelmente a maioria dos atendidos era de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, mas constata-se muitos de diversos estados; nos finais de semana, em certos sábados, segundo a publicação, aglomeravam-se mais de oito mil pessoas no entorno de sua morada, que assim ficou descrita:

Entramos na cabana de Manoelina. […] As paredes sopapeadas de barro, cheias de orifícios por onde os raios de sol se côam, estão enegrecidas pela fuligem. Também o vigamento é preto como carvão. Na salinha de entrada há, dispersos pelo chão, milhares de cartas e telegramas, aos montes. Tropeça-se nestes papéis de todas as cores. À direita, uma escadinha de cinco degraos carcomidos leva ao quarto de Manoelina. É sórdido na sua humildade impressionantemente christã. Um metro e meio de largura por dois de comprimento. O mobiliário consta da cama, de uma canastra e um oratório. Paredes cobertas de santos. Todos os santos. Em estampa e imagem. (1931, p.8 e 9).

A casa edificada com as técnicas vernaculares, com o emprego do adobe e do pau a pique, ficava em situação mais crítica de conservação porque certos devotos queriam levar uma relíquia da santa e acabavam retirando “o barro sopapeado nas paredes da choupana. Dellas vão arrancando torrões. Os buracos já são muitos. E se isso continuar…” (1931, p. 21).

Ela foi tema do documentário A Santa de Coqueiros, de 1931, dirigido por Ramon Garcia, produzido para a empresa A. Sonschein, que registrou sua atuação, a movimentação nas estradas e em torno de sua casa. Trata-se de registro precioso a comprovar sua generosidade e a fé das inúmeras pessoas que recorriam às suas dádivas.

Manoelina dos Coqueiros em sua casa, com devotos. Imagem do documentário de Ramon Garcia, A Santa Manoelina dos Coqueiros, 1931.

A multidão a percorrer os caminhos para os Coqueiros provocou a ira dos vizinhos fazendeiros, da Igreja e da área de segurança – embora, conforme se observa no documentário, os militares acabavam por se tornar aliados ou até mesmo solidários aos transeuntes e aos aglomerados em torno da morada de Manoelina. Curiosamente, muitos militares e até padres procuraram a rezadeira para cuidar dos seus males, conforme os registros.

De Tiradentes partiam grupos de vendedores ambulantes para participar e vender suas produções artesanais em prata no Jubileu do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas. Os grupos seguiam a pé e havia os pontos de parada para o descanso e o pouso. Eles passavam pelos Coqueiros para receber as bençãos de Manoelina. Um dos mais habilidosos artesãos/ourives destes grupos foi José Gomes de Matos, mais conhecido como Sô Zico. Seu filho, José Gomes, o Zezé, seguiu carreira militar e serviu em Crucilândia-MG. Certo dia, chegou a ele um conhecido, o Euler, filho do João Pereira e lhe mostrou uma medalha que achara no curral. Zezé viu a peça e logo reconheceu a figura histórica de Manoelina dos Coqueiros. Euler lhe presenteou a medalha e Sô Zico fez cópias e distribuiu aos devotos da Santa. Outro tiradentino que visitou a moradora dos Coqueiros foi o fotógrafo amador João Batista Ramalho, que a registrou em pose. 

                    Medalha em prata, com as imagens de Manoelina Maria de Jesus e os coqueiros. 
Acervo: José Gomes, Tiradentes. Fotografias: Luiz Cruz
Manoelina dos Coqueiros, fotografada pelo tiradentino João Batista Ramalho, na década de 1930.  Acervo Eliane Ramalho, cópia arquivo Luiz Cruz. 

A Igreja e o Governo de Minas Gerais resolveram intervir para coibir a movimentação em torno de Manoelina. Pressionada, a família teve que mudar para a zona rural, em Dom Silvério, distrito de Bonfim-MG. Porém, o afluxo de pessoas à sua residência continuou e chegavam inúmeras correspondências – as quais ela benzia, aspergia e logo queimava. As notícias sobre Manoelina Maria de Jesus inquietavam o governador Olegário Maciel (1855-1933), que ordenou ao seu Secretário do Interior e Justiça, Gustavo Capanema Filho (1900-1985), providências severas para coibir a atuação dela. Então, por ordem do Secretário, a Polícia Militar a conduziu coercitivamente até a presença do governador e ele determinou sua internação no IRS – Instituto Raul Soares, em Belo Horizonte. O IRS teve inauguração em 1922 e estava vinculado à Secretaria do Interior e Justiça; posteriormente, à Secretaria de Segurança Pública, com o objetivo de se tornar referência no tratamento e na pesquisa da área de saúde mental.

