Por que especialistas estimam vacinas anuais contra a covid

Quando as primeiras vacinas contra a covid-19 foram anunciadas, estavam previstas uma ou duas doses. Mas agora, um ano depois, o governo de São Paulo, por exemplo, anunciou que a população receberá uma quarta dose do imunizante. E talvez não seja a última.

Esse cenário reforça comparações entre o coronavírus e o vírus da gripe (influenza), que é de fácil transmissão e que vive em constante mutação. E por isso, dentre as soluções adotadas contra a forma grave da doença, ocorre a aplicação de uma vacina a cada temporada. O mesmo acontecerá com a covid-19?

A verdade é que ninguém tem certeza, mas os sinais disponíveis até agora apontam para a probabilidade de mais doses da vacina contra a covid-19, talvez em frequência anual, principalmente para os mais vulneráveis (como os idosos).

Mas faz sentido comparar o esquema vacinal da gripe ao da covid-19 que ainda nem está consolidado? É possível que o coronavírus passe por um processo de mutação como o do influenza a ponto de termos vacinas sazonalmente? E precisaremos de mais doses porque as vacinas atuais e o nosso sistema imunológico não conseguirão combater as novas variantes?

O imunologista e vacinologista, Herbert Guedes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador da Fiocruz, explicou em entrevista à BBC News Brasil que as respostas para todas essas dúvidas passam basicamente por dois aspectos sobre os quais o mundo ainda tem grandes dúvidas: se o vírus vai passar por mutações a ponto de escapar das vacinas e anticorpos e se a defesa do nosso corpo vai cair ao longo do tempo, necessitando assim de reforços a cada um ou dois anos, por exemplo.

Apesar das incertezas e da falta de diversas informações cruciais sobre o coronavírus, para Guedes e outros dois especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o cenário atual tende à necessidade de novas doses nos próximos anos. “A gente tem que ter consciência que a gente vai ter que conviver com o vírus por um tempo.”

Mesmo com a percepção comum de que a pandemia está se aproximando do fim, com diversos países suspendendo completamente as medidas de restrição, é importante lembrar que a covid-19 ainda mata mais de 1.200 pessoas por dia no Brasil, e esse número cresce a cada dia. Até agora, morreram mais de 635 mil pessoas no país em razão da pandemia.

Por que a vacinação da covid poderia ser anual?

A resposta a essa pergunta passa por 4 aspectos: imunidade/memória, variantes, logística e sazonalidade. Mas principalmente os dois primeiros.

1. Em quanto tempo a imunidade cai e precisamos de mais doses de vacina?

Ilustração do coronavírus
Legenda da foto,Memória imunológica não dura para sempre para todos os agentes infecciosos

A equipe da BBC News Brasil lê para você algumas de suas melhores reportagens

Quando o corpo humano é invadido por um vírus ou uma bactéria, por exemplo, nosso sistema imunológico se defende com duas respostas principais: a resposta imune inata (a célula percebe que foi infectada e dispara sinais de alerta) e a resposta imune adaptativa (com capacidade de gerar memória imunológica, como os linfócitos chamados de células T e células B).

No momento da invasão, o nosso sistema imunológico armazena uma espécie de “ficha técnica” com informações de como combater esses agentes infecciosos. Esse é o objetivo primordial da vacina: gerar células de memória a fim de combater o invasor quando este surgir.

Vale lembrar que as vacinas atuais contra a covid-19 são eficazes em combater a forma grave da doença, e não a infecção. Ou seja, ajudam muito mais o corpo a evitar hospitalizações e mortes do que contrair o vírus.

Só que essa memória não dura para “sempre” em relação a todos os agentes infecciosos. E no caso da covid-19, o corpo vai “perdendo” o acesso a essa memória de uma forma aparentemente rápida, ficando mais vulnerável ao longo do tempo. Mas quanto? Não se sabe ao certo.

O virologista Fernando Spilki, professor e coordenador da rede Corona-ômica.BR/MCTI (que monitora o crescimento das principais variantes do vírus no país), explica à BBC News Brasil que “há alguns indícios de que você teria pelo menos 9 meses, medindo anticorpos, mas isso não quer necessariamente dizer que não vá ter proteção clínica do ponto de vista da imunidade celular”.

Há estudos que apontam a possibilidade de a imunidade não durar um ano, mas ainda não há certeza sobre isso. O Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, por exemplo, divulgou recentemente que a proteção dada pela terceira dose (booster) contra a covid-19 grave não dura mais do que quatro meses, o que sugere a necessidade de se aplicar uma quarta dose.

Além disso, o avanço da pandemia tem levado a mudanças na estratégia da aplicação de vacinas. Inicialmente, a terceira dose de reforço era para ser administrada seis meses após a segunda dose, mas o surgimento das variantes levou autoridades a anteciparem o intervalo de aplicação para quatro meses a fim de aumentar a resposta imune das pessoas e tentar garantir a proteção.

“Quando se aplica a terceira dose, você aumenta a resposta imune do indivíduo. Então, aumenta a resposta de anticorpos e aumenta a celular (aumenta as células T e B de memória)”, explica Guedes. Ou seja, a terceira dose teve a capacidade de aumentar os níveis de anticorpos neutralizantes, que são anticorpos que vão neutralizar regiões que não estão aumentando tanto com a chegada do invasor.

E o que falta então para sabermos quanto tempo realmente dura a capacidade do corpo de combater o coronavírus?

Atualmente, o principal indicador utilizado é a taxa de hospitalizados e mortos entre os vacinados (e há quanto tempo eles foram imunizados).

Mas Spilki explica que um dos desafios da covid-19 é a ausência de marcadores exatos. “Nós ainda não temos o que chamamos de correlato de proteção. Quanto de anticorpos preciso ter para estar protegido de uma infecção mais grave? Quanto de anticorpos preciso ter para evitar a multiplicação do vírus e não transmiti-lo? Quanto de resposta imune celular preciso ter para me proteger de uma infecção mais grave?”

Ele esclarece que isso se dá porque acabamos de descobrir a doença.

“Isso é uma coisa que leva bastante tempo mesmo para a gente conseguir determinar. No momento em que tivermos isso bem definido, esses marcadores de laboratório, vai ficar ainda mais fácil, porque vai poder se analisar soro, sangue de pessoas em geral e determinar: precisamos dar uma renovada na vacinação, precisamos ir adiante.”

2. Haverá variantes com mutações significativas a ponto de ‘driblar’ nossa imunidade?

Ilustração de vírus
Legenda da foto,Será que a rapidez nas mutações do coronavírus será comparável à do influenza?

