Avelina Maria Noronha de Almeida
Em que residência pernoitou D. Pedro II em Queluz?
Um ponto controverso da nossa História…
No artigo anterior, sugeri que, pelos trechos do diário de D. Pedro II, ele poderia ter se hospedado na casa de Washington Rodrigues Pereira e disse então ser a casa dele na Praça Tiradentes, porém, consultando o livro “O QUE MAMÃE ME CONTOU” de Marina Maria Lafayette de Andrada Ibrahim achei que, em 1881, Washington ainda não morava naquela época em Queluz
- Marina Maria Lafayette de Andrada Ibrahim
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Vamos a trecho do livro de Marina:
Palavras de Corina, mãe de Marina, falando de seu tio Washington na página 334 do livro: “O tio foi Juiz de Direito em Queluz. Em carta de 22 de setembro de 1884, Papai comunicou-lhe a nomeação”
JULGUEI ERRADAMENTE SER a casa em que ele residiu, que naturalmente era a casa da família da família Rodrigues Pereira em Queluz, NA PRAÇA TIRADENTES NÃO ESTÁ DE ACORDO COM UMA CITAÇÃO DO LIVRO, à pagina 336: “ A casa da família, na cidade de Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete, ficava num plano inferior ao alinhamento da rua. Mas era agradável, com uma minúscula horta e um jardinzinho ao lado.” NÃO TEM NADA A HAVER COM A CASA QUE JULGUEI SER.
Isto também já não importa neste estudo porque, NESTE ARTIGO, FICA TOTALMENTE ESCLARECIDO ONDE FICOU HOSPEDADO D. PEDRO II quando esteve em Queluz em 1881.
Este esclarecimento, devo-o ao historiador PAULO HENRIQUE DE LIMA PEREIRA, a quem agradeço muito por sua colaboração. Paulo Henrique se caracteriza por ser um pesquisador de grande perspicácia e que se aprofunda poderosamente nos assuntos que pesquisa. ASSIM, ELE ME ENVIOU UMA INFORMAÇÃO PRECIOSA, que ele encontrou em antigo exemplar do Jornal do Comércio E QUE RESOLVE COMPLETAMENTE A POLÊMICA “EM CASA DE QUEM” PERNOITOU D. PEDRO II EM NOSSA CIDADE.
Imagem da Internet PAULO HENRIQUE
PAULO HENRIQUE DE LIMA PEREIRA é um HISTORIADOR residente em Congonhas, graduando em História, da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia (ASBRAP). Membro Correspondente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, que escreveu os excelentes livros: “Venenos adocicados – A trajetória do poeta e jornalista Djalma Andrade” e “Urzedo e a medicina no Brasil Imperial: o pioneirismo de um congonhense”.
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A ELE MEUS AGRADECIMENTOS PELA COLABORAÇÃO, que lança luzes sobre a polêmica e que vou transcrever agora, as quais foram estampadas em um jornal muito respeitado na época, no Rio de Janeiro:
“Jornal do Comércio, 03 de abril de 1881, relatou:
Viagem Imperial — Escreve-nos o nosso correspondente:
Queluz, 29 de março, 10 horas da noite […] Suas majestades partiram da fazenda do Rincão hoje às 6 horas da manhã, S. M. a Imperatriz foi em liteira, e assim, é fora de dúvida, continuará a viajar.
Suas majestades seguiram até o lugar denominado Engenho, onde a câmara municipal de Queluz mandara preparar o almoço. Da fazenda do Rincão até ao arraial de Carandaí acompanharam Suas Majestades o engenheiro chefe do prolongamento Dr. Ewbank da Câmara e seus auxiliares Henrique Lisboa, Latif [?] e Alfredo Lisboa, e no referido arraial pediram permissão a Suas Majestades para regressar. Ali a comissão da Câmara de Queluz apresentou a Suas Majestades suas homenagens. Ao pouso do Sr. Felipe Ferrão chegaram Suas Majestades às 9 ½.
Depois de uma viagem de 7 léguas a cavalo, subindo e descendo serras, como as das Taipas, Paraopeba e outros, chegaram Suas Majestades a esta cidade às 5 horas da tarde, acompanhadas por mais de 100 cavalheiros, tanto de sua comitiva como vários moradores de Queluz, que percorreram algumas léguas para ir ao encontro dos augustos viajantes.
Por todo o caminho encontrava-se muita gente à espera de Suas Majestades para saudá-los. Uns perguntaram como era Sua Majestade, se velho ou moço, outros se era alto ou baixo. A alguns perguntei se nunca tinham visto um retrato do Imperador. Responderam-me que não e acrescentavam que tinham extraordinária vontade de vê-lo. Um destes encontrei no Lugar Ribeirão do Inferno (que pelo nome não perca), velho de 88 anos, mais forte do que muitos rapazes, e que dizia desejava tornar a ver o Imperador, que só o vira pequeno. Sua Majestade falando-lhe, dirigiu-lhe frases de benevolência.
À hora que disse acima, entraram Suas Majestades em Queluz. A cidade estava toda embandeirada e enfeitada com arcos. É impossível descrever o entusiasmo que houve ao chegarem os augustos viajantes. O adro da matriz, que é grande, estava completamente cheio de povo, não contando as pessoas que se achavam dispersas pelas ruas.
Queluz é uma cidade comprida, quero dizer, terá talvez um quarto de légua de extensão, mas sua largura não é correspondente a esse comprimento. Foi criada freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Queluz por decreto de 14 de julho de 1832 e elevada a vila desde 1791 pelo capitão general Visconde de Barbacena. Era conhecida antigamente pelo nome de arraial dos Carijós. Sua elevação a cidade data de poucos anos e hoje é cabeça da comarca do mesmo nome. Dista de Ouro Preto 9 ½ léguas e está situada a 932 metros acima do nível do mar. É uma cidade bonita e de um bom clima.
SUAS MAJESTADES HOSPEDARAM-SE EM CASA DO FAZENDEIRO FRANCISCO DE ASSIS BANDEIRA e os seus semanários e outras pessoas da comitiva em casa da Sra. Baronesa de Queluz. Toda a hospedagem corre por conta da câmara municipal.
Antes de jantar, S. M. o Imperador ainda visitou a casa da câmara, a cadeia e as escolas públicas. Acham-se aqui os engenheiros Francisco Bicalho, João Ferraz, Albino da Rocha Paranhos, A. S. Pires Ferreira, Frederico Smith de Vasconcelos, S. Gustavo Tamm, Almeida Portugal, Andrade Pinto, Aguiar e Childerico Pederneiras, engenheiros da 3ª seção do prolongamento da estrada de ferro D. Pedro II. Estão todos bons.
Tanto Suas Majestades como sua comitiva gozam saúde, o que não impede que todos se reconheçam cansados com a viagem forçada que se tem feito. Até aqui já se tem feito 13 léguas.
Alguém da comitiva e do paço, ao entrar hoje em Queluz, parecia mais um embrulho que vinha em cima do animal do que uma criatura. Calculem que regalo vai isto ser! Partimos amanhã às 6 horas da manhã para Ouro Preto e temos de atravessar, além de outras, a grande serra do Ouro Branco, cujo alto denominado de D. Vicência está a 1.260 metros sobre o nível do mar, segundo Gerber.
FICA, ASSIM, RESOLVIDO TOTALMENTE EM CASA DE QUEM D. PEDRO II PERNOITOU… só resta resolver onde seria esta casa e falarei sobre isto no próximo artigo.