Manoelina não era doente mental. No IRS ela fez greve de fome, enquanto seu pai, Miguel José da Rocha, tentava a soltura com habeas corpus. Segundo o pesquisador Elson de Oliveira Resende (2021, p. 302):

Um psiquiatra não identificado, ouvido no Raul Soares, concluiu que Manoelina é apenas uma débil mental, nada mais. Não é uma louca e, como tal, não deve ficar internada entre loucos.

Foi solta, mas continuou sob vigilância da Polícia Militar. Mais uma vez a família foi obrigada a deixar Dom Silvério e se instalou no Capão, em Crucilândia-MG. Com a saúde sempre debilitada, não se alimentava e nem tomava água, por isso, Manoelina foi vitimada de anemia profunda e veio a óbito, em 14 de março de 1960.

Manoela Maria de Jesus – a menina nascida em lugar distante de tudo, vivia numa tapera, em núcleo familiar numeroso, pobre, preta, analfabeta, de saúde frágil, mas com inabalada devoção à Nossa Senhora, recebeu a graça ou dom para aliviar os males dos que a procuravam. Ela não receitava medicamentos, chás ou ervas, apenas rezava, benzia a água e aspergia a pessoa com o hissope – utensílio de cunho religioso, usado para aspergir água-benta, composto de um cabo e de bola de metal oca e com ofícios, nas outra extremidade. Por isso, atraiu muita gente por onde viveu. Mas atraiu também a ira da Igreja e do Governo de Minas Gerais. Não havia possibilidade alguma de ela ser acusada de qualquer crime.  Quem diria, o Secretário de Estado que mandou buscá-la em prisão coercitiva logo viria obter a nomeação para o cargo de Ministro da Educação e Saúde, no Governo Vargas, em 1934, onde permaneceu até outubro de 1945, com o fim do Estado Novo. O padre Rodolfo, que negou a comunhão a Manoelina, recebeu a sagração episcopal das mãos de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, em 8 de setembro de 1935; após sua renúncia, em 9 de dezembro de 1960, voltou a residir em Entre Rios de Minas, onde faleceu a 9 de dezembro de 1975 e foi sepultado no corredor central da Matriz de Nossa Senhora das Brotas.

A menina dos Coqueiros cativou a atenção do documentarista Ramon Garcia, da imprensa nacional e de certos intelectuais brasileiros, dentre eles o poeta Carlos Drummond de Andrade, que trabalhava no SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN), que funcionava no prédio do Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro. Com o pseudônimo Antônio Crispim, publicou uma crônica no Minas Gerais, de 25 de fevereiro de 1931, posteriormente reeditada na Revista do Arquivo Público Mineiro, em 1984 e assim destacou:

[…] as pessoas que antigamente, no dia mais ocupado da semana, também chamado dia de descanso, seguiam para Santa Luzia, Morro Velho ou Acaba Mundo, vão hoje a Entre Rios, onde uma santa faz milagres no alto de um morro. […] A maioria, porém, vai a Coqueiros porque Coqueiros é um lugar de bênçãos onde um diálogo se estabelece ardente e puro, entre os anjos do céu e uma cafusa da terra […]. A santa, que é pobre, inspira mais confiança aos pobres que outras santas, e sendo trabalhadora humilde da fazenda, tudo a recomenda ao carinho dos humildes, dos pequeninos, que até agora não tinham uma representante direta na classe das taumaturgas […]. (grifo nosso).

Através de iniciativa do médico José Pedro Borges, foi realizado o projeto de Resgate da História de Santa Manoelina. Surgiu a proposta de se criar o Memorial de Santa Manoelina, com a participação e o apoio de Maurílio de Oliveira Resende, proprietário da área dos Coqueiros, onde ainda existe a tal morada, que foi restaurada e adequada para receber visitantes. Ela ganhou uma estátua na casa e outra no centro, na Praça Cel. Joaquim de Resende. As esculturas foram realizadas em Coronel Xavier Chaves, em gnaisse, obra de David Eduardo Fuzatto, com a imagem reconstruída através dos relatos de Daditto. A Secretaria de Cultura passou a promover anualmente a Caminhada Manoelina do Coqueiros, com saída em frente ao seu monumento até a casa nos Coqueiros. Os ciclistas entrerrianos, devotos da Santa, também realizam atividades a homenageá-la.