O influenza é um vírus em constante mudança. E não é de hoje: há registro de mutação dele na década de 1950, por exemplo. O coronavírus, assim como o influenza, especialmente após o descobrimento da variante ômicron, trouxe dúvidas e comparações devido a sua quantidade de mutações que facilitam a adesão às células humanas para invadi-las e possuem comportamento similar se analisarmos por essa perspectiva.

Spilki explica ainda que o vírus da gripe (influenza) tem um genoma segmentado (dividido em partes), o que propicia uma evolução mais rápida. “Ele não depende apenas de mutação, o genoma também faz mutação, também tem alterações na sequência de letrinhas do RNA. (…) Ele também consegue se misturar em diferentes espécies ao longo do tempo, o que é uma vantagem evolutiva”.

No caso da gripe, a imunização acontece nos meses que antecedem o inverno, estação em que o número de casos de influenza costuma subir (por diversos motivos, entre eles mais aglomerações em lugares fechados). A vacina é aplicada sazonalmente porque o vírus da gripe muda continuamente.

Renato Mancini Astray, pesquisador científico do Instituto Butantan, explicou em entrevista à BBC News Brasil que as mutações do influenza são imprevisíveis, “por isso que é sempre uma surpresa, sempre uma expectativa para saber qual é a cepa que vai circular no ano seguinte, no ano corrente da fabricação das vacinas”.

Quem recomenda as cepas da vacina da gripe sazonal é a Organização Mundial da Saúde (OMS) que, a partir de uma hipótese baseada em dados epidemiológicos das cepas que estão em circulação, e do desempenho de cepas anteriores, seleciona geralmente três principais cepas para a próxima estação.

“Para o vírus que virá no próximo ano, ela [a vacina atual] não é uma vacina que vai proteger completamente, porque as mutações que o influenza sofre fazem com que ele escape um pouco da resposta imunológica”, explica Astray, do Butantan.

Guedes, da Fiocruz, afirma que a atualização da vacina de influenza ocorre, então, tanto por causa das mutações quanto para aumentar a resposta imune anualmente.

Mas como aparecem essas mudanças e mutações no vírus? Bom, todo ciclo de replicação do vírus influenza pode passar por mutações, e nesse caso pode ocorrer a “deriva antigênica”, que é como se fosse uma “estratégia” do vírus para mudar sua estrutura, e com isso escapar do nosso sistema imunológico (isso tudo de forma aleatória, e não planejada pelo vírus). Então precisamos de novos anticorpos e vacinas para se proteger.

E o coronavírus Sars-CoV-2, que causa a doença covid-19?

Por questões evolutivas, Spilki não aposta na possibilidade de atualização do coronavírus na mesma velocidade que se dá com o vírus influenza a ponto de obrigar a atualização anual da vacina. “Mas nós teremos necessidade ao longo do tempo de ir renovando vacinas”, ressalta.

Astray, do Butantan, afirma que a variante ômicron já escapou bastante da resposta imune mediada por anticorpos, fazendo com que eles não sejam mais tão eficazes para bloquear a infecção, mas, graças às vacinas atuais, o sistema de defesa do corpo ainda se mostra eficaz para diminuir a gravidade da doença, só que essa taxa vem caindo.

“Foi o que aconteceu, por exemplo, quando entraram as variantes. A gente tinha então vacinas que tinham uma eficácia, por exemplo, na segunda dose de 86%, 90% contra sinais clínicos. Entraram as variantes e a gente começou a ver essa eficácia baixar para próximo de 70%, 60%. Esse tipo de sinal populacional já indica que você precisa dar uma reforçada nessa memória”, diz Spilki.

A princípio, as variantes (novas versões do coronavírus com mudanças genéticas consolidadas) têm bastante semelhança entre si, a ponto de não afetarem tanto a eficácia da vacina. Mas não é possível prever quanto o coronavírus ainda vai sofrer mutações, e em que medida elas serão capazes de driblar nosso sistema imunológico.

Mesmo com todas essas incertezas, Guedes, Astray e Spilki estimam, com base nas parcas informações disponíveis, que a população será imunizada anualmente por algum tempo ainda.

“Na minha opinião, o que se espera chegar? Seriam doses anuais, o que se espera, atualizando frente aquilo que circulou. Como se faz com o influenza. Vai atualizando para garantir essa proteção. Agora, se vai ser um ano, se vai ser 6 meses, não tem como a gente saber, depende muito. A dinâmica ainda está acontecendo. E por que a gente pensa sempre em anual? Porque passaram as estações, inverno, verão, passa pelo ciclo sazonal e aí, passado esse período, vamos vacinar com os vírus que transitaram para garantir a proteção”, diz Guedes.

Injeção sendo aplicada no braço de uma pessoa
Legenda da foto,População mais vulnerável pode ser priorizada nas vacinações de reforço

Para Spilki, é provável atualizar as vacinas com as mutações gerais, como ômicron, e outros alvos, para tentar bloquear também a infecção, e não “só” a forma grave da doença. Ele estima que a aplicação das vacinas deve avançar para doses anuais, e não menos que isso para todas as faixas etárias, também por questões logísticas.

Na opinião de Astray, o cenário mais provável é “que a gente vai ter uma indicação de uso, um reforço anual, ou bianual, a cada dois anos, ou ainda uma questão de reforço em campanha, se começarem a aparecer muitos casos, mas de uma população vulnerável”.

Ele estima que a imunização primária contra a doença deve ocorrer na pré-adolescência, “para todo mundo ficar protegido e diminuir a circulação da doença”, mas a “questão do reforço deve acabar sendo mais predominante para os grupos de risco”.

Não está claro, ressaltam os especialistas, como seria esse esquema vacinal, ou seja, quantas doses seriam aplicadas em cada um desses grupos. E por quanto tempo.

“Se nós formos continuar a conviver com o vírus, então a vacinação também irá continuar. Ora para aumentar a resposta imune, ora para atualizar a vacina contra novas variantes”, diz Guedes.

Como serão as novas vacinas?

O Sistema de Saúde Britânico (NHS) explica que o principal ingrediente de qualquer vacina é uma pequena quantidade de bactéria, vírus ou toxina que foi enfraquecida (vacina viva) e destruída (vacina morta) primeiro em laboratório.

A vacina contra o influenza, por exemplo, é feita com ovos embrionados de galinhas, onde o vírus será multiplicado. Esses ovos são incubados por cerca de 3 dias e o líquido que envolve o embrião é retirado, centrifugado, concentrado, fragmentado e inativado. É esse líquido, portanto, que se torna a suspensão da vacina de uma cepa do vírus. Para a vacina trivalente (contra três tipos), é necessário unir e misturar as três suspensões de cada vacina monovalente.

