Belo Vale: produção baixa e avanço de doenças marcam fim da Tangerina Ponkan

Belo Vale foi o maior produtor de tangerina ponkan do estado de Minas Gerais sendo que esta cultura e o negócio gerou importância e impacto na socioeconomia local. A partir do ano passado, e agora mais acentuadamente, com a queda na produção de frutos e o avanço de contaminação com doença, constatamos o fim de um período de prosperidade.

Com cerca de dois milhões de plantas que ocupam 9% da área do município, a cadeia produtiva da ponkan gerou trabalho e renda para os produtores e trabalhadores rurais. Esta atividade econômica PRODUZIU, ao longo dos últimos 30 anos, muita riqueza para o município. Riqueza esta que foi bem distribuída e impulsionou o comércio e o desenvolvimento local.

Belo Vale se destacou pela grande produção e também pela boa qualidade das frutas, o que era reconhecido em todas as regiões do Brasil. Este destaque foi consequência exclusiva do trabalho e dedicação dos citricultores – produtores e trabalhadores.

A produção de mudas aqui mesmo, por viveiristas idôneos, responsáveis e experientes, possibilitou a seleção de material genético ao longo de mais de 30 anos com consequente obtenção de mudas/plantas com boa produtividade e grande rusticidade – adaptação ao ambiente. Com a crescente expansão da cultura na década de 1990 os viveiristas locais não conseguiram mais atender à demanda de mudas e foi iniciado a compra de mudas de outras regiões do estado. Estas mudas, muito precoces e produtivas inicialmente se mostraram menos rústicas e mais exigentes em tratos culturais e com vida útil menor. Também esta importação de mudas, sem o devido controle do órgão de fiscalização, foi responsável pela chegada da doença greening (através de mudas contaminadas). A partir da constatação oficial do greening no município de Belo Vale, em 2016 (um ano após constatação não oficial e dois anos após constatação não oficial no município de Bonfim) os viveiros de produção de mudas a céu aberto foram proibidos e as novas mudas passaram a vir então de outra região do estado.

Esta fatídica safra de 2022, tem apresentado uma dura realidade: o fim da cultura/produção de tangerina ponkan como atividade econômica. As causas desse declínio são basicamente o aumento de custo de produção e a crescente contaminação das planta com a doença greening.

Os custos de produção, para o adequado manejo do pomar com boa produtividade, está muito elevado e além da capacidade de investimento da maioria dos produtores. Alguns insumos usualmente aplicados na cultura tiveram aumento de até 200% o que fez com que grande parte dos produtores parassem de investir. Como consequência, os pomares ficaram sem a devida nutrição/adubação, sem o devido controle do mato (plantas espontâneas competidoras) e ainda sem o importante controle de pragas e doenças. Pomares com pouco ou nenhum investimento, em curto período (2 3 anos) tem a sua produtividade comprometida.

Há de se ressaltar que, com tamanha área produtiva, a cultura da tangerina (citricultura) se tornou quase que uma monocultura em Belo Vale com consequentes impactos ambientais de pragas e doenças (desequilíbrio) e crescente necessidade de utilização de defensivos, a maioria agroquímicos.

A contaminação de plantas e pomares com a  doença greening está muito avançada e muito acelerada. As plantas contaminadas ficam com a produção comprometida/reduzida e em pouco tempo definham, se tornando improdutivas. O manejo do greening é exigência legal e todos os pomares/produtores devem aplicar medidas para controle da doença e do psilideo (inseto transmissor). A prevenção da doença se dá com o monitoramento e controle eficiente e regionalizado do inseto vetor/transmissor através de aplicação de inseticidas químicos ou biológicos. Isso também com custos elevados e com baixa adesão de produtores. Como essa doença bacteriana não tem controle, as plantas contaminadas devem ser eliminadas para evitar novas contaminações. Apesar de ser exigência legal, a maioria das plantas contaminadas não tem sido eliminadas pelos produtores e o órgão responsável pela defesa sanitária vegetal não tem acompanhado essa questão básica aqui em Belo Vale. Dessa forma as fontes da doença e os vetores/transmissores tem um crescimento rápido e acentuado, com grande pressão da praga. Por isso o controle individual (pomar individualizado) não tem sido eficaz. Também o órgão de fiscalização responsável pela defesa sanitária vegetal não realiza sequer vistoria em pomares, transferindo a responsabilidade ao produtor. Os produtores promovem vistorias e geram relatórios, as suas expensas e sob pena de serem multados (como infratores), entregando as informações ao órgão de fiscalização. Estas informações, no entanto, não são aplicadas/transformadas em algum instrumento ou ação que agregue à defesa vegetal (prevenção, controle e erradicação).

Assim como em anos anteriores, a 8ª Festa da Mexerica de Belo Vale, não envolve os produtores. Promovida pela Prefeitura e com grandes atrações culturais de mega Shows, o evento nem sequer aborda a questão da mexerica ponkan, renegando a citricultura à própria “sorte”. Infelizmente.

Pequena produção e baixa qualidade dos frutos desta safra não atraiu os ávidos compradores de anos passados. Os produtores acompanham atônitos essa profunda mudança de cenário, vislumbrando o duvidoso futuro pós tangerina. Alguns produtores abandonaram os pomares, outros até já eliminaram, partindo para outra atividade produtiva.

Essa é uma questão que deve trazer profundas mudanças na socioeconomia de Belo Vale e que portanto de ser tratada, mesmo que tardiamente, com a importância e responsabilidade requerida.

Marcos Virgílio Ferreira de Rezende

Produção Integrada de Citros

Engenheiro agrônomo

Responsável Técnico

CREA-MG 64.493/D

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