Caminhada de Peregrinação até os Coqueiros, onde viveu Manoelina Maria de Jesus. Edição de 2024, Entre Rios de Minas. Fotografia acervo da Secretaria de Cultura.
Ciclistas entrerrianos prestam homenagem à Santa, indo até os Coqueiros onde ela viveu, Entre Rios de Minas, 2024. Fotografia acervo Luciano Carvalho.
 Ciclistas entrerrianos a prestar homenagem à Santa, indo até os Coqueiros onde ela viveu, Entre Rios de Minas, 2024. Fotografia acervo Luciano Carvalho.

Em 2021, com os recursos do Fundo Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural do Munícipio de Entre Rios de Minas – FUMPAC, da Secretaria de Cultura local e o apoio cultural do Sicoob Credicampo, a obra De Bromado a Entre Rios de Minas …sua arte, …sua história, do pesquisador Elson Oliveira de Resende, recebeu o Prêmio do Edital de Chamada Pública, assim seu trabalho construído ao longo de uma década foi publicado. O livro apresenta a história do município e seus personagens, dentre eles e em grande destaque, a saga de Manoelina Maria de Jesus, ricamente ilustrada com fotografias do acervo de Maria Elisa Batista.

Obra do historiador Elson de Oliveira Resende, a contemplar a saga de Manoelina Maria de Jesus, com diversos registros fotográficos, 2021.

Finalmente, em 2024, em narrativa livre e poética, o Teatro da Pedra transformou em filme a história da moradora dos Coqueiros e levou para a tela do cinema. Na manhã de domingo de 3 de novembro, em São João del-Rei, o Cine Glória abriu suas portas para exibir A Santa, com elenco do grupo Teatro da Pedra e de Entre Rios de Minas. Obra sensível, delicada e com bela fotografia. Foi lindo e emocionante! Os recursos da Lei Paulo Gustavo foram muito bem aplicados e o filme expõe a personagem Manoelina de forma encantadora, telúrica e a despertar o sentimento de pertencimento a Entre Rios de Minas.

Manoelina ainda jovem, interpretada pela atriz Daiane Jaqueline, filme A Santa, 2024.
Manoelina jovem e sua mãe Rosário, em cena do filme A Santa, 2024, com as atrizes Daiane Jaqueline e Soraia Santos.
As atrizes Daiane Jaqueline e Soraia Santos, personagens do filme  A Santa e a entrerriana Regina Carvalho dos Santos.
Cine Glória, São João del-Rei. Fotografia: Luiz Cruz.
Atores e parte da equipe técnica do filme A Santa, após sua exibição, Cine Glória, São João del-Rei-MG. Fotografia: Luiz Cruz.

Após os tempos de obscurantismo e tantas ações do racismo estrutural, o filme A Santa é um alento e tanto. Por isso, ao final da exibição abraçamos e parabenizamos os atores e os produtores. A arte nos salva sempre e nos eleva para novos caminhos e possibilidades. O esporte também, Entre Rios de Minas tem agregado a cultura e a tradição às atividades esportivas, a conquistar e envolver boa parte da comunidade. E tem sido com sucesso.

Desde 2023, na Secretaria de Cultura, reúne-se semanalmente voluntários da Governança Manoelina dos Coqueiros, com o objetivo de promover a difusão histórica, cultural e ambiental em torno da famosa entrerriana, além de estruturar o Caminho de Manoelina dos Coqueiros, uma rota para os devotos, caminhantes, ciclista e interessados, a sair de Entre Rios de Minas – dos Coqueiros, até Crucilândia, onde ela viveu seus últimos tempos e foi sepultada. O percurso terá três partes, de Coqueiros até Sebastião do Gil, deste ponto até Piedade dos Gerais e daí até Crucilândia – um trajeto com paisagens esplêndidas, matas, campos, córregos límpidos e cachoeiras. Será muito mais que um caminho religioso, uma rota cultural, para contemplar cenários bucólicos, repletos de recursos hídricos – tudo de bom para o alívio das tensões do corpo e da alma.

Grupo da Governança Manoelina dos Coqueiros.  Entre Rios de Minas, fotografia acervo da Secretaria de Cultura.

Aos poucos o resgate da história da Santa dos Coqueiros acontece e quem passar pela Secretaria de Cultura de Entre Rios de Minas, pode obter mais informações e até ganhar uma fitinha para a proteção.

Fitinhas da Santa Manoelina dos Coqueiros, produzidas pela Secretaria de Cultura, de Entre Rios de Minas. Fotografia: Luiz Cruz.

