Projeto pode criar novo feriado em Minas Gerais; veja data e o motivo
Um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) pretende criar mais um feriado estadual. A data escolhida é o 15 de setembro e a homenagem se dá à Padroeira do estado, Nossa Senhora da Piedade.
O projeto é assinado pelo deputado estadual Leleco Pimentel (PL), que convocou uma audiência pública para debater o assunto na Comissão de Cultura da ALMG, nesta quarta-feira (8). Na reunião, o parlamentar defendeu a criação do feriado como forma de incentivar a visitação de religiosos ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade, localizado na Serra da Piedade, em Caeté, na região metropolitana de Belo Horizonte.
O texto do projeto apresentado pelo deputado diz que em 20 de novembro de 1958 o então Papa João XXIII formalizou a consagração da figura religiosa como padroeira de Minas Gerais, o que foi lembrado, na audiência pública, pela representante da Pastoral Afro-Brasileira, Nanci Menezes. Ela afirmou que o estado está 66 anos atrasado na criação da data comemorativa.
Durante a reunião, os deputados lembraram que o Santuário recebe mais de 500 mil visitantes por ano, mas sofre com ameaça de mineradora e degradação do meio ambiente em seu entorno.
Em 1968, reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” alertava: “O Brasil terá de multiplicar por dez a sua atual produção de alimentos, ou será forçado a parar o surto de industrialização por falta de divisas para pagar o crescente volume de importação de alimentos, segundo relatório apresentado pelos delegados brasileiros à IV Conferência Latino-Americana de Produção Alimentar, que se realizou em Buenos Aires”.
Passou meio século, e o Brasil, além de se tornar autossuficiente, passou a ser fonte de segurança alimentar para outros países, liderando as exportações mundiais de carne bovina, frango, soja, laranja, café e cana-de-açúcar, destacando-se também entre os maiores produtores de algodão, milho, carne suína, tilápia, frutas e leite. O agro responde por 27% do PIB do país, 20% da população ocupada e 47% das exportações totais.
“Há 50 anos estávamos em situação iminente de insegurança alimentar. Para um país, 50 anos não é nada, é uma geração. É como se tivéssemos ganhado o hexa. Batemos França, Estados Unidos, batemos todo mundo. E o brasileiro precisa saber disso. A gente precisa contar essa história para tornar o agro uma paixão nacional, como é o futebol”, defende Ricardo Nicodemos, presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA).
Marca Agro do Brasil vai mostrar conquistas pouco valorizadas
Nicodemos está à frente do projeto Marca Agro do Brasil, que deve ser lançado nos próximos meses e terá como o principal objetivo “despertar os sentimentos de admiração e orgulho do brasileiro pelo agro do seu país”.
Uma pesquisa realizada em 2022 sobre as percepções do brasileiro quanto ao agronegócio mostrou que o setor ainda tem muita coisa a contar e mitos a desconstruir. Apesar de estar entre os setores mais admirados do país, acendeu a luz de alerta o fato de que 30% da população se declara desfavorável ao agro, e, desses, 51% são jovens entre 15 e 29 anos.
“Ou seja, é a população que mais faz barulho, que é mais ativa nas redes sociais, que será líder no dia de amanhã. Não vamos conseguir mudar essa chave da noite para o dia, isso é gradativo. Mas é responsabilidade do setor se posicionar e fazer essa construção. Vamos fazer um projeto de construção de marca, com ações na escola, no shopping, na praça, no supermercado, na TV, no rádio, na mídia externa”, sublinha Nicodemos.
A ideia é trabalhar com informações, dados objetivos e visitas a propriedades e agroindústrias para desmistificar estereótipos arraigados, quer seja a imagem do personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato – um agricultor miserável, passivo e preguiçoso – quer seja o outro extremo, moda mais recente, que retrata o agricultor em clipes musicais como ricaço, jogando dinheiro para cima e ostentando em picapes de luxo.
Contar a história de milhões de pequenos e médios produtores
“Vai do oito ao oitenta. Cria-se uma outra imagem que não considera que temos cerca de 5 milhões de propriedades no Brasil, que mais de 95% são de pequenos e médios produtores, e que enfrentam grande dificuldade no dia a dia para prover o alimento. Mas isso não chega à sociedade. Precisamos contar as histórias de superação. Daquele cara que morava numa casinha de barro e sapé, e que hoje mora numa casa de três dormitórios, simples, mas conseguiu colocar os filhos na escola, tem uma vida mais confortável, mas não é rico. É aquele que produz a alface que você come no hambúrguer, enquanto você está metendo o pau no campo”, explica o publicitário.
O projeto Marca Agro do Brasil pretende produzir conteúdos que atendam, também, a um público externo, de outros países, que desconhece ainda mais os alicerces da agropecuária nacional. O conselheiro para Mudanças Climáticas, Meio Ambiente e Energia da Delegação da União Europeia no Brasil, Laurent Javaudin, foi apresentado ao projeto durante conversa com jornalistas e integrantes da ABMRA.
Javaudin apontou que a imagem do agronegócio brasileiro na Europa está muito ligada ao discurso de grupos, ativistas, ambientalistas, revistas e canais de televisão que só focam no desmatamento e nas queimadas na Amazônia.
Sustentabilidade do agro brasileiro ainda é desconhecida
“Ninguém fala do Código Florestal, dos esforços de conservação dos produtores brasileiros, que têm entre 20% e 80% de áreas conservadas. Essas políticas não são explicadas para os cidadãos europeus. Já moro no Brasil há dois anos, e agora entendi. Mas é preciso tempo, leitura, palestras, falar muito com produtores. Além disso, tem muita fake news, informação parcial”, observa Javaudin.
O conselheiro europeu sugere uma campanha conjunta, Europa e Brasil, visando aparar arestas e demonstrar a sustentabilidade da agropecuária brasileira. “O fato é que o Brasil é líder mundial de exportação, isso significa que em outras partes do mundo a gente pode comer graças aos produtores brasileiros. O papel do Brasil no sistema alimentar mundial não é fazer um agro orgânico, é permitir que o mundo com 9 bilhões de pessoas possas comer”, diz.
Em contrapartida, diz Javarudin, “gostaria muito que o governo brasileiro nos ajudasse a explicar bem as regras que preparamos para o nosso mercado, de maneira que as cadeias de valores possam ter continuidade e continuem sem problemas nos próximos anos”.
O projeto Marca Agro Brasil pretende, segundo Nicodemos, da ABMRA, ajudar a preencher essa lacuna. “Assim que lançarmos a plataforma no Brasil, ela poderá ser lançada na Europa, nos Estados Unidos e em outros países. Porque ela foi pensada como marca global. É como se estivéssemos trabalhando com uma marca internacional. O agro não deve ter cor nem partido. Deve ter autossuficiência para criar sua narrativa e tomar as rédeas de sua história”, conclui.
FONTE GAZETA DO POVO
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