“Mesmo com sol encoberto
todos sabem quando é dia.”_
Cecília Meireles
Há pessoas que parecem ter nascido com a missão de iluminar o caminho dos outros. Cleide Helena de Faria era uma dessas. Sua luz não vinha do barulho, mas da presença firme, do olhar sereno, da mão estendida. No último dia 6, essa luz encantou-se — mas não se apagou. Porque há presenças que, mesmo ausentes, permanecem.
Lembro-me nitidamente do dia em que a encontramos num café. Ela saía do laboratório, como tantas vezes fazia, em mais um dos dias duros do tratamento. Com um sorriso leve no rosto e uma xícara entre as mãos, confessou para mim e para a Feli que não estava sendo fácil. Mas ali, no brilho dos olhos, havia fé. Fé daquelas que não se abalam nem diante do diagnóstico mais duro. E uma força que não cabia em palavras.
Cleide foi professora, gestora, pintora, cuidadora. Tinha mãos de Midas: por onde passava, fazia florescer. Sua história se escreveu nos corredores da Escola Municipal Jair Noronha, nas trilhas poeirentas das escolas rurais, nas salas improvisadas da UNIPAC, enquanto o novo Meridional ganhava forma.
Foi dessas educadoras que não medem esforços — literalmente. Se não havia transporte, lá estava ela, dirigindo o seu carro novinho pelas estradas de terra, enfrentando buracos, poeira e curvas perigosas, para garantir que a merenda, os livros, os cadernos chegassem onde precisavam chegar. Em tempos de pandemia, quando muitos recuaram, ela avançou. Estava lá, todos os dias, com os Planos de Ensino Tutorados nas mãos e uma missão no coração.
No Meridional, foi farol em tempos de mudança. Acompanhou a obra, cuidou da transição, abraçou os conflitos diários com sabedoria. E, mesmo se desligando pouco antes da inauguração da nova unidade, deixou nela a marca de sua dedicação. De seu amor.
Finais de semana eram no sítio. Ali, a guerreira descansava. Ou melhor: transformava silêncio em arte, pincelando telas que pareciam prolongar a paz que havia dentro dela. Era ali que sua alma respirava.