No século passado Manoelina foi contemplada com muitas orações e poemas, mas recentemente, neste processo de “reabilitação”, volta a chamar atenção dos poetas, como a oração que abre este ensaio, de Daditto e o poema/canção do professor e musicista Tuca:

Manoelina

(Filha da Luz)

Água santa, terra boa, comunhão

De quem planta…

Um sacramento, um juramento, uma semente…

De esperança

Consagrando nossos caminhos…

Raio de Luz

Água santa, reza boa, comunhão

De quem planta…

Um sacramento, um juramento, uma semente…

De esperança

Ouro e prata, sol e lua, ar e fogo. Sinal da Cruz…

Iluminando nossos caminhos… Filha da luz

Consagrando, iluminando… Filha da Luz

     Tuca Boelsums –

    Grupo Cordas Rurais

E quem diria, em São João del-Rei, no domingo que o filme A Santa foi exibido na parte da manhã, à tarde ocorreu a prova do Enem. A redação teve o tema: Desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Caso os candidatos tivessem assistido ao filme, teriam muitos subsídios a serem abordados para redigir belas “redações”; afinal, Manoelina incomodou, foi perseguida, vigiada, presa coercitivamente e internada em sanatório. Tudo que as autoridades almejaram para ela era a invisibilidade, por ser mulher, preta, pobre, analfabeta, viver em uma tapera e se tornar notícia na imprensa nacional, em consequência de suas rezas e bênçãos com a água, a atrair multidões; por isso, foi vítima da ira da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana e do governador Olegário Maciel.

Pouco a pouco, a cidade de Entre Rios de Minas se fortalece com o bom emprego dos seus recursos financeiros, a cidade ganhou o belo e essencial livro De Bromado a Entre Rios de Minas …sua arte, …sua história – de Elson de Oliveira Resende, depois vieram Rock in Rios, de Iraty Boelsums e Pedro Duarte, Ribeiro da Silva – 100 anos de amor e paixão, de João Marcos Alyark e Eduardo Maia, ambos com os recursos da Prefeitura e apoio cultural do Sicoob Credicampo. Depois, a publicação Histórias da Serra do Camapuã, numa iniciativa do Teatro da Pedra, a narrar diversos aspectos da localidade e suas lendas. Agora, a saga de Manoelina dos Coqueiros que chegou às telas do cinema, para nos deixar emocionados. Aplicar os recursos em bons projetos culturais é promover condignamente a Cultura. Parabéns aos autores, editores, produtores, atores, apoiadores e a todos que de certa forma se unem para promover a vida sociocultural de Entre Rios de Minas.

O filme A Santa teve o lançamento no Auditório Nossa Senhora das Brotas, em Entre Rios de Minas, depois no Cine Glória, em São João del-Rei e o próximo será no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes, aguarde, logo será divulgada a data. Não perca!

Luiz Antonio da Cruz

Agradecimentos: Elson de Oliveira Resende e sua esposa Alessandra, Felipe Resende Ribeiro de Oliveira, Prefeitura Municipal de Entre Rios de Minas / Secretaria de Cultura – Lei Paulo Gustavo Municipal, Soraia Santos, Luiza Cassano, José Gomes, Maria José Boaventura, Luciano Carvalho dos Santos, Regina Carvalho dos Santos, Wondel Resende Gonçalves, Nelson de Resende, Rodolfo Gonçalves.

Referências:

A Santa de Coqueiros – Sua vida e seus milagres (Collectanea organizada por um grupo de crentes. Rio de Janeiro, junho de 1931.

ANDRADE, Carlos Drummond. Revista do Arquivo Público Mineiro, Ano XXXV, 1984, p.80-81.

BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico Geográfíco de Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1995. 

GARCIA, Ramon. A Santa Manoelina dos Coqueiros – 1931. Disponível: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=Qhp8_RNgNEU

MENEZES, Agostinho. A Santa de Coqueiros. Jornal das Moças – Revista Semanal Illustrada. Rio de Janeiro, 14 de maio de1931, Ano XVII, Nº 830, páginas sem numeração. Disponível em:

https://hemeroteca-pdf.bn.gov.br/111031/per111031_1931_00830.pdf

OLIVEIRA, Felipe Resende Ribeiro de. Histórico de Manoelina dos Coqueiros – Relatório. Entre Rios de Minas: Edição do autor, 2024.

RESENDE, Elson de Oliveira. De Bromado a Entre Rios de Minas …sua arte, …sua história. Tiradentes: Mandala Produção, 2022.