As vacinas contra o coronavírus usam diversas técnicas, como vírus inativado, vírus atenuado, mistura com outros vírus e até pedaços do genoma do vírus (RNA), como a proteína spike (usada para invadir a célula humana).

Cada vacina possui seu esquema vacinal, definido após testes que indicam a formulação e intervalo entre as doses, além do momento em que elas serão administradas. Os testes em laboratório é que irão definir as doses, as quais serão colocadas à prova nas primeiras fases dos ensaios clínicos e a dosagem será testada e regulada, ajustada.

Normalmente, o processo de desenvolvimento de uma vacina pode levar cerca de 10, 15 anos ou mais, pois costuma trilhar um caminho muito definido, com etapas estabelecidas. Só o planejamento costuma levar de 6 meses a 1 ano para ser feito. Pausas, testes e verificações estão presentes. Os aspectos regulatórios para desenvolvimento de uma vacina, que são as exigências para a liberação, podem levar anos para serem concluídos.

Mas a emergência da pandemia de covid-19 fez com que esses prazos fossem todos acelerados. Especialistas e autoridades médicas ao redor do mundo garantem, com bases em testes de milhares de voluntários e avaliação e acompanhamento de outros milhares de pessoas vacinadas, que os procedimentos de segurança e eficácia foram preservados.

“A vacina é um produto farmacêutico muito controlado, muito vigiado, estudado ao máximo, porque você toma uma vacina quando você está saudável e não é algo que você toma já estando doente. O rigor para você colocar uma vacina no mercado, todas as agências sanitárias, os médicos que são responsáveis pela segurança dessas preparações”, explica Astray.

Com o avanço da pandemia, as vacinas podem acabar precisando ser atualizadas. Ou seja, a nova forma do vírus é estudada e isolada pelos cientistas e a vacina, reconstituída. Mas isso não significa que o processo de produção comece todo da estaca zero. Laboratórios têm estimado que isso duraria em torno de seis meses.

E não se trata apenas de atualizações em relações às variantes, com objetivo de torná-las mais eficazes em reconhecer e combater as novas versões do coronavírus. Há também tecnologias diferentes que podem ser utilizadas.

No Reino Unido, a vacina da gripe intranasal (em spray inalável) já é distribuída para os alunos da rede pública de ensino, por exemplo. E isso pode acontecer também com o coronavírus, ajudando a combater o coronavírus em sua principal porta de entrada (e de saída): as vias aéreas superiores.

Isso porque muitas das vacinas injetáveis contra a covid-19 geram menos anticorpos nessa região, principalmente no caso da variante ômicron.

Há mais de uma dezena de vacinas inaláveis contra a covid-19, ainda em fase de estudos. Estima-se que essa forma de imunização teria um papel fundamental para ajudar a evitar não só que as pessoas fiquem gravemente doentes, mas, antes disso, que sejam infectadas e contaminem outras pessoas. A vacina inalável também é considerada mais fácil de ser distribuída para uma grande parcela da população, porque demanda menos tempo e técnica.

“(Vacinas nasais) são a única maneira de realmente evitar a transmissão de uma pessoa para outra”, disse Jennifer Gommerman, imunologista da Universidade de Toronto (Canadá), em entrevista ao jornal The New York Times.

FONTE BBC.COM

Diário da Covid-19: Nordeste tem a menor proporção de casos e óbitos

Políticas públicas adotadas pelos governadores e população mais jovem explicam o relativo sucesso da região

A pandemia tem gerado uma situação paradoxal, pois o número de indivíduos infectados nunca foi tão alto como neste início de 2022; o número de mortes permanece elevado, embora esteja abaixo dos picos anteriores, mas as medidas preventivas gerais e as restrições à mobilidade espacial e às aglomerações sociais praticamente desapareceram. Na heterogeneidade brasileira, o impacto da covid-19 tem ocorrido de forma diferenciada em termos regionais.

A tabela abaixo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) mostra os coeficientes de incidência (casos por milhão) e de mortalidade (óbitos por milhão) para o mundo, o Brasil, as regiões e as Unidades da Federação, para o dia 12 de fevereiro de 2022. Nota-se que o coeficiente de incidência mundial é de 52,1 mil casos por milhão de habitantes, muito abaixo do coeficiente brasileiro de 128,6 mil casos por milhão. Já o coeficiente de mortalidade global é de 747 óbitos por milhão e do Brasil, de 2.991 óbitos por milhão.

Tabela: dados da covid-19 na Região Nordeste

Portanto, os coeficientes brasileiros são muito superiores aos coeficientes globais. Dentro do Brasil, as regiões que possuem coeficientes de incidência acima da média nacional são as regiões Centro-Oeste (172,8 mil casos por milhão) e Sul (188,9 mil casos por milhão). A Região Nordeste possui o menor coeficiente de incidência com 99,9 mil casos por milhão no dia 12/02.

Em relação ao coeficiente de mortalidade, as regiões Sul (3,3 mil óbitos por milhão), Sudeste (3,4 mil óbitos por milhão) e Centro-Oeste (3,7 mil óbitos por milhão) possuem proporção de mortes acima da média nacional. Abaixo da média brasileira estão as regiões Norte (2,6 mil óbitos por milhão) e Nordeste (2,1 mil óbitos por milhão), com o menor coeficiente do país. Sem dúvida, os menores coeficientes de mortalidade estão nas regiões que possuem as estruturas etárias mais rejuvenescidas, mas as políticas públicas adotadas no Nordeste foram fundamentais para a menor prevalência de casos e óbitos na região.

Segundo dados do Conass, o Brasil registrou 27,4 milhões de casos da covid-19 e 638,1 mil óbitos, no dia 12/02/22. A média móvel de 7 dias dos casos ficou em 136,1 mil casos diários e a média móvel de mortes ficou em 892 óbitos diários. O Brasil continua ocupando o terceiro lugar no ranking global do número de pessoas infectadas e o segundo lugar no ranking de vidas perdidas (atrás apenas dos Estados Unidos).

O gráfico abaixo mostra as variações absolutas diárias do número de casos no território nacional entre 14/03/2020 e 12/02/2022 e a média móvel de 7 dias. Desde o início de março de 2020, o número de pessoas infectadas cresceu continuamente até o pico de 45 mil casos em agosto e um pico ainda em patamar superior em março de 2021, com mais de 77 mil casos. No Natal de 2021, a média de casos caiu para cerca de 3 mil casos, mas deu um salto para 189 mil casos no dia 03/02 e caiu ligeiramente para 136 mil no dia 12/02. Desta forma, a curva epidemiológica dos casos conhecidos está em queda, mas em um patamar muito elevado.

O gráfico abaixo mostra as variações absolutas diárias do número de mortes da covid-19 no território nacional entre 28/03/2020 e 12/02/2022 e a média móvel de 7 dias. Desde meados de março de 2020, o número de vidas perdidas para o novo coronavírus cresceu continuamente até um pico de cerca de 1 mil óbitos de maio a julho de 2020 e um pico geral de mais de 3 mil mortes diárias em abril de 2021. No final de 2021 a média de mortes caiu para menos de 100 óbitos diários, mas deu um salto nas semanas seguintes e chegou a uma média móvel de quase 1 mil óbitos diários no dia 11 de fevereiro de 2022.

O panorama global

Segundo o site Our World in Data, com dados da Universidade Johns Hopkins, o mundo ultrapassou 410 milhões de casos conhecidos da covid-19 e registrou 5,88 milhões de vítimas fatais. O gráfico abaixo (painel superior) mostra que a média móvel caiu de 436 casos por milhão (ou 3,44 milhões de casos diários) em 25 de janeiro para 306 casos por milhão (ou 2,41 milhões de casos diários), no dia 11 de fevereiro de 2022.

A parte inferior do gráfico mostra a curva de mortalidade e indica que, na virada do ano, a média de vidas perdidas ficou abaixo de 1 óbito por milhão (o que significa cerca de 6 mil óbitos diários). Mas no dia 10 de fevereiro a média chegou a 1,4 óbitos por milhão (ou 10,9 mil óbitos diários). No dia 11/02 a média caiu ligeiramente para 10,7 mil óbitos. Deste modo, o mês de fevereiro apresenta curvas em declínio, mas em nível elevado.

O coeficiente de incidência tem batido recordes sucessivos no mundo e nos diversos países, mas a principal explicação para o fato do coeficiente de mortalidade não ter aumentado para os picos anteriores, mesmo com o grande surto de casos, é o avanço do processo de imunização. O gráfico abaixo mostra que a percentagem da população com vacinação completa já chegou a 54% no mundo e a mais de 60% na maioria dos continentes. Porém, a África tem uma taxa de vacinação muito baixa.

A reversão do quadro pandêmico depende do avanço da vacinação, aliado à efetivação de medidas de prevenção. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou no dia 11 de fevereiro que a fase aguda da pandemia deve passar ainda em 2022 se 70% da população mundial estiver vacinada até meados de junho ou julho. O caminho a seguir está claro e o essencial é colocar em prática as ações recomendadas pela ciência e dar os passos corretos.

FONTE PROJETO COLABORA

Leão com pneumonia: covid-19 em animais exige estudos aprofundados

De gatos a tigres, de cães a gorilas, multiplicam-se os casos de infecção por coronavírus, ainda pouco estudados, em bichos domésticos e selvagens

(Adriano Mendes, Amy Stryholm, Katja Koeppel e Marietjie Venter*) – O SARS-CoV-2 é a causa da doença que conhecemos como covid-19. Embora essa doença tenha causado estragos em todas as populações humanas em todo o mundo, o que não é tão apreciado é que o vírus também pode infectar uma variedade de animais.

A Organização Mundial de Saúde Animal relatou surtos de SARS-CoV-2 em gatos, cães, furões, martas, lontras, leões, tigres, pumas, leopardos da neve, gorilas, veados de cauda branca, gato pescador, quati da América do Sul, hiena manchada, urso-gato-asiático, lince euro-asiático e lince do Canadá. Recentemente, o vírus foi identificado em hamsters de estimação após a transmissão zoonótica reversa de humanos.

Em nosso artigo, relatamos a infecção de um puma exótico (julho de 2020) e três leões africanos (julho de 2021) em um zoológico particular em Joanesburgo, África do Sul. A transmissão de uma variante Delta – semelhante às que circulavam em humanos na África do Sul na época – de um tratador para os três leões foi identificada. Um leão desenvolveu pneumonia, enquanto os outros casos tiveram infecção leve. Tanto o puma quanto os leões permaneceram positivos para o RNA SARS-CoV-2 por até sete semanas, mas eliminaram completamente a infecção.

Este trabalho é o primeiro exemplo de infecção animal por SARS-CoV-2 na África e se soma a apenas um punhado de artigos que abordam globalmente a infecção em populações de leões em cativeiro. Três relatos anteriores foram publicados de zoológicos nos EUA, Índia e Barcelona.

O fato de uma ampla gama de animais parecerem suscetíveis à infecção tem pelo menos três consequências importantes.

Em primeiro lugar, não está claro o grau de gravidade da doença em diferentes animais e suas implicações no bem-estar animal. Em segundo lugar, os animais têm sistemas imunológicos diferentes e vivem em ambientes diferentes dos humanos, o que significa que haveria pressão evolutiva alterada sobre o vírus. Isso tem o potencial de influenciar o surgimento futuro de variantes virais se ocorrerem surtos mais amplos, como foi o caso de furões na Europa e cervos de cauda branca nos EUA.

Finalmente, qualquer esperança de erradicar o vírus com o uso de vacinas e antivirais precisará levar em conta o fato de que provavelmente existem bolsões de infecção animal onde o vírus ainda pode circular. Os virologistas chamam esses animais de “reservatórios”. Assim como uma represa fornece excesso de água para uma comunidade, esses animais podem abrigar o vírus depois que muitas pessoas se tornam imunes. Até o momento, houve poucos relatos desses animais transmitindo de volta para humanos e nenhum relato de grandes felinos transmitindo de volta.

Uma melhor compreensão da dinâmica de transmissão e patogênese em espécies suscetíveis mitigará o risco para humanos e animais selvagens que ocorrem na África.

Descobertas da pesquisa com animais

Em julho de 2020 e novamente em junho de 2021, uma de nós (Dra. Katja Koeppel) foi alertada sobre dois pumas e três leões com sintomas de doenças respiratórias, alojados em um zoológico nos arredores de Joanesburgo. Estes incluíam sintomas semelhantes à covid-19 (e muitas infecções respiratórias virais), como tosse, dificuldade em respirar e perda de apetite. Pelo menos, um dos leões teve pneumonia.

Inicialmente esses animais foram tratados com antibióticos, o que não funcionou. Foi então que Koeppel se conectou ao programa Zoonotic arbo- and Respiratory virus Research no Centro de Zoonoses Virais da Universidade de Pretória para testar o SARS-CoV-2. Um puma e todos os três leões testaram positivo para PCR.

Com a cooperação útil do zoológico, foi iniciada uma investigação sobre o surto de leões em 2021. Todos os funcionários que estiveram em contato com os leões foram entrevistados e submetidos a testes de COVID-19. Encontramos dois dos 12 membros da equipe PCR positivos, indicando uma infecção ativa por SARS-CoV-2. Além disso, outros três membros da equipe tinham anticorpos para o vírus, indicativos de uma infecção anterior. Apenas um membro da equipe relatou um teste positivo anterior.

A investigação concluiu assim que quatro funcionários foram infectados de forma assintomática com SARS-CoV-2 enquanto estavam em contato com os leões. Usando análises genéticas adicionais, determinamos que todos os vírus do leão e o vírus do guardião de felinos eram quase idênticos (a variante SARS-CoV-2 Delta).

Isso sugeriu que todos os leões e pelo menos um dos membros da equipe estavam envolvidos em uma única cadeia de transmissão. Como os leões estavam em duas gaiolas diferentes e não em contato com outros animais, o vírus provavelmente foi transmitido do humano para as duas gaiolas.

Se leões e outros animais podem pegar covid-19, o que devemos fazer sobre isso?

Necessidade de vigilância mais ampla necessária

Um crescente corpo de pesquisas mostra que os protocolos covid-19 devem ser estendidos para áreas em que há uma interface humano-animal. Estes incluem zoológicos, santuários de vida selvagem e fazendas de caça.

Isso é de vital importância para as regiões que dependem do ecoturismo, como é o caso em grande parte da África. Protocolos simples de prevenção à covid-19, como exames regulares de saúde, higiene das mãos e, o mais importante, mascaramento consistente, serão tão eficazes para impedir a propagação do novo coronavírus para animais quanto o foi para os humanos.

Nossa pesquisa também ilustra o perigo potencial que o SARS-CoV-2 representa para a saúde animal. Como está sendo relatado atualmente nos EUA, o vírus se espalhou para populações de cervos selvagens de cauda branca em vários estados. Uma vez na natureza, o vírus será difícil de controlar. Felizmente, os cervos parecem não ser afetados pela doença.

Os leões em nosso estudo se recuperaram bem após o tratamento com antiinflamatórios, antibióticos e vitaminas. O leão com pneumonia também recebeu dexametazona, o mesmo medicamento usado em humanos. Mas os leões infectados na Índia não tiveram a mesma sorte.

À medida que a pandemia diminui, a vigilância contínua das populações de animais selvagens será vital para garantir que a pandemia não mude para outra esfera da vida.

FONTE PROJETO COLABORA

Hoje (14) a prefeitura de Lafaiete vacina crianças com 7 anos

A Secretaria Municipal de Saúde informa o INÍCIO da Vacinação de 1ª Dose para crianças com 07 anos completos
Confira o calendário e fique atento as datas de nascimento:
➡ Terça-feira, 15/02 das 08:30 às 16h:
Público: Crianças com 07 anos completos nascidas de 1 de setembro a 31 de dezembro
➡ Local:
LOJA MAÇÔNICA ESTRELA DE QUELUZ (MAÇONARIA): Av. Furtado -nº175
Documentação a ser apresentada:
ORIGINAL e CÓPIA:
• RG ou outro documento com foto;
• Comprovante de residência;
• CPF ou Cartão Nacional SUS.
✅ A criança deverá estar acompanhada de seus pais e/ou responsáveis

Idoso é mais uma vitima fatal de covid19 ; cidade tem 168 novos casos

A Prefeitura de Conselheiro Lafaiete através da Secretaria Municipal de Saúde e do Serviço de Epidemiologia com o compromisso de manter a população sempre a par das ocorrências ligadas ao combate ao COVID 19 informa o registro de 168 novos casos de Coronavírus em Conselheiro Lafaiete na data de hoje, 14/02, a ocupação em leitos clínicos é de 35,2% e em leito UTI de 58,8%.
Na oportunidade é com pesar que recebemos a confirmação de 01 óbito:

  • Sexo masculino, 78 anos, estava internado no Hospital e Maternidade São José, óbito em 14/02
    Os pacientes que não necessitam de internação seguem em monitoramento e isolamento domiciliar.
    Obs.: A Secretaria de Estado da Saúde é responsável pela regulação do acesso aos leitos hospitalares por meio do Susfácil. O município não tem autonomia para internar pacientes seja em leito clínico ou de Uti Covid-19 sem a regulação do mesmo.

Congonhas tem queda de leitos ocupados, confirma 42 novos casos e tem 3 óbitos em investigação

A Secretaria Municipal de Saúde informa que, até às 12h desta segunda-feira, 14 de Fevereiro de 2022, 10.683 casos de Covid-19 haviam sido confirmados em Congonhas. Deste total, 10.235 pacientes já receberam alta. Foram confirmados 42novos casos nas últimas 24 horas e estão sendo monitorados 474 casos da doença.A ocupação de leitos clínicos para pacientes com coronavírus está em 40% e de UTI está em 30%.Foram confirmados 111 óbitos por Covid-19. Até o momento 31 óbitos foram descartados e há três óbitos suspeitos em investigação.

A pandemia ainda não acabou por isso é muito importante que todos colaborarem na prevenção do contágio. Mantenha o isolamento social,  use máscara de proteção facial e higienize as mãos com água e sabão ou álcool em gel com frequência.

Tomar as vacinas é fundamental. Confira o seu cartão e mantenha seu quadro vacinal completo e em dia. Vacinas evitam quadros graves da doença e salvam vidas.

Acesse o informe completo: Informe Epidemiológico – 14/02

Ao sentir os sintomas da doença, antes de procurar os serviços de saúde, ligue para:

– Unidade Básica de Saúde mais próxima. (Veja os números abaixo)

– UPA: 3732-1070

– Hospital Bom Jesus: 3732-3200

UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE

  • Alto Maranhão – 3733-2158
  • Alvorada – 3731-1746
  • Basílica – 3731-7960
  • Campinho – 3732-2257
  • Centro I – 3732-1376
  • Centro II – 3731-5750
  • Cinquentenário – 3731-2371
  • Dom Oscar I e II – 3732-1946
  • Ideal – 3731-4365
  • Jardim Profeta I e II – 3732-1945
  • Jardim Vila Andreza – 3731-4365
  • Joaquim Murtinho – 3733-1483
  • Lamartine – 3731-9310
  • Lobo Leite – 3733-3160
  • Pires – 3733-5074
  • Primavera – 3731-5235
  • Residencial – 3731-2036
  • Santa Mônica – 3731-6577
  • Santa Quitéria – 3733-4041
  • Vila Cardoso – 3733-6030
  • Vila São Vicente – 3731-2860

Informes Epidemiológicos Mensais

Hoje (11) tem vacinação para crianças de 07 anos

A Secretaria Municipal de Saúde informa o INÍCIO da Vacinação de 1ª Dose para crianças com 07 anos completos
Confira o calendário e fique atento as datas de nascimento:
➡ Sexta-feira, 11/02 das 08:30 às 16h:
Público: Crianças com 07 anos completos nascidas de 1 de janeiro a 30 de abril
➡ Local:
Salão Paroquial Ingrig Myrna Maciel (Edifício Imaculada)
Praça Barão de Queluz, 27B – Centro
Documentação a ser apresentada:
ORIGINAL e CÓPIA:
• RG ou outro documento com foto;
• Comprovante de residência;
• CPF ou Cartão Nacional SUS.
✅ A criança deverá estar acompanhada de seus pais e/ou responsáveis

Lafaiete (MG) chega 135 casos/dia de Covid-19 em fevereiro; em 24h, 261 pacientes foram recuperados

A Prefeitura de Conselheiro Lafaiete (MG) através da Secretaria Municipal de Saúde e do Serviço de Epidemiologia com o compromisso de manter a população sempre a par das ocorrências ligadas ao combate ao COVID 19 informa o registro de 163 novos casos de Coronavírus em Conselheiro Lafaiete na data de hoje, 10/02, a ocupação em leitos clínicos é de 26,5% e em leito UTI de 70,5%.


Os pacientes que não necessitam de internação seguem em monitoramento e isolamento domiciliar.
Obs.: A Secretaria de Estado da Saúde é responsável pela regulação do acesso aos leitos hospitalares por meio do Susfácil. O município não tem autonomia para internar pacientes seja em leito clínico ou de Uti Covid-19 sem a regulação do mesmo.

Covid: “Pico de infecção em Minas passou”, diz secretário de Saúde

Número de mortes também deve cair em duas semanas, segundo Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG)

O pico da atual onda de infecções pela variante ômicron já passou em Minas Gerais, segundo o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti. “Ele estava projetado para 1º e 2 de fevereiro e a curva está descendo. Em algumas regiões, não está, mas nas maiores, Centro, Triângulo e Sul, está caindo bastante. Estamos descendo a curva como esperado e assim como observado em outros países”, disse, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (10). 

A projeção do secretário é que o número de óbitos também volte a cair em duas semanas, após a diminuição das internações. Mesmo com a tendência de queda, Minas registrou mais de 26 mil novos registros de Covid-19 em 24 horas nesta quinta e se aproxima de 3 milhões de casos desde o início da pandemia.

Por ora, a tendência global é de diminuição das restrições contra a Covid-19, enquanto a onda da ômicron perde força na Europa. Ainda assim, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus declarou, em janeiro, que é “perigoso” pensar que a pandemia se aproxima do fim, já que novas variantes do coronavírus podem surgir a qualquer momento. 

FONTE O TEMPO

O que muda na prática se covid virar endemia?

Ao longo das últimas semanas, países como Reino Unido, França, Espanha e Dinamarca decidiram que a covid-19 não será mais encarada com uma pandemia e começará a ser tratada como uma endemia em seus territórios.

Com isso, a doença provocada pelo coronavírus deixará de ser vista como uma emergência de saúde e muitas das restrições — uso de máscaras, proibição de aglomerações e exigência do passaporte vacinal — cairão por terra.

Embora anúncios do tipo fossem esperados, eles causaram muita confusão: em alguns casos, a endemia foi interpretada como o fim da covid — quando, na verdade, estamos muito longe disso (e é bem possível que essa doença nunca desapareça).

Mas, afinal, o que uma endemia significa na prática? Os países europeus acertaram na decisão? E será que o Brasil também vai chegar nessa mesma etapa logo mais?

Uma palavra, múltiplas interpretações

Para começo de conversa, vale esclarecer que uma endemia não é necessariamente uma boa notícia.

Embora anúncios do tipo fossem esperados, eles causaram muita confusão: em alguns casos, a endemia foi interpretada como o fim da covid — quando, na verdade, estamos muito longe disso (e é bem possível que essa doença nunca desapareça).

Mas, afinal, o que uma endemia significa na prática? Os países europeus acertaram na decisão? E será que o Brasil também vai chegar nessa mesma etapa logo mais?

Ela apenas significa que há uma quantidade esperada de casos e mortes relacionadas a uma determinada doença, de acordo com um local e uma época do ano específicas. E esses números nem aumentam, nem diminuem.

A infecção pelo herpes simples, que provoca feridas na boca e na região genital, é uma endemia. Estima-se que pelo menos dois terços da população mundial com mais de 50 anos já tiveram contato com esse vírus. Apesar de incômodo, esse quadro não está relacionado a grandes complicações ou risco de óbito.

Por outro lado, outras doenças bem mais sérias e mortais, como tuberculose, aids e malária, também são endêmicas. Só na malária, estima-se que cerca de 240 milhões de casos e 640 mil mortes aconteçam todos os anos, segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A questão, portanto, tem a ver com a estabilidade nas estatísticas relacionadas com aquela enfermidade. Quando esses números fogem do controle, a situação evolui para uma epidemia (se o problema for localizado numa região) ou para uma pandemia (caso a crise se alastre por vários continentes).

Mosquito Anopheles
Legenda da foto,Os mosquitos Anopheles são os transmissores do protozoário causador da malária, doença considerada endêmica em partes da África e das Américas

Num evento do Fórum Econômico Mundial realizado no final de janeiro, representantes de várias instituições discutiram todos esses conceitos e debateram quando a covid-19 poderia ser realmente classificada como uma endemia.

Na visão do imunologista Anthony Fauci, líder da resposta à pandemia dos Estados Unidos, endemia significa “uma presença não disruptiva sem a possibilidade de eliminação [de uma doença]”.

De acordo com a avaliação do especialista, o coronavírus não será extinto e passará, aos poucos, a afetar os seres humanos de forma similar a outros agentes causadores do resfriado comum.

Na mesma ocasião, o médico Mike Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, também bateu nessa tecla. “Nós provavelmente nunca vamos eliminar esse vírus. Depois da pandemia, ele se tornará parte de nosso ecossistema. Mas é possível acabar com a emergência de saúde pública.”

Ele também reforçou que endemia não é sinônimo de coisa boa. “Ela só significa que a doença ficará entre nós para sempre. O que precisamos é diminuir a incidência, aumentando o número de pessoas vacinadas, para que ninguém mais precise morrer [de covid]”, completou.

Retrato de Anthony Fauci
Legenda da foto,Para Anthony Fauci, a covid caminha para se tornar uma endemia e nunca deixará de existir

A hora e a vez da covid?

De um lado, os cientistas se mostram reticentes em já encarar a covid-19 como uma endemia, pela falta de parâmetros e de uma estabilidade nas notificações por um período mais prolongado.

“Isso ainda não foi bem estabelecido. Quais são os números de casos, hospitalizações e mortes pela doença aceitáveis, ou esperados, todos os anos?”, questiona a epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo.

Por outro, é inegável que o avanço da vacinação e os recordes de novas infecções impulsionadas pela ômicron nos últimos dois meses garantiram um alto nível de proteção, especialmente contra as formas mais graves da doença.

Até o momento, 53% da população mundial já recebeu ao menos duas doses da vacina. E as projeções publicadas no periódicoThe Lancet pelo Instituto de Métricas em Saúde da Universidade de Washington, nos EUA, indicam que, dado o alto grau de transmissibilidade da nova variante, metade das pessoas do planeta terão sido infectadas entre novembro de 2021 e março de 2022.

“É muita gente com imunidade”, avalia o infectologista Julio Croda, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).

Esse aprimoramento das defesas do organismo garante uma proteção contra as complicações da covid, relacionadas à hospitalização e morte, ao menos por alguns meses.

“Graças à imunidade obtida pela vacinação e, em menor grau, pelo alto número de infecções, a doença se tornou menos letal”, diz Croda, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

A covid chegou a ter uma taxa de letalidade de 1 a 2%. Atualmente, esse número está em 0,25%, segundo alguns registros nacionais e internacionais.

Croda explica que essa taxa de 0,25% ainda é o dobro do que ocorre na gripe (que fica em 0,1%). Mesmo assim, houve uma diminuição de praticamente dez vezes na mortalidade por covid que era observada há poucos meses.

E isso, mais uma vez, tem a ver com a imunidade adquirida ao longo desse tempo.

Os vírus e nosso sistema de defesa fazem um verdadeiro cabo de guerra. Quando surge uma doença infecciosa nova, a corda pende com mais frequência para o patógeno, já que nossas células imunes não fazem a menor ideia de como combater a ameaça.

Com o passar do tempo — e a disponibilidade de vacinas seguras e efetivas — o jogo começa a virar, e o sistema imunológico “aprende” a lidar com o inimigo. Nessa situação, mesmo que o agente infeccioso consiga invadir o organismo, suas consequências tendem a ser menos preocupantes.

Ilustração do coronavírus
Legenda da foto,Imunidade obtida contra o coronavírus por infecções anteriores e pela vacinação garante uma covid menos grave na maioria dos casos

É justamente isso que parece estar acontecendo com a covid: dois anos e poucos meses depois dos primeiros casos, o número de indivíduos com algum nível de proteção é suficientemente alto para que não ocorra mais um aumento na demanda por leitos no mesmo patamar das outras ondas, em que o sistema de saúde chegou a entrar em colapso.

Resumindo, pelo observado até agora, a covid ainda não pode ser comparada com a gripe e está longe de ser um resfriado comum, mas parece caminhar para chegar mais próximo disso algum dia no futuro.

O que muda na prática?

Os países europeus que já classificam a covid-19 como uma endemia em seus territórios acabaram (ou acabarão em breve) com a maioria das restrições que marcaram os últimos 24 meses.

De forma geral, não haverá mais necessidade de uso de máscaras em locais fechados, não será preciso mostrar o comprovante de vacinação e as aglomerações estarão completamente liberadas.

Num discurso recente no Parlamento do Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson disse que, “conforme a covid se tornar endêmica, nós precisaremos substituir as requisições da lei pela orientação, de modo que as pessoas infectadas com o vírus sejam cuidadosas umas com as outras”.

Boris Johnson
Legenda da foto,No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson defende que as restrições legais para conter a covid sejam substituídas por conselhos e orientações

Maciel entende que alguns cuidados devem permanecer mesmo assim, ainda que a situação fique menos grave.

“O vírus vai continuar circulando. Mesmo que as medidas não sejam mais obrigatórias, é importante que todos tomem alguns cuidados quando necessário”, orienta.

A epidemiologista avalia que é preciso empoderar e ensinar as pessoas, para que elas avaliem o risco de cada situação e tomem as medidas para proteger a si e a todos ao redor.

Um sujeito com sintomas de gripe ou covid, por exemplo, deve trabalhar de casa, se possível, para não colocar em risco os demais colegas. E, caso tenha que sair, ele pode usar máscara para, assim, evitar a transmissão do vírus para os contatos próximos.

“É a mesma coisa que acontece com a infecção pelo HIV. Ter uma relação sexual sem preservativo te coloca numa situação de risco, mesmo que essa doença seja considerada hoje uma endemia”, compara.

Que fique claro: o alívio nas políticas restritivas não significa que elas foram inúteis ou não deveriam ter sido adotadas no passado. É consenso entre os especialistas que todas essas medidas salvaram muitas vidas num momento em que não existiam outros meios para barrar a infecção e suas complicações.

Hoje em dia, possuímos ferramentas testadas e aprovadas — vacinas e remédios — para lidar com a covid e torná-la menos ameaçadora para a grande maioria da população.

E, claro, caso surja uma nova variante agressiva e com capacidade de escapar da imunidade, será preciso instaurar novamente muitos desses cuidados preventivos que começam a ser abandonados em certas partes do mundo.

Além das questões relacionadas à prevenção, outra mudança significativa da endemia envolve a vigilância: a forma como os casos são detectados e notificados é bem diferente.

Durante os últimos dois anos, muitos países fizeram uma busca ativa de infectados, mesmo aqueles que nem apresentavam sintomas típicos da covid. Foram montadas tendas de testagem em diversos locais e kits de diagnóstico eram distribuídos gratuitamente (ou vendidos por um preço baixo) para os cidadãos — no Brasil, foram poucas as cidades ou os Estados que lançaram uma política nesses moldes.

Aqueles indivíduos que testavam positivo eram então monitorados e orientados a ficar em quarentena. Na sequência, as pessoas com quem eles tiveram contato próximo nos dias anteriores eram comunicadas a também buscar os exames.

Durante uma pandemia ou uma epidemia, essa estratégia permite cortar as cadeias de transmissão do vírus na comunidade e evita que a situação cresça e gere uma bola de neve, que desemboca em um aumento massivo de hospitalizações e mortes.

Com a endemia, todo esse amplo programa de testagem, isolamento e rastreamento de contatos deixa de fazer sentido.

“Passa-se então para um modelo de vigilância sentinela, em que não é necessário testar todo mundo que apresenta sintomas de infecção respiratória”, explica Croda.

“Um sistema que concentre os testes nos hospitais ou nos ambulatórios de atenção primária é custo-efetivo e ajuda a identificar padrões no número de casos.”

Testagem de covid-19 no Rio de Janeiro
Legenda da foto,Durante a endemia, nem todos os casos suspeitos precisam necessariamente de testes

“Se a vigilância notar um novo crescimento em determinada região, é possível intervir cedo, antecipando campanhas de vacinação ou disponibilizando mais testes para aquele local”, completa o especialista.

Ainda nesse contexto endêmico, a ciência ainda não sabe ao certo como será o futuro da vacinação contra a covid. Será que todos deverão tomar uma quarta dose? Ou haverá a necessidade de reforços anuais, a exemplo do que ocorre com a gripe?

“É possível que precisemos de vacinas adaptadas de acordo com o surgimento de novas variantes, para proteger principalmente os grupos mais vulneráveis, como idosos, pacientes imunossuprimidos e crianças”, antevê Croda.

É cedo para decretar uma endemia?

As decisões tomadas por alguns países europeus geraram algumas controvérsias no meio acadêmico.

Num artigo publicado na revista especializada Nature, o pesquisador Aris Katzourakis, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, criticou o que ele considera um “otimismo preguiçoso”.

“Como virologista evolutivo, fico frustrado quando gestores públicos invocam a palavra ‘endemia’ como uma desculpa para fazer pouco, ou não fazer nada. Existem mais coisas que podem ser feitas do que aprender a conviver com rotavírus, hepatite C ou sarampo endêmicos”, escreveu.

Katzourakis também diz que é um erro pensar que a evolução dos vírus sempre os tornam mais “bonzinhos”.

“Lembre-se que as variantes alfa e delta são mais virulentas que a versão original detectada em Wuhan, na China. E a segunda onda da pandemia de gripe espanhola em 1918 foi muito mais mortal que a primeira”, argumenta.

“Pensar que a endemia é leve e inevitável não é apenas errado, mas perigoso: deixa a humanidade à mercê de muitos anos da doença, incluindo ondas imprevisíveis e novos surtos. É mais produtivo considerar o quão ruim as coisas podem ficar se continuarmos a dar ao vírus oportunidades de nos enganar. E daí então podemos fazer mais para garantir que isso não aconteça”, finaliza.

Para Croda, só o tempo dirá se a decisão dos países europeus foi certa ou errada. “Isso depende muito de fatores que não controlamos. Nesse meio tempo, pode surgir uma nova variante extremamente contagiosa, com escape imunológico e maior risco de hospitalização e óbito”, especula.

“É justamente para evitar que isso aconteça que precisamos ofertar vacinas para todos, especialmente para aqueles que ainda não tomaram nenhuma dose. Essa deveria ser a prioridade número um do mundo inteiro”, acrescenta.

CoronaVac sendo aplicada em criança chilena
Legenda da foto,Vacinação é primordial para diminuir o risco de complicação da covid

Maciel concorda. “Quando a transmissão está muito alta, tudo pode acontecer, inclusive o surgimento de novas variantes.”, alerta.

“E o Brasil, além de seguir com a vacinação, precisa ampliar o acesso aos tratamentos contra a covid, como os anticorpos monoclonais e os antivirais, que já são usados em outros países”, complementa.

Onde o Brasil se encaixa nesse debate?

Por ora, ainda é muito cedo para falar de endemia no nosso país, explicam os especialistas. Estamos na crista da onda da ômicron, com recordes no número de casos e um aumento expressivo nas hospitalizações e nas mortes por covid durante os últimos dias.

O Instituto de Métricas em Saúde da Universidade de Washington, nos EUA, projeta que o Brasil deve atingir o pico de óbitos relacionados a essa nova variante no meio de fevereiro. A partir daí, os números devem cair novamente e se estabilizar durante o mês de março.

Portanto, estamos alguns passos atrás do que é observado em outras partes do mundo, onde os números já estão se estabilizando.

Para garantir uma situação mais tranquila por aqui, também é preciso ampliar a cobertura vacinal com a terceira dose. No momento, 23% dos brasileiros tomaram o reforço, número muito aquém do ideal. Vários estudos já mostraram que essa aplicação do imunizante é essencial para proteger contra a ômicron e seus efeitos mais graves no organismo.

Croda entende que, com o passar do tempo, vários países devem seguir os passos dos europeus e começarão a encarar a covid sob uma nova ótica.

“E a América do Sul pode até ter uma vantagem nisso, já que é o continente com a maior cobertura vacinal contra a covid do mundo”, compara.

“Assim que a onda da ômicron passar, podemos ficar numa condição muito melhor para diminuir as restrições”, diz.

Profissional de saúde olha pra paciente em leito
Legenda da foto,Piora nos números de hospitalização e óbitos por covid acende o sinal de alerta no Brasil

Para entender como os gestores públicos enxergam essa discussão e se já há algum planejamento para que o país entre nessa fase de transição, a BBC News Brasil entrou em contato com o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) e com o Ministério da Saúde.

Por meio de uma nota de esclarecimentos, o Conass declarou que “o avanço da vacinação no Brasil, que hoje já alcança mais de 75% do público-alvo vacinado com as duas doses, é o primeiro passo para que o país caminhe para superar a pandemia da covid-19, porém, a introdução da variante ômicron mostrou a complexidade do enfrentamento do vírus e sua alta capacidade de mutações.”

“A rápida transmissão desta variante criou uma nova pressão na rede assistencial e o aumento de óbitos. Não é possível considerar de caráter endêmico uma doença que traz esse peso na assistência e que tenha essa alta morbimortalidade. Superar a pandemia não quer dizer que não teremos mais casos e óbitos pela covid-19, mas não temos parâmetros ainda para saber o quanto de casos e óbitos serão considerados esperados e, dessa forma, tratados como endêmicos”, continua o texto.

“As atenções e os esforços atuais devem estar voltados para garantir a ampliação e manutenção dos leitos clínicos e UTI covid, além da intensificação das campanhas de incentivo para que todos os brasileiros completem o esquema vacinal, incluindo a dose de reforço. Ainda não é o momento para baixar a guarda e decretar o controle da pandemia no Brasil”, conclui o Conass.

O Ministério da Saúde não enviou resposta até a publicação desta reportagem.

FONTE BBC NEWS

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