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Congonhas: devoção esculpida com genialidade

Obra do mestre Aleijadinho, tesouro da humanidade que retrata os últimos passos de Jesus, entra na etapa final de restauro para voltar a fascinar os católicos

A “cidade dos profetas” celebra, neste ano, quatro décadas do reconhecimento como Patrimônio Mundial, apresentando um grandioso tesouro da humanidade, a obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), que orgulha moradores e fascina visitantes de todos os cantos. As seis capelas diante do Santuário Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central de Minas, guardam as 64 esculturas de autoria do mestre do barroco, as quais passam, agora, pela etapa final do minucioso projeto de conservação e restauro.


“Fazemos a restauração pontual, que deve ocorrer sempre, para este patrimônio durar cem, duzentos anos”, diz Rosângela Reis Costa, do Grupo Oficina de Restauro, de BH, empresa encarregada do serviço.

Na sétima reportagem da série “Paixão e fé – Espaços sagrados”, o Estado de Minas viaja no tempo, pelos caminhos da arte, para mostrar os bens culturais e históricos sob a chancela da Unesco (agência das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), desde 1985. E ouvir a voz dos visitantes, a exemplo de Jamil Júnior, médico veterinário, e Vlademir Sartori Andreola, ambos de Chapecó (SC). “Sinto que estamos dentro de um livro de história. Fico vendo as capelas e me lembrando dos professores da escola, na minha época de criança. Tudo aqui nos conduz à história, à literatura”, diz Jamil, revelando que contemplar o santuário com os 12 profetas em pedra-sabão esculpidos por Aleijadinho, e as cenas da Paixão de Cristo, em cedro e tamanho natural, concretizam um sonho da infância”. Também impressionado com o cenário, Vlademir destaca a qualidade do trabalho de Aleijadinho, algo “único no país”.

PROGRAMAÇÃO

Semana Santa
Até o Domingo da Páscoa (20), Congonhas terá missas, procissões, encenações e extensa programação. Destaque para a apresentação do Coral Cidade dos Profetas, hoje (12), às 20h, na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos

Na Sexta-feira da Paixão (18), às 18h30, haverá a Encenação da Paixão de Cristo, seguida do Sermão do Descendimento da Cruz e da Procissão do Senhor Morto

Jamil e Vlademir tiveram sorte, pois a capela da Crucificação estava aberta para as ações de conservação – normalmente, há só uma janela para o turista ver o interior, onde ficam as esculturas. No espaço, se encontravam o coordenador técnico de restauração, Edmilson Gomes, sempre maravilhado “com a excelência e a qualidade da obra de Aleijadinho”, e a técnica de restauração, Rose Silva, para quem estar ali significa “privilégio”.

Num grupo de turistas, a gaúcha Vera Seitenfus, residente em Porto Alegre, também na primeira visita a Congonhas, se declarou “extasiada” com o que viu na “cidade dos profetas” e outros municípios mineiros. E o guia local Luciano César Sanim, há 33 anos na função, reiterou seu amor pela cidade e pela arte que habita o adro do santuário, as capelas e outros monumentos do século 18.

AÇÕES DE CONSERVAÇÃO

A restauração pontual nas 64 esculturas, iniciada em janeiro e com previsão de terminar em julho, com recursos municipais, inclui higienização, consolidação, preenchimento das galerias abertas pelos cupins, nivelamento e reintegração das cores, com retoques onde for necessário, explica Rosângela Reis. A Prefeitura de Congonhas estuda como serão as futuras ações de conservação do conjunto e também dos 12 profetas, que receberam um biocida (para retirada de colônias de micro-organismos na pedra-sabão), em 2023, informa a diretora Municipal de Patrimônio Histórico, Ana Flávia Lino Leite.

Para entender cada momento da atual intervenção, é preciso conhecer os antecedentes. Em 2023, as esculturas em cedro passaram pelo processo de desinfestação denominado anóxia ou anoxia, para matar cupins e evitar a proliferação dos insetos, caso presentes na madeira. A técnica consiste em colocar as imagens dentro de uma bolha de plástico especial por 45 dias – cada uma com 3 metros de comprimento, 2m de largura e 1m de altura –, fechada com barreiras e válvulas. Quando tudo está bem acondicionado e vedado, a equipe técnica injeta nitrogênio para ser retirado todo o oxigênio existente no interior da bolha. O trabalho de desinfestação foi realizado graças a recurso de um termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público Federal.

As primeiras peças contempladas foram as 15 esculturas barrocas da Capela da Santa Ceia: 12 apóstolos, Cristo e dois servos. Na sequência, as demais foram contempladas, umas em local não divulgado por questão de segurança, outras na própria capela onde ficam. Foi o caso do Anjo da Amargura com o cálice, retirado em 11 de junho de 2024 da parede da Capela do Horto das Oliveiras e tratado no seu espaço devido à dimensão. Parte do conjunto (Cristo suando sangue e os apóstolos Pedro, Tiago e João) passou pelo processo de desinfestação em outro ambiente.

Todo o serviço teve acompanhamento de especialistas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois os bens são tombados pela União e integram o complexo arquitetônico e artístico sob chancela da Unesco.

FESTA COM IMAGENS

Em dezembro passado, nas festividades do aniversário da emancipação política de Congonhas, foi concluída, após 14 meses, a obra de restauração das imagens dos Passos da Paixão de Cristo. São elas: Santa Ceia, Horto das Oliveiras, Prisão, Flagelação e coroação de espinhos, Cruz às costas e Crucificação.

As intervenções nas capelas, conduzidas pela Prefeitura de Congonhas começaram em setembro de 2023, com uso de material (cal, argamassa de cal e areia) e técnicas da época da construção, contemplando a recomposição de rebocos e algumas partes degradadas, tratamento das cúpulas, limpeza das cantarias e pintura das esquadrias de madeira. As portas e janelas também foram incluídas no serviço. O último restauro semelhante ocorrera em 2004, pelo Programa Monumenta. Desde então, a basílica vinha fazendo pequenas manutenções na pintura, embora houvesse bastante desgaste, com o crescimento até mesmo de uma gameleira, responsável pela infiltração da Santa Ceia.

Ao longo dos últimos anos, o EM documentou a situação das capelas dos Passos da Paixão de Cristo. Em 8 de março de 2022, durante a pandemia, foi colocada uma cobertura, em forma de tenda, sobre a Santa Ceia, como ação emergencial obrigatória contra as infiltrações que, em janeiro daquele ano, atingiram o bem cultural, histórico e espiritual. Na etapa seguinte, em 2023, ainda às vésperas da quaresma, período que atrai muitos visitantes, a Prefeitura de Congonhas criou estrutura metálica semelhante para proteger a Capela da Crucificação e Flagelação das águas fortes chuvas.

FONTE: ESTADO DE MINAS

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