 Créditos – A Santa – Entre Rios de Minas – 2024
Realização e produção – Teatro da Pedra / Co-produção – EraDireção, roteiro e pesquisa – Juliano Pereira e Michel Montandon / Direção de fotografia – Thiago Coelho / Produtora – Luiza Cassano /Direção de arte – Bruno Schuch e Mirian Rios / Figurino – Olívia Lima – Pano de Roda Ateliê / Montagem – Thiago Arruda / Som direto e mixagem – Lucas Brasil / Trilha sonora original – Tuca Boelsums /  Voz adicional – Virgínia Reis / Letra e música “Deus é uma mulher preta” – Jéssica Gaspar / 1ª Assistente de Direção – Gabriela Monteiro /2ª Assistente de Direção – Luana Longatti / 1ª Assistente de fotografia – Isabela Barbosa / 2ª Assistente de fotografia – Vinícius Cruz / 3ª Assistente de fotografia – Luiza Resende / 1ª Assistente de Figurino – Kymane Luzia / 1º Assistente de som direto – Guilherme Teixeira / Câmera 01 – Thiago Coelho / Câmera 02 – Vinícius Cruz / Artista plástica convidada (bordado baú) – Egléa Senna / Esculturas – Bruno Schuch / Produtor local – Gabriel Marzano / Still – Luana Longatti / Designer gráfico – Dudu Canaan / Assessora de comunicação – Najla Passos / Legenda descritiva – Daiane Bispo / Audiodescrição – Vanessa Oliveira / Produtores de set – Paula Nicolau Oliveira e Rodrigo Baccarini / Motoristas – Diogo Tour, Valderci Detomi e Francisco Augusto Santana /Eletricista – Gustavo Henrique Ribeiro Oliveira / Fontes de pesquisa – José Pedro, Rodolfo Andrade e Renato Pacheco / Foto 1 (créditos) – Antônio Gonçalves Coelho – Foto Gonçalves (1930) / Foto 2 (créditos) – Zenóbio Couto (1931) Fragmentos de filme (créditos) – Ramon Garcia (1931) Acervo Cinemateca BrasileiraElenco: Manoelina jovem – Daiane Jaqueline / Manoelina benzedeira – Fernanda Nascimento / Contadora de Histórias – Elis Ferreira / Miguel – Adailson Natanael / Rosária – Soraia Santos / Médico – Gustavo Rosário / Padre – Adilson Homem Gonçalves / Romeiro – Gyan Celah / Romeira – Mariana Scarpelli / Filho da Romeira – Guilherme Teixeira / Rezadeira 01 – Priscila Mathilde / Rezadeira 02 – Mirian Rios /Paciente sanatório 01 – Luiza Cassano / Paciente sanatório 02 – Kymane Luzia / Enfermeiro – Lucas Oliveira / Elis criança – Bella Ferreira Gonçalves Pereira / Avó – Maria Aparecida Gonçalves Ferreira .Elenco de apoio – Crianças: Açucena Lima Montandon, Alexandra Batista dos Santos, Amora Ferreira Gonçalves Pereira, Ana Victória Soares Rios, Antônio Lima Montandon, Arthur Miranda Oliveira, Bernardo Miranda Oliveira, Ester Dalila Soares, Ester de Oliveira Moreira, Iago Serafim Ferreira, João Marcos Evangelista Santos, João Victor Santos da Silva, Kauã Serafim Roque, Larissa Mariana de Lima Moraes, Luigi Miguel V. Martins, Maria Eduarda Moura Moreira, Talita Marina Soares,Thaciane Heloísa Oliveira Lima, Vitor Serafim SouzaAdultos: Adriana Serafim Souza, Andreia Serafim Dias, Bernadete Campos de Oliveira, Cecília G. Martins Pereira, Edivane Campos de Miranda, Elias dos Reis de Oliveira Pereira, Geraldo Cardoso de Asevedo, Helena Maria de Oliveira, Ivone Oliveira Egg, José Francisco Oliveira Silva, Maria da Consolação Oliveira, Maria Helena Silva Rodrigues, Maria Inês Silva Oliveira, Maria de Lourdes de França, Maria do Rosário Serafim dos Santos, Maria Vicentina Serafim Dias, Paula Nicolau Oliveira, Phillip Fernandes Cardoso, Selma consolação Oliveira Santos, Tawan Veloso, Teófilo Antônio de Oliveira Bastos, Vera Lúcia Vieira da Costa, Wilze Spezialli

FONTE LUIZ CRUZ https://luizcruztiradentes.blogspot.com/2024/11/manoelina-santa-dos-coqueiros-santa